Novas oportunidades, amores bandidos, despedidas e o frio abraço da morte…

Cá chegamos ao final de mais uma temporada e é com uma mistura de melancolia e esperança que nos deparamos com o destino dos personagens. Shameless mostra que é capaz de nos proporcionar uma hora de comédia e drama, fazendo-nos rir, refletir e sentir, tudo ao mesmo tempo. Esperemos que o reconhecimento aos atores, escritores e toda a equipe técnica aconteça na forma de premiações, audiência e renovações.

O que dizer de cada personagem... Vejamos.

Fiona e o emprego novo


Como mencionei na review passada, a questão do fim do serviço temporário de Fiona foi abordada. Convenientemente, a empresa World Wide Cup está contratando e isso leva nossa heroína a se deparar com mais um obstáculo: como conseguir o tão cobiçado emprego.

Se fosse no Brasil, suponho, haveria uma boa chance de ela ser contratada diretamente, pois é comum contratar-se um funcionário que já está lá integrado à equipe e dando certo. E por ela não ter um currículo impressionante, a empresa poderia oferecer-lhe um salário, digamos não tão alto quanto pagaria a um funcionário experiente. Mas o fato é que ela não tem nem experiência, muito menos formação acadêmica. E Mike, seu supervisor bonitinho, é seguidor do velho adágio: amigos, amigos, negócios à parte.

Para se ascender socialmente e passar a integrar o mundo dos grandes negócios (menos que no fim se trate apenas de vendas por telemarketing), é preciso currículo acima de tudo. Ela ainda chegou a insinuar que sua rejeição teria a ver com o que aconteceu entre ela e Mike no acampamento, mas qualquer flerte juvenil que eles tiveram agora desaparece diante de um duro processo seletivo no qual Mike nem é quem dá a última palavra na seleção.

Quando Mike sugeriu que se ela tivesse uma venda na bagagem, ela teria chances, eu gelei. Esse é um esquema de picaretagem muito usado no Brasil, em que as empresas acenam com a possibilidade de um emprego se o candidato vender algo. Claro que o coitado paga com seu dinheiro. E, muitas vezes, a oportunidade nem existe de verdade. Mas, Fiona teve a coragem (ou ingenuidade) de literalmente pagar para ver e, usando o presente de Jimmy, comprou seu ingresso na empresa, ainda que sob experiência por duas semanas. Estou sinceramente torcendo para que a coisa dê certo para ela. Acredito que esse sentimento é geral entre os que assistem á série.

O adeus a Jimmy


O personagem de Jimmy parece ter mesmo terminado seu ciclo, embora eu ache que ele reaparecerá, pois os roteiristas encontrarão novas histórias para ele. Mas esse capítulo para ele se encerrou. Como disse Beto, o assecla brasileiro mafioso, “Jimmy seguiu em frente.” Disse tudo e não disse nada. Aliás, nem dá para saber se o dinheiro veio do Jimmy mesmo, ou se foi prêmio de consolação do Beto. E nem se a despedida “ele disse que não é bom o suficiente para você” foi dita por Jimmy ou se é a opinião de Beto.


Ao que tudo indica, Jimmy virou comida de peixe no Lago Michigan. Mas pode muito bem ter sido forçado a voltar ao Brasil para pajear a insuportável Estefania, pois parece-me que, de acordo com as leis de imigração americanas, isso facilitaria a volta dela aos EUA. Claro que é especulação. Até segunda ordem, a saga dos Gallaghers segue sem Jimmy. E Fiona, de coração partido, e com uma bolada de dinheiro, sabe que tem que partir para outra.

Lip e a formatura


A formatura no ensino médio, por incrível que pareça, foi um dos maiores eventos na vida dos Gallaghers. Mas será que Lip vai ter o bom senso mesmo de ir, de fato, para o MIT agora que foi selecionado? Sinceramente, eu não apostaria todo meu dinheiro nisso. Como já disse Ian, ele é burro demais para alguém tão inteligente. Pelo menos ele está, até segunda ordem, livre dos amores bandidos Karen e Mandy. Foi bonito ver como ele agradeceu àquela maluca e, por um momento, fiquei com medo que ele se deixasse envolver por ela novamente, mas ele seguiu em frente. O fato é que os roteiristas não podem deixá-lo na mesma, mas também não podem transformá-lo num nerd comportadinho do MIT. O que farão com ele é um desafio interessante.

Ian sendo tudo o que ele pode ser


"Seja tudo o que você pode ser" é o lema do exército americano e é para lá que vai Ian. Foi uma solução radical para uma desilusão amorosa, o que mostra que ele não é tão maduro quando aparenta. Afinal, o relacionamento com Mickey, marginal de carteirinha e gay homofóbico, não teria futuro algum mesmo. Mesmo assim, foi comovente ver como Mickey quase que conseguiu pedir para ele ficar, e ainda chorou uma lágrima ou duas.

Agora talvez Ian suma da trama na próxima temporada por estar alistado, voltando em algum momento por algum motivo, ou então sua farsa (estar usando a identidade de Lip) será descoberta. Mas duvido que fique quatro anos fora, ou que a série passe a mostrar sua vida no Afeganistão...

Debbie e seus dentes


Debbie foi o grande desperdício da temporada. A menina Emma Kenney é excelente atriz, mas o mais significativo que fez foi preocupar-se com o fato de precisar de aparelho nos dentes e, no fim, preocupar-se com o destino do pai. Acredito que a atriz vai mesmo ganhar aparelho, então tiveram que inserir a ideia no show. Mas não precisava dominar seu personagem desse jeito. Ela pode fazer muito mais.

Carl e a cura pelos raios solares


Muito tocante a cena em que Carl sai no meio da noite para raspar a cabeleira do pai. Afinal, se os raios do sol curaram seu câncer, também curarão a cirrose de Frank. Perfeitamente lógico, não é? Isso faz sentido, pois Carl idolatra seu pai como se ele fosse o próprio Superman, que, como se sabe, retira sua vitalidade dos raios de um sol amarelo. É pena que o ator seja tão limitado mesmo.

Veronica, mamãe e Kevin: o triângulo familiar


Enfim terão o tão sonhado filho. O melhor de tudo foi descobrir que Carol já havia ficado grávida de Kevin na primeira vez, mas que fingiu que a gravidez “não pegou” para continuar transando com Kevin. Agora como ficará esse triângulo? Vale a pena acompanhar para saber.

Karen sendo despachada para Sedona


Pobre Karen agora é só um brinquedo quebrado. Vai para o Arizona e nem sabe que está indo, ou o que farão com ela. Para uma comédia, é uma situação que não traz humor nenhum, pois por mais que o personagem não fosse querido, o que lhe aconteceu é uma tragédia. Mas pelo menos ela está cercada por pessoas que a amam, ainda que Jody seja um tarado sexual... Talvez ela melhore e apareça no fim da próxima temporada, ou na próxima.

Sheila descobrindo o que fazer


A melhor definição de Sheila foi dada por Lip, que ao vê-la na comemoração de sua formatura perguntou para Fiona: “Mas o que é que a Sheila está fazendo aqui mesmo?” Basicamente foi um personagem que só encontrou propósito em outros personagens. E agora está sozinha. Mas pelo menos inventaram que ela agora é vendedora de artigos eróticos, então talvez tenhamos algumas cenas fortes e engraçadas com Sheila a esse respeito na próxima temporada.

Frank: pare de beber ou morra


Por último, Frank. Os roteiristas não demoraram em colocar para trás a história da cadeia e rapidamente introduziram a questão de sua saúde delicada. Sua ligação instantânea com Lip (a maneira como ganhou dinheiro e como de repente pai e filho se tornaram grandes amigos) foi forçada pelo fato da temporada estar terminando. Lip há muito despreza o pai, mesmo que tenha ficado impressionado com seu ato de redenção de se entregar no lugar de Carl. Mas deixemo-nos levar pelas emoções...


Frank teve cenas ótimas. A cena com Fiona foi comovente: ela despreza o pai, mas não quer que ele morra e até sentirá falta. Diz que é pelos irmãos, mas sabemos que ela também, bem lá no fundo, sentirá falta dele. Ele a respeita, talvez até a ame à sua maneira, mas não consegue admitir isso. E foi bonito ver como ele deixou Carl raspar sua cabeleira.

A verdade é que Frank não tem forças de mudar. É um homem inteligente, mas fraco de caráter e, a essa altura da vida, incapaz de mudar. A cena em que ele simplesmente retira o cateter de seu braço e sai de camisola a caminhar na noite fria foi muito significativa, pois é como se escolhesse o conforto da solidão e da morte.

A única coisa que pode salvá-lo agora é a ajuda providencial dos anjos roteiristas. Afinal, Shameless sem Frank não é Shameless. E um show de TV sofrerá muito em perder um ator como William H. Macy.


A propósito, Shameless sempre nos brindou com uma grande variedade de músicas. Nunca dei o destaque devido a elas, mas aqui vai uma pequena homenagem:


“Ends of the Earth”, de Lord Huron


Numa nota final, pois nunca cheguei a mencionar isso, recomendo a todos que assistam ao filme “O Fantasma da Ópera.” Emmy Rossum é uma atriz talentosíssima que, apesar de fazer sua Fiona parecer tão simples, modesta e acessível, é uma jovem sofisticada e com vasto currículo artístico, além de ser renomada soprano com uma voz impressionante. Ou, se preferirem, podem ver, no recesso de Shameless, Jimmy e Fiona coestrelando “Dragonball Evolution”. Fica à escolha do freguês.


Emmy Rossum, “Think Of Me” em “O Fantasma da Ópera”



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