Continuando a se compor com precisão e cautela, como qualquer obra de arte deve ser feita, a trama da última temporada de Breaking Bad tem me impressionado a cada nova etapa que avança. Em "Buried", especialmente, Vince Gilligan consegue conduzir a história de seus personagens sem deixar a atmosfera de tensão criada desde "Gliding All Over" cair por um segundo sequer, registrando assim, mais um acerto para esta temporada impecável.
Dito isso, temos Walter e Hank se movendo neste 5x10 como rei e cavalo em uma partida de xadrez cujo xeque-mate parece depender apenas de alguns peões para ser consumado. Peões como Skyler, que em episódios como "Buried" tem a chance de protagonizar por ter em mãos as escolhas que irão conduzir Walter White ao futuro melancólico e caótico que este construiu.
E aqui a personagem confere a trama um ar de incerteza que consegue nos deixar apreensivos apenas pelo fato de não sabermos quais serão suas decisões e quais intenções esta esconde por detrás das mesmas. Quando dialoga com Hank, nos perguntamos: Seria Skyler capaz de deixar Walt ser derrubado sozinho somente para se proteger? E quando a vemos apoiar Walt: estaria ela o protegendo pelo dinheiro? Pela família? Ou por lealdade?
Desse modo, a personagem multifacetada composta pela excelente atuação de Anna Gun surpreende por conseguir trazer em sequências como a do restaurante um perfil inseguro e assustado (visto em momentos como no qual ela não abraça Hank, ainda que seja abraçada), que logo se converge ao de 'vítima sob ameaça' quando o cunhado deliberadamente a confere este papel.
Vale também citar a primordial sequência em que Marie e Skyler dialogam. Nela, a diretora Michelle MacLaren traz uma técnica simples, porém eficaz de fazer o culminante tapa soar ainda mais doloroso ao público do que seria caso fosse filmado com uma câmera estática. Ao mover rapidamente a câmera para a esquerda (acompanhando o movimento da mão de Marie e do rosto de Skyler), a diretora cria a ilusão de que a oscilação da câmera foi causada pela agressão, conferindo um impacto ainda maior a cena.
Em outros momentos, vemos também a diretora brincar com os já conhecidos ângulos inusitados que a fotografia da série não se cansa de utilizar. E assim temos câmeras dentro da tela de GPS's, presas a barris de dinheiro e até aparentemente enterradas ao chão (quando na verdade esta última foi gravada utilizando uma mesa de vidro na qual Bryan Chranston retirava a areia de cima com a pá já posicionada sobre a câmera criando a ilusão de que estaria escavando).
Já no segundo ato do episódio, temos a instável Lydia retornando ao papel de substituta do antigo dono do império Heisenberg. Porém, o mais curioso neste arco, a meu ver, não é o fato da personagem mandar realizar uma chacina e depois adotar uma postura frágil quando se trata de ver os cadáveres (afinal, sentimos a mesma ironia quando vemos Walter-Já-Matei-Uma-Dúzia-de-Pessoas chocado com a sugestão de Saul de mandar Hank para uma viagem à Belise), mas sim o uso do figurino da personagem para elucidar a situação/desconforto da mesma em diversos momentos da história.
Se no episódio 5x04 "Fifty-One" vemos Lydia com os sapatos trocados como forma de explicitar de imediato ao público o descontrole da mesma diante das investigações do DEA sobre a Madrigal, neste 5x10 vemos algo semelhante, uma vez que a câmera faz questão de mostrar os calçados da personagem sendo sujos de poeira (uma provável alusão ao que viria a acontecer em seguida) no instante em que a mesma sai do carro para lidar com os novos produtores de metanfetamina.
Quanto ao término do episódio, é evidente que Hank irá utilizar Jesse daqui para frente como seu peão em meio ao volátil tabuleiro de xadrez em que este se dispõe. Afinal, sabemos de fato como essa partida irá acabar, ainda que não saibamos qual será a jogada e a peça utilizada para o grande xeque-mate.
PS.: A propósito, só eu acho sugestivo e irônico ver Walter White cavando algo que se assemelha a uma cova para esconder sua fortuna quando o mesmo se encontra com câncer e sendo caçado por Hank?
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