Maldita epifania.

Quebrando o silêncio que o dominou em Blood Money e Buried, Jesse finalmente sai da hibernação e se levanta -- despertando um leão cheio de ódio e de descobertas cada vez mais destruidoras da imagem paterna de Walter White.

Esse silêncio foi natural para alguém como Jesse Pinkman, um menino frágil preso no meio de um inferno moral, sem saber como reagir depois de transgredir todas as barreiras de sua humanidade. Esta mudez, seguida sempre de um olhar nervoso, incomodou um pouco. Eu sempre ficava esperando a hora que Jesse iria abrir a boca. Mas o incômodo, pelo jeito, foi intencional. E, além do mais, o que mais poderíamos esperar de um Pinkman destruído? Desde que ele se juntou à Walter, ele já passou por vários fundos do poço... Nem havia mais uma "opção" de reação a este novo inferno astral.

Mas eis que ele recomeçou a surpreender. Primeiro, em relação a Hank.

É fato que Jesse odeia o policial, e não ia ser num estalar de dedos que os dois virariam confidentes. Porém, cá entre nós, eu contava com uma "parceria" entre eles, tendo em vista dois fatores: (1) Hank pode até ter espancado Pinkman até a quase-morte, mas nós sabemos (e Jesse também) que a causa da surra foi Walter White; (2) por mais que Hank seja odiado, Jesse tem um ódio maior e os dois tem um ódio em comum, era questão de unir o útil com o desagradável. Mas nenhum destes dois pensamentos estava correto. Pelo contrário.

No momento em que se encontraram no deserto, ver Jesse relatando a conversa que teve com o policial desesperado foi pra lá de interessante. Ele contou tudo numa calma e serenidade que qualquer desavisado poderia pensar que a dupla estava de volta. E quase que estava mesmo, porque no segundo seguinte Walt começou a jogar suas cartas de manipulação, confiante de que ele ainda era o mestre daquela orquestra.

Puro engano.

Jesse, como se tivesse levado um balde de água gelada, começou a gritar para parar de ser manipulado. E foi mais longe ao citar o assassinato de Mike -- o que Walt nem tentou desmentir desta vez. Esta cena, tendo como seu ápice o abraço de White e o choro (desesperado?) de Jesse, foi uma referência a nada menos que O Poderoso Chefão (Parte 2).

Eu tenho a "teoria" de que Pinkman ainda será morto por Walter, e esta referência só me fez reforçar isso. Em O Poderoso Chefão, Michael abraça Fredo como se o perdoasse, como se estivesse tudo bem. Fredo, indefeso, fica sem resposta, mas se "amolece" ao abraço. Em Breaking Bad, o mesmo cenário se repete. Os dois lados do abraço sabem que falta muito pouco para a morte de Jesse, ou, como ele mesmo disse, não aceitar a proposta de mudar de vida significa perder a vida. Mas por um instante fica aquela sensação de que White nunca chegaria a tal ponto... sensação que parece martelar a cabeça de Jesse e fazê-lo chorar.

Por outro lado, percebe-se que Walt não quer chegar a tal ponto. Talvez por isso seu silêncio na hora em que Pinkman começa a questioná-lo, e talvez por isso o abraço como forma de dizer "é esta realmente a nossa verdade, por mais dolorosa que seja para mim".

Vamos ver onde isso vai dar.

Confessions também teve reviravoltas além das de Jesse. No caso, tivemos Hank e Marie experimentado mais um pouquinho do sadismo de Heisenberg. Ri muito da prepotência de Marie sugerindo que Walt se matasse. É de rir a atitude da mulher porque de todos daquela mesa, ela é a única que realmente não faz ideia com quem está lidando. Aparentemente é tudo muito simples: ela fica com os filhos da irmã, o cunhado se mata e amém. Todos viverão felizes para sempre. Ah, Marie.

Skyler, por outro lado, me parece cada vez mais uma leoa defendendo sua família. Se antes eu não sabia a razão de vê-la assim tão convencida a ficar ao lado do marido, agora acredito que seja mesmo pelo amor materno e conjugal. O mais engraçado é que enquanto os quatro conversavam no restaurante mexicano, ela se sentia machucada e ofendida com as colocações e ameaças da irmã e do cunhado, como se eles dois fossem os monstros insensíveis daquela mesa. Será que agora Skyler tem uma personalidade absurdamente alienada que nem Heisenberg? Será que os dois são realmente almas gêmeas na normalidade e na alienação?

E Hank, então, é que merece um troféu pela forma que se comportou no encontro. De todos ali, ele devia ser o mais nervoso, e deve ter avançado no pescoço de Walter pelo menos 300 vezes em pensamento. Contudo, o ponto épico ficou mesmo para o pós-encontro, onde vimos Marie e o marido extasiados com a "confissão" de Walter Hartwell White.

Naturalmente que ele não iria entregar os pontos tão facilmente, nem tampouco confiar na sensibilidade do cunhado para não "destruir ainda mais Walter Jr.". Mas que foi totalmente genial sua confissão, foi. E o mais impressionante é que aqui retomamos uma cena do piloto da série, onde ele fazia o mesmo esquema, mas daquela vez apenas como o Walter White que fazia o que fazia pela família e se filmou desesperado dizendo a verdade. Agora ele é um misto de Heisenberg com Walt, ou talvez apenas um Heinsenberg mais "pacífico" tentando encontrar opções menos drásticas do que a morte, enquanto a sua morte não chega.


O melhor de tudo é que suas palavras fazem sentido, especialmente num universo onde a carreira de Hank já está condenada por ele ser simplesmente o cunhado do monstro que caçou obsessivamente por tanto tempo. O dinheiro do seu tratamento junto com seu parenteso são os pregos finais de seu caixão, e incrivelmente Marie ainda acha que neste cenário alguém acreditará que ele é inocente. Ah, Marie.

Walt também se confessou ao filho, jogando na cara dele o câncer para livrá-lo das garras de Marie. É de se observar que Walter Jr. sempre é fisgado pela doença do pai para se compadecer deste. Foi assim na primeira temporada quando ele criou um site para pedir ajuda para o tratamento do pai amado, brecha que o pai amado usou para lavar dinheiro. Fico imaginando qual será a reação de Walter Jr. quando souber do lado sombrio do homem que tanto admira e defende. Fico imaginando se será como ver Jesse se revoltando outra vez. 

Falando em Jesse, chegou o momento de comentarmos de sua maldita epifania. Que coisa, hein. Um roubinho bobo de um saco de maconha trouxe à tona um dos atos mais cruéis e uma da manipulações mais maéstricas de Heinsenberg. 

Achei o máximo a cena onde Jesse confronta Saul. Ver o advogado se justificando naquela posição de súplica fez todo o sentido, afinal o medo que ele tem do cliente em questão é nada mais do que palpável. 

Fez sentido também a reação de Walt. Jesse não aceitou a opção de mudar de vida, logo, resta-lhe perder a vida. Mas é claro que este momento vai muito além disso, pois finalmente (pode ser que) o confronto entre o filho traído e o pai manipulador acontecerá. Só fiquei pensando na forma como Walter omitiu o problema da desatenta Skyler. Será que ele não falou para ela a verdade para não deixá-la nervosa ou é porque ele acha que resolverá o problema antes que ela note?

O melhor: Jesse invadindo a casa de Walter possesso de ódio e soltando um som possesso de ódio.
O pior: Faltam apenas cinco episódios para Breaking Bad acabar. CINCO.
Melhor quote: Eu não consigo mais suportar. Vivo todo dia com medo de Hank me matar, ou pior, machucar minha família. Eu... Tudo o que podia fazer era gravar esse vídeo e esperar que o mundo finalmente veja esse homem pelo o que ele realmente é.
Nota: 9,4

Breaking Observations:

- Hank saiu do escritório sem intenção de voltar depois de desistir dos vigias que havia colocado em Jesse. Tenho para mim que ele mesmo foi fazer o serviço. E se foi, pode ser que impeça Jesse de fazer besteira.

- O fato de Todd ligar para Walt e contar sobre os últimos acontecimentos pode ser interpretado como uma forma de demonstrar admiração, respeito e necessidade de aprovação do aprendiz para com o mestre. Mas pode (ou não pode?) também dar a entender que o telefonema seria uma "atualização", significando que Walt nunca saiu do mundo da metanfetamina, mas apenas acompanha/ordena tudo de longe.

- O lugar onde Jesse estava esperando pelo homem que lhe traria sua nova identidade lembra demais um cemitério. Olha Breaking Bad brincando com nossos sentimentos.


- A cena de Michael e Fredo em O Poderoso Chefão:



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