Por que coisas ruins acontecem a pessoas boas? No episódio que antecede este 11x21 "How to Save a Life", Meredith traz um questionamento que todos nós, em algum momento das nossas vidas, já fizemos. Coisas ruins, de fato, acontecem a pessoas boas o tempo todo. Chame de vontade divina. Ironia do destino. Linhas tortas para fins corretos. O que for. Mas coisas ruins acontecem a pessoas boas.

Shonda Rhimes parece querer brincar com esse conceito a cada nova temporada de Grey's. A cada novo ciclo que parece encaminhar seus personagens a tons acinzentados de tragédia. Vamos fazer uma rápida recapitulação? Em meados da segunda temporada, tivemos uma bomba dentro da cavidade torácica de um paciente - dando início ao giro do carrossel. Desde então, passamos por balsas, câncer, tiroteios, quedas de avião e até fenômenos climáticos como tempestades e terremotos. Mas afinal tudo isso acontece na vida real(?) e como bem pontua Shonda neste 11x21, o carrossel nunca para de girar.

Obviamente, a roteirista acabou criando um estilo de se fazer tragédia e sabe como se utilizar disto sempre que necessário para modificar os rumos da série. O sadismo de Shondinha é tamanho que antes de cada nova "hecatombe", ela faz questão de criar promessas para nossos personagens e de nos mostrar "o quão bom seria" se tudo se mantivesse alegre e estável. Quase como se um padeiro oferecesse um suculento frango a um cachorro de rua, para depois jogá-lo fora impiedosamente, deixando o cachorro com fome.

Shonda fez isso com Mer e, portanto, fez isso conosco. Há poucos episódios, o retorno de Derek representava o completar da vida perfeita para a personagem. Mer tinha o trabalho dos sonhos, a casa dos sonhos, os filhos dos sonhos e agora, finalmente de volta, o marido dos sonhos. Era como se nossa protagonista tivesse alcançado seu "felizes para sempre"... só que antes do fim.

Acontece que Grey's Anatomy se tornou uma série que se molda de acordo com as idas e vindas de seu elenco. Notem que os principais acontecimentos e game changers das últimas temporadas tem sido fruto da saída de seus atores principais, o que na mente insana e cruel da showrunner encapetada que não devemos nomear, é mais uma oportunidade para fazer coisas ruins acontecerem a pessoas boas. Foi assim com Lexie e Mark, foi assim com Christina (tudo bem, essa não morreu, mas se foi) e foi assim com Derek.

Patrick Dempsey já havia anunciado sua saída de Grey's na oitava temporada. Desde então, tentaram segurar esse McOsso o máximo de tempo possível. Todavia, uma hora o cão tem que largar o osso (e esse texto está cheio de analogias com cães). "How to Save a Life", portanto, é o farewell ao nosso McDreamy. Uma despedida tortuosa, apressada e até um tanto quanto assustadora. Entendo perfeitamente que Shonda faça questão de mostrar que esse tipo de evento surge nos momentos mais inesperados. Afinal, se tem uma coisa que Grey's nos ensina, é que a vida sempre atira pedras em nosso caminho, só precisamos saber o que fazer quando uma delas nos atingir. 

Portanto, gosto da decisão de matar o personagem antes da season finale. Embora isso faça tudo parecer em certos momentos cognitivo demais. Frio. E, por isso, nos primeiros minutos em que percebemos a morte do personagem agimos como um paciente em choque, cuja adrenalina não nos permite ver a verdadeira lesão e a dor que está por vir.

O episódio se divide em duas partes. Na primeira, Derek traz uma representação honrosa do que ser um médico é. Tirando crianças de carros em chama. Salvando vidas. É uma bela representação do que McDremy fez ao longo de onze anos de Grey's Anatomy e, portanto, um momento importante para sua despedida. Até que no segundo ato, um caminhão nos atinge em cheio. E um Derek estável, ciente das decisões de seus colegas despreparados, torna tudo ainda mais angustiante. O episódio, portanto, acaba sofrendo pelo tempo de exibição. Nada parece ser processado a tempo suficiente de nos emocionar. Até que... até que Shonda trapaceia mais uma vez e usa "Chasing Cars" - assim como flashbacks do casal - em sua sequência final. Nos levando ao dilúvio. 

Não é novidade, mas é eficiente. E, acima de tudo, doloroso. Porque nos importamos com esses personagens e, em especial, Meredith, que terá de lidar com mais uma perda imensurável. Para muitos, isso é mais um alerta de que a série deveria encerrar enquanto ainda há tempo. Antes que todos no Seattle Grace Mercy Death possam cair do carrossel. Para mim, desde que Grey's consiga emocionar, continuarei a acompanhar os absurdos de Shondinha, embora concorde que nenhuma vida consiga acomodar tantas tragédias. Que carrossel perigoso e perturbado este é.

PS.: Ah, não pensem que acabou...

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