A arte de ser fantástica mesmo quando é previsível.

Provavelmente nenhuma outra série pode ter o luxo de dizer que consegue se sobressair quando é previsível. Quando o roteiro não consegue sair daquele loop onde o telespectador adivinha facilmente o que virá em seguida, fica difícil para o episódio se livrar de dar a sensação de mal feito e inútil para quem o assiste. Mas, em se tratando de Breaking Bad, essas emoções certamente não fazem parte do que ela tem a oferecer.

A cada episódio que assisto, a sensação de que o coração vai sair pela boca se repete. Se o episódio é intelectual, a paranoia vem por causa do que os personagens podem ou não decidir. Se o episódio é de ação, a paranoia vem por causa de como os personagens irão ou não agir.

Em "Dead Freight", no momento que vemos os personagens irem para o deserto para roubar o trem, fica óbvio que aquele menino da cena de abertura vai aparecer no roubo. A forma como tudo ocorreu, a tensão na hora da execução do plano, o medo de serem descobertos, foi mais uma prova da maestria de Breaking Bad. Mas enquanto isso, a pergunta era: o que os personagens farão quanto ao menino, já que o plano deles era evitar testemunhas de todas as formas possíveis.

Aliás, nisso entra Jesse. Desde a Season Premiere ele está tendo ideias para solucionar os problemas que levam Mike e Walt a ficarem rosnando uma para o outro. O que é bom nisso é que, finalmente, Pinkman está desenvolvendo seu raciocínio, o que pode mudar o cenário atual onde ele é vulnerável e manipulável.

Mas como em Breaking Bad cada passo para frente é seguido de dois para trás, a morte do menino no deserto vai trazer de volta aquela depressão que consumiu Jesse no início da quarta temporada. Com isso, ele também deve começar a questionar a provável insensibilidade de Walt, o que, somado à sua "nova capacidade de raciocínio", deve levar a maiores questionamentos.

Me pergunto qual seria a reação de Skyler ao saber de tal acontecimento. Penso nisso já que na série tudo o que está enterrado um dia vem à tona. E também por causa do novo trato entre ela e Walt que, aparentemente, permite que ele deixe-a a par de tudo.

Este novo trato, no entanto, não deixa de ser estúpido. Tudo bem que ela tem razão em temer pela segurança dos filhos, mas deixá-los morando na casa dos tios para... sempre? Me parece uma saída meio desconcertada. Além do mais, Walter Junior pode ter acatados as ordens do pai por agora, porém suas dúvidas voltarão com o passar do tempo. E qual será a abordagem de seus pais? A "autoridade" que possuem novamente?

Bom, enquanto os dois acham que essa ideia soluciona seus problemas, Hank e Marie podem viver seus dias de família feliz. Quer dizer, tudo está "bem" para eles. O problema é que o bom detetive continua no escuro quanto ao seu cunhado, e cada vez mais ele se torna seu antigo (e humilhado) chefe.

Walt, na maior cara dura, grampeou o escritório de Hank. Claro que desde o início nós não compramos aquelas lágrimas. Estava na cara que eram de crocodilo. Mas que foi engraçado ver Hank cair na armadilha que nem patinho, foi.

Pelo menos este último fiasco do comandante rendeu à Lydia uma segunda, ou melhor, uma terceira chance. Não fosse por isso, ela estaria numa vala e a produção de metanfetamina estaria paralisada. Com estes lapsos de sorte, ela também passou a conhecer o atual ocupante do trono de Gus, e de quebra já arrancou dele a quantidade de filhos que ele tem. O melhor momento da reunião dos quatro, no entanto, foi quando todos estavam de acordo com a morte dela, incluindo Jesse. Mike, do jeito que estava louco para atirar nela, ficou de semblante triste quando foi impedido - outra vez - de concluir seu desejo.

Algo me diz que eles ainda se arrependerão disso. Não importa se ela se tornou "sócia" deles com o roubo do trem. Instável como ela é, em qualquer minuto ela explode.

Por último, resta entender quem será Todd daqui por diante. Não dá para negar que sua atitude deve ter impressionado Walt e, talvez, até Mike. Em outras palavras, ele é exatamente o que Jesse não consegue ser: frio e sem escrúpulos. E, com isso, ele deve ser também um bom adicional ao grupo de sócios. Ou melhor, ele já faz parte do "esquema", querendo ou não. Se só sabendo e participando do roubo Todd já era cúmplice, depois do assassinato o cenário se duplicou. Ele é cúmplice dos outros e os outros são cúmplices dele.

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