Depois de um momento glorioso da semana passada, Shameless apresenta um episódio com momentos hilários, mas não à altura de sua qualidade costumeira.

Semana passada, Shameless apresentou momentos intensos mostrando todo o potencial do programa em passar de uma transição entre a comédia solta e o drama sério, colocando-o pronto a competir por premiações e por audiência com outros bons shows dramáticos. Dessa vez, contudo, o show voltou a utilizar exclusivamente do humor, alternando situações forçadas com outras que, talvez, melhor fossem expressas de maneira séria. Como consequência, tivemos bom entretenimento, muitas piadas ótimas junto com outras idiotas, e a coisa toda pareceu se esvaziar e perder o significado.

A história principal começou com o “funeral” com as supostas cinzas da tia Ginger e girou em torno do tal primo Patrick, que herdou a casa por ter apresentado um testamento falso antes que a turma de Fiona pudesse ter apresentado o testamento falso deles. Não deixou de ser irônico, pois quando Gallagher enfrenta Gallagher, ganha o mais malandro. E dessa vez os nossos Gallaghers favoritos se mostraram estranhamente incompetentes no campo da malandragem. E também não ajudou o fato de que Fiona nunca quis prejudicar ninguém, e Patrick pouco está se lixando se joga os primos no olho da rua. E se os jovens filhos de Frank sempre tiveram problemas com o parasitismo do pai, o primo parece bem pior e sem princípios.

O episódio mostrou as tentativas frustradas de resolver o problema e a história não teve um foco decente. E aí começaram as situações forçadas. Primeiro, Lip tentou bancar o advogado e pesquisou sobre que medidas legais, mas por mais brilhante que Lip seja, só mesmo nos Simpsons é que Lisa descobre uma brecha legal após uma breve pesquisa na Internet. Lip gastou tempo de cena só para dizer, em sua “opinião profissional” que nada podia ser feito.


Outras tentativas patéticas foram bem mais divertidas, mas mostraram uma inaptidão para a trapaça que não é característica de jovens tão criativos quanto eles. Mandar Mickey com um irmão magrinho armado com um bastão de baseball e de uma arma calibre 22 foi ridículo, considerando que Patrick é do tamanho de um armário e ele não é exatamente o que se chamaria de um cidadão honesto impressionável.


Quando os “adultos” se mostraram tão incompetentes, restou às crianças agirem. O tresloucado Carl optou por uma solução direta e extremamente estúpida: veneno de rato. Por sorte (e por conveniência do roteiro, pois era um episódio cômico) isso não resultou em uma acusação de homicídio. A ação foi bem característica de Carl, mas só evidenciou a falta de um plano melhor. No fim foi Debbie que salvou o dia, inventando uma acusação furada de abuso sexual.


É bem verdade que, hoje em dia, basta uma criança inventar uma coisa dessas que um homem pode se incomodar por muito tempo, mas um mínimo de investigação colocaria por terra aquela solução “brilhante”, pois Patrick nem teve a chance de ficar a sós com Debbie e ela teria que sustentar uma história inventada com tantos detalhes que qualquer investigador veria que ela estava mentindo. Mas como a solução foi apresentada no final do programa, foi a que valeu. Mas mesmo assim, Fiona saiu no prejuízo, pois agora terá que pagar aluguel por uma casa que, para todos os efeitos, já era dela, desde que aguentasse o Frank de vez em quando. Péssimo negócio, Fiona. 


Em outra história, tivemos a volta de Karen ao lar materno com o rabo entre as pernas. Tanto Lip quanto Sheila a acusaram de ter sabotado seus relacionamentos (com Mandy e Hymie, respectivamente), mas, francamente, Karen ganhou crédito demais e não foi uma manipuladora tão eficiente assim. Foi Lip que escolheu escancarar o fato de que Mandy foi chegando na vida dele e nunca mais saiu, mesmo sem eles terem conversado sobre o assunto. E foi Lip que quis transar com Karen. E Sheila já havia perdido Hymie para a Sra. Wong, a mãe do pai do bebê. Embora a história parecesse tentar descrever Karen como uma cobrinha mentirosa, no fim ela acabou mais como um bode expiatório.


Aliás, a personagem de Sheila foi a pior utilizada no episódio. Antes ela tinha agorafobia. Pois bem, essa parte de sua personalidade foi completamente esquecida pelos roteiristas por não parecer mais conveniente. Seu engajamento pelo uso da palavra “retardado”, bem como a escolha de Frank em usar uma camiseta que promovia essa ideia, digamos, retardada, foram as situações mais forçadas. Seu propósito foi apenas provocar a reação negativa de outros personagens e gerar conflito e violência de maneira cômica. Engraçado no momento, mas em seguida a gente se dá conta que não faz o menor sentido.


A situação de Kevin tentando engravidar a mãe de Veronica porque esta não pode conceber gerou uma situação muito criativa e inusitada no episódio passado. Mas a boa piada é boa quando se sabe quando ela deve acabar. Tentaram fazer render, com Carol exigindo entrar “no clima” para transar com Kevin e ter orgasmos, enquanto Veronica têm ataques de ciúmes, mesmo que ela tenha forçado (olha essa palavra de novo) essa situação absurda para começo de conversa. Foi outra trama divertida, mas seu desenvolvimento acidentado foi mais do que previsível.


E Jimmy (que parece estar sendo chamado de Steve de novo) é um personagem do qual já desisti. Os roteiristas não sabem mais o que fazer com ele. Ele tenta pegar um emprego para desinfetar fossas sépticas e limpar dejetos com Fiona, mas não aguenta cinco minutos no emprego. (Novamente uma situação que causa risos, mas não leva a nada em termos de história e só faz a gente achar o Jimmy um bobão afetado.) Então, ele vai trabalhar em uma cafeteria de alto padrão, sendo contratado mesmo sem ter nenhuma experiência, aptidão ou vontade de fazer o trabalho. E, colocado no trabalho sem treinamento algum, não sabe operar a máquina, mas também nenhum supervisor lhe chama atenção. Ou seja, uma situação totalmente artificial. E, para culminar, termina o dia saindo com velhos amigos ricos em um requintado bar da cidade, mesmo que agora dependa de um emprego que paga salário mínimo. Sem comentários.


Por fim, temos a situação de Frank. Com a chegada de Karen, Jody e Sheila pedem que Frank vá embora. Convenientemente, este, sendo forçado a ir a uma reunião dos AA, conhece Christopher, um alcoólico em recuperação que o elege como patrocinador sem mais nem menos. E, o que é mais surpreendente, convida-o para morar com ele, uma situação inverossímil e absurda.

A revelação surpresa de que Christopher, na verdade, não é alcoólico e só é um sujeito esquisito e solitário disposto a sustentar um perfeito estranho só para ter companhia, serviu como explicação de como alguém escolheria alguém como Frank como patrocinador, mas pareceu totalmente absurda e acabou com o pouco de credibilidade que a história oferecia. A situação foi tão implausível que até o próprio Frank desconfiou que tudo parecia impossível e, assustado com os receios de Kevin, preferiu fugir e ficar longe daquele maluco. Mas depois de umas poucas palavras com Christopher, as dúvidas de Frank magicamente desapareceram e Frank voltou para o lar do doido solitário. Está certo de que Frank encara qualquer uma por uma cama e refeições, mas nada explica sua mudança de opinião repentina, nem como Christopher pôde confiar num vagabundo desleixado e pouco confiável como Frank.


Em suma, foram 54 minutos divertidos, mas desprovidos de substância. E a gente sabe que Shameless tem potencial para muito mais.

Pensamento diário do Frank:
“Dê graças que o garoto não esteja aqui. Crianças nos Campos da Morte cambojanos delataram seus pais, que foram executados. Uma vida de devoção e é essa a lealdade que você recebe como recompensa.”


E aí, você concorda? Se discorda dessa review, por favor apresente seus argumentos, que eu gostaria de ouvi-los.



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