Desencavando a toupeira. Uma palavra resume o negócio da espionagem: sórdido.

“Mole” em inglês é uma palavra bem expressiva. Significa toupeira, mas também verruga ou espião, infiltrado, delator. Ou seja, um traidor enterrado, difícil de achar e feio como uma verruga. Pelo menos essa é a visão de quem está sendo traído, pois quem coloca a “toupeira” no local, acha que seu papel é importante e necessário. Pois bem o episódio dessa semana tratou da caça à toupeira soviética.

Essa caça revelou, de parte a parte, o quão sórdido é o negócio da espionagem. Sórdidas foram as técnicas usadas pelos soviéticos para testar a lealdade de seus agentes mais leais. E mais sórdidas ainda foram as táticas usadas pelo FBI para proteger seus interesses. E, ainda por cima, as crianças Jennings, deixadas por sua conta, sofreram suas desventuras porque, afinal de contas, pais não podem descuidar dos filhos por um segundo e, acima de tudo, isso é televisão e um episódio tudo de ruim tem que acontecer ao mesmo tempo, claro.


Adorei quando o episódio já começou num momento intenso: Phil sendo encapuzado e dominado à força quando ainda usando um de seus disfarces de espião quando acabara de marcar um encontro com Martha, a simpática solteirona com um fetiche por sapatos que ele está enrolando. Desde aquele momento a história já prometia ser intensa.

É claro que as coisas para os Jennings escalaram tão rapidamente para um lado tão desfavorável que senti que havia lago errado e a situação não podia ser tão grave quanto parecia, pois os captores de Phil sabiam demais sobre ele e a esposa e ainda é muito cedo no grande esquema das coisas para que eles sejam desmascarados. Mesmo assim a cada minuto que passava eu ficava mais curioso sobre o que aconteceria a seguir.


Ao mesmo tempo, Paige e Henry, abandonados em frente a um shopping center, pegam uma carona (porque em 1981 ainda não haviam inventado taxis, presumo) para voltar para casa com um bom samaritano que, aos poucos, vai revelando ser um sujeito estranho e repulsivo. Quando Paige tomou a iniciativa de pegar carona, pensei, “ah, bons tempos do início dos anos 80, quando crianças podiam pegar carona com estranhos”, mas se tudo corresse bem, os personagens não teriam algo para fazer. Achei a coisa toda um pouco forçada, mas no contexto de um episódio tão bom, isso é perdoado.


Faz um tempo que li um artigo sobre como a internet democratizou a publicação de livros originalmente rejeitados por editoras profissionais, o que permitiu que verdadeiras barbaridades chegassem ao público. Uma dessas preciosidades é o “Guia do Carona para Crianças”. Pois bem, pelos menos a desventura de Paige e Henry, regada a cerveja e com um papo de maluco sobre as tais besteiras que o cara fez na vida, terminou bem e pareceu uma história modelo para prevenir crianças de tentar a sorte na estrada. Crianças, não façam isso que é perigoso! E se Paige demonstrou falha de julgamento e de responsabilidade ao arriscar pegar carona com um homem estranho em troca da conveniência de chegar em casa cedo, pelo menos Henry teve a chance de aparecer na história para variar e tomou a iniciativa de maneira exemplar. Paige, na próxima vez, deixa Henry tomar as decisões, guria sonsa!


No lado russo, digo, soviético, e fico me contendo para não trocar os dois adjetivos, porque muitos soviéticos não eram russos, as coisas vão de mal a pior para a bela Ninotchka. Se antes Vasili tinha uma relação tímida e cautelosa com ela, agora sentia-se no direito de tê-la como constante parceira de cama e de ficar gemendo como um porco na hora do sexo em cima da pobre devotchka. E esta, por sua vez passa o tempo todo à beira de um ataque cardíaco temendo por um final repentino e violento. E quando ela pede que Beeman a acuda, ele, ao invés de oferecer uma solução, só diz palavras gentis e aparentemente vazias e exige mais e mais.


Tem um ponto em que Nina chega e diz a Beeman: “não aguento mais, fiz minha parte, tirem-me daqui, droga!” E o que ele ofereceu em troca? Ele diz “confie em mim” mais uma série de palavras gentis que soaram vazias e lhe dá uma câmera e diz para fotografar documentos confidenciais. Naquele momento, fiquei pensando que Nina seria usada até o último instante (bem, ainda acho que isso acontecerá) e que o FBI pouco se importava com o que acontecesse a ela. Aliás, fico admirado com o sangue frio e o equilíbrio de Nina. Ela age como uma agente treinada para agir em situações de alto risco e estresse. Isso quase parece conveniente demais.


Quando menos se espera, descobrimos que tudo não passa de uma manobra para incriminar o bom e velho e simpático Vasili como a toupeira. E ele acaba recebendo uma passagem só de ida a Moscou escoltado por dois agentes mal-encarados da KGB. Ele até parecia um bom sujeito apenas fazendo seu trabalho que não mereceria receber um tiro na nuca por traição, mas Nina estava desesperada o suficiente para armar contra aquele senhor tão pacato e, francamente, ninguém do lado soviético parece tão vilanesco que mereceria tamanha traição. É o sórdido mundo cão da espionagem.


E quanto ao Jennings? Tudo não passou de um teste, que abriu feridas que tão cedo não cicatrizarão e não me refiro aos ferimentos de Phil, nem ao fato da tresloucada Elizabeth fazer panqueca com a cara de Claudia. Aliás, tanto a reação ninja de Elizabeth em sua captura e o fato de partir “para a ignorância” contra Claudia revelou as sérias aptidões físicas de Elizabeth para o trabalho bem como seu despreparo emocional.


De fato, Elizabeth foi a mais transtornada em saber que as pessoas em que confiava lhe fizeram passar por isso. E, a julgar por sua reação descontrolada, suspeito que ela tenha ficado com mais raiva não por ela ter sido feito prisioneira e Phil ter sido agredido, mas por que ela já sabia que logo viria à tona o fato de ela ter falado de Phil para Claudia.


No final das contas, Phil foi quem mais saiu machucado. Não só porque apanhou de verdade (enquanto a Elizabeth só mostraram um mural de fotos de suas crianças), mas porque foi traído por seu governo e por sua esposa. Até entendo o lado de Claudia, pois eles tinham que achar a toupeira, ninguém estava acima de suspeita, e, até onde pôde ser evitado, ninguém sofreu dano permanente. Mas Phil sempre foi dedicado e suas indiscrições ficaram confinadas ao lar. Mas aí ele somou dois mais dois e deu quatro.


E pressionado Elizabeth por uma confissão, pior ainda foi ouvir suas “justificativas”. “Eu só disse que você gosta demais daqui”, disse ela. E também, “eles perguntaram e eu tive que responder.” E, para coroar, ela ainda tenta sensibilizar Phil, mostrando-se uma vítima também, mas como diz o ditado, a emenda saiu pior que o soneto: “Fui agredida, tirada de maneira violenta da minha casa, traída por quem mais confiei em toda minha vida.”

Sim, quem MAIS confiou toda sua vida. Um grupo que, obviamente, não incluía Phil. “É, isso diz tudo”, ele respondeu. Ironicamente, bem quando o casamento de Phil e Liz parece de mal a pior, o de Stan tem uma breve melhora, e ele e Sandra compartilham um raro momento de ternura.


E aí, o que achou? Como será a relação entre os Jennings de agora em diante? E que consequências sofrerá Elizabeth por seu ataque a Claudia, sua superiora na organização? Será que Nina está mesmo livre de suspeitas? E, no próximo episódio, o que farão os jovens Jennings? Explorarão um casarão abandonado à noite?



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