E o Oscar vai para...

Se há algo que faz do roteiro de Glee genial, são suas referências. Nesta semana, então, com "Girls (and Boys) On Film", a série acerta, mais uma vez, ao trazer um texto que brinca de maneira despretensiosa com alguns dos grandes clássicos do cinema - e outros recentes block-busters, por que não? - em um episódio que homenageia um dos mais importantes artifícios da sétima arte, a música. 

É válido ainda dizer que esta singela homenagem de Ryan Murphy (ou melhor, de Michael Hitchcock, quem de fato escreveu o episódio) aos musicais/clássicos do cinema não poderia ter vindo em melhor hora. Em tempos em que "Os Miseráveis" se encontra no auge de premiações como o Oscar, este é, sem dúvidas, o timing perfeito para Glee rebuscar clássicos dos anos 80 (vide Footloose e Ghost) e, por ventura, trazer este conteúdo para seu público mais jovem.

Tenho certeza, por exemplo, que grande parte dos telespectadores não reconheceram ou fizeram ligação ao título na cena inicial do episódio, inspirada no musical "Royal Wedding" (1951), em que Will e Emma pulam de parede em parede enquanto dançam sob o embalo de You're All the World to Me. É bacana, portanto, pensar na possibilidade de que o público mais jovem possa vir a ter contado com tais obras através da série. E olha que já tivemos exemplos ainda mais fortes do que este dentro da música, como o (retorno do) sucesso da antiga Journey.

Igualmente interessante é ver como este 4x15 brinca com os clichês. A cena em que Finn diz a Mr. Schue que aquele era o momento do mesmo assumir o papel do mocinho, que atravessa a cidade a procura da pessoa amada enquanto a trilha melodramática cresce no fundo, é um exemplo perfeito disto. Por outro lado, também temos uma divertida desconstrução do clichê quando Finn revela sua traição a Mr. Schue, indo de encontro ao papel do típico padrinho do noivo que aparece de última hora para salvar o dia, quando na verdade é Finn o responsável pelo término do relacionamento.

Em meio a isso, ainda tivemos mash-ups de "Old Time Rock and Roll"/"Danger Zone" e "Diamonds Are a Girl's Best Friend"/"Material Girl" com excelentes figurinos inspirados em filmes como Top Gun e Gentlemen Prefer Blondes. E como se já não bastasse a overdose de óculos escuros e vestidos à lá Merilyn Monroe, a sequência em que Marley - dividida entre Ryder e Jake - incorpora Demi Moore e tem sua própria versão da clássica cena da argila de "Ghost" põe a cereja no topo do bolo. A única diferença é que, no filme, a personagem tinha apenas UM fantasma com que se preocupar.

Já no núcleo de Nova Iorque, as homenagens foram um pouco mais contidas (ainda que uma alucinação de Kurt em que ele faz dueto com Blaine da música "Come What May" tenha sido mais que extravagante). O melhor mesmo ficou por conta de Santana, que se por um lado não conseguiu desvendar o mistério sobre Brody possuir 14 mil dólares, um pager e, principalmente, um corpo de plástico moldado (sem pelos), por outro conseguiu divertir ao trazer de volta seus excelentes comentários sarcásticos (especialmente quando direcionados a Kurt) sem deixar de lado, é claro, o seu lado carinhoso, como na cena em que diz a Rachel que tudo ficará bem. 

Acontece que, no fim das contas, Glee mostra que tem sim um roteiro que consegue ser perspicaz, referencial e inteligente quando o mesmo deseja ser. Assim, "Girls (and Boys) On Film" é mais um excelente episódio para esta que está para se tornar a temporada mais sólida de Glee. E quem não reconhece isso, deveria seguir o conselho de Sugar Motta e se expressar com uma performance inspirada em "O Artista"... mudo. 

PS.: Como não rir do ataque do New Directions quando Mr. Schue diz que todos são vencedores?
PS.2: "Shout" do filme "Animal House" foi a 500ª música já cantada em Glee.

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