To'hajiilee, o lugar do princípio e o lugar do fim.

Em sua reta final, Breaking Bad não está disposta a deixar passar nenhuma brecha em branco. Prova disso é a volta a To'hajiilee, o lugar que Jesse e Walt usavam para cozinhar no trailer, no comecinho de tudo.

Desta forma, podemos dizer que é aqui que tudo termina também. O mito Heisenberg e sua fortuna começaram a virar realidade em meio a metanfetamina, a um Jesse atrapalhado (como bem lembrou o flashback de To'hajiilee), e aos assassinatos que ocorriam naquele monte de areia, longe dos olhos da cidade.
 
Agora, mais uma vez no meio da areia e longe dos olhos da cidade, ele se encontrava diante do fim de seu mito Heisenberg, pois, por causa da presença surpresa de Hank ao lado de Jesse, ele estava disposto a se entregar. Walt também estava diante do fim do Jesse atrapalhado, pois aquele Jesse que ele furiosamente chamou de covarde não era nada covarde, mas finalmente era corajoso para se levantar contra aquele que arruinou sua vida.

E Walter também estava diante do fim dos assassinatos, literalmente do fim. Todas as pessoas que ele matou sempre foram “justificadas” porque se tratava da segurança de sua família. E como ele foi indiretamente, ou melhor, diretamente responsável pela morte do cunhado, não é errado dizer que aqui Walter White perdeu o que considerava mais precioso: a sacrossantidade de sua família.

A consequência mais óbvia disso foi Skyler tirando-o de vez de sua vida, retirando de vez o apoio ao marido monstro. A mulher também se apoiava na sacrossantidade da família, e a morte de Hank não significa apenas a quebra disso, mas também o perigo que ela corria. Afinal, se Walt realmente matou o cunhado, até que ponto ela poderia se considerar salva dele?

Mas, acredito eu, este pode nem ter sido o pensamento que correu na cabeça de Sky. Ela sempre foi muito ambígua e, para que ela reagisse daquela forma havia um novo elemento da equação: a ciência de Walter Junior sobre as verdades de seu pai.

Diante disso, imagino que a mamãe leoa falou mais alto, pois em nenhum universo ela conseguiria justificar para o filho a “necessidade” ou a “não tão gravidade” do ocorrido. Até aqui ele sabe sobre as verdades do pai, mas não sabe sobre as verdades da mãe... que não é alma gêmea só de Walter, mas é também alma gêmea de Heisenberg.

O desespero contagiou a família inteira e, depois da luta insana onde Walt não acredita que sua preciosa família não o reconhece mais, o homem sequestra a própria filha e foge... Sem dúvida alguma a cena de Skyler correndo desesperada na rua foi uma das mais marcantes de Breaking Bad, na mesma proporção que esta atitude de Walter foi a mais descabidamente desesperadora que ele tomou.

Não consigo seguir o raciocínio dele e decifrar o que ele queria. Será que ele pretendia fugir para sempre com a filha? O fato é que este cenário não chegou nem perto de se concretizar, e nem teria cabimento já que a esta altura ele era o homem mais caçado do país.

Mas, pelo menos, essa loucura nos proporcionou um momento de fofura infinita com Holy fazendo um biquinho epicamente manhoso no caminhão de bombeiros. Pois não basta Walter Jr. brilhar na atuação, a irmã também tem que ter seu momento solo, é claro.

A ligação de Walt para casa, numa última tentativa de provar para Skyler que sim, ele ainda fazia parte daquela família, foi mais uma vez um ato altruísta. Também vejo que pode ter sido um “me perdoe” assim como um “eu te entendo”, atitudes que humanizam este homem muito mais do que ele merece ou talvez muito mais do que ele pode ser humanizado.

A conversa deles foi das mais dolorosas possíveis. Um misto de adeus, de “eu te amo” e de mais um turbilhão de sentimentos inexplicáveis. No meio disso, ela ainda disse “I’m sorry”, o que, pelo menos aos meus olhos, é o que ela realmente queria dizer diante de tudo aquilo.

Acontece que Skyler pegou a chance que tinha e se proclamou inocente diante do filho e da polícia. Talvez ela tivesse um pouco de vítima no começo, porém ela NUNCA foi refém do marido. Nós sabemos disso, ela sabe disso, e Marie talvez saiba um pouco também -- o que me causou estranhamento, já que a doida não esgoelou os malabarismos da irmã para proteger o marido monstro.

Quanto à Jesse, o destino não poderia ser mais coerente com ele. Coerente porque Jesse Pinkman foi o que mais sofreu nestes 6 anos, mesmo que ele não tenha causado nem metade das agruras de sua vida. Logo, nada faz mais sentido do que ele tentar fazer justiça por si e acabar num cárcere torturado, com Andrea e Brock ameaçados, e cozinhando metanfetamina.

É agoniante, sempre foi agoniante os destinos de Jesse. E o único que conseguiu tirá-lo de todos eles até agora foi Walt, o mesmo que encomendou sua morte e depois o condenou à morte ao entregá-lo para os neonazistas.

No final de Ozymandias, depois que Walt entra no carro do homem misterioso que vai lhe dar uma nova identidade e vai embora, Breaking Bad usa pela milionésima vez de sua ardil sutileza. Um cachorro atravessa a rua... o que provavelmente é um lembrete sobre o cachorro raivoso da vida de White, e uma constatação de que, ainda que ele ache que se livrou deste cão raivoso, ele inevitavelmente ainda cruzará o seu caminho.


Vale ressaltar: 

Em To'hajiilee, quando Jesse ligou para Walt fingindo que estava no deserto para queimar seu dinheiro, White finalmente teve a chance de dizer para ele a sua verdade. O antigo professor de química se justificou para seu antigo aluno dizendo que tudo o que fez foi para protegê-lo. Krazy-8, Emilio Koyama e os dois traficantes que ele atropelou são as provas de seu amor -- estranho amor -- paterno. O envenenamento de Brock, pelo menos de acordo com Walt, deve ser perdoado porque não foi "para matar", mas apenas para reaproximar Jesse e facilitar o assassinato de Gus. Este foi o momento em que Walter teve a chance de "se abrir" em busca do amor de Pinkman. No mesmo episódio, no entanto, ele se abre novamente, mas agora em busca do ódio do jovem. Isto ocorreu no momento em que ele revelou sobre a morte de Jane e como ele foi cruel em não socorrê-la. Amor estranho amor.

Breaking Observations:

- Todd interessado em Lydia parece brincadeira. Pobre Todd se acha que vai conseguir alguma coisa...

- Walt indo na casa de Andrea e sendo encarado explicitamente por Brock me lembrou de: I AM THE ONE WHO KNOCKS.

- A posição de Walt depois da morte de Hank é semelhando a de Gus depois da morte de Max Arciniega. Walt e Hank eram família, assim como Gus e Max eram família de certa forma.


- Depois de Todd torturar Jesse, metade do rosto dele está surrado, o que lembra o rosto de Gus "meio explodido" no dia de sua morte (episódio Face Off).

- Durante o jogo de xadrez entre os bombeiros, o Rei Branco (WHITE King) é encurralado, mas não sofre Xeque-mate nem tampouco o Xeque. O rei está simplesmente atrás de um peão, arrumando tempo, mas sem avançar no jogo. As únicas peças brancas que restam são um Cavaleiro (não uma Rainha) e dois peões. Se o Cavaleiro fosse uma Rainha, poderia derrubar todas as peças pretas. Skyler não é mais a "rainha White", e os dois filhos agora são meros peões no caminho de Walt. Se Skyler ainda estivesse no lado do marido, ele não estaria arrumando tempo para evitar ou esperar pelo destino.


- Comparação entre o rosto dos maridos vitoriosos e a reação de suas mulheres (Face Off e  To'hajiilee):


- Comparação entre as posições de ameaça e medo de Hank e Walt armados:


O melhor: Walt ligando para casa e inocentando Skyler para a polícia. Deu vontade de chamá-lo de romântico.
O pior: A demora de To'hajiilee. Ele foi mais lento do que usual em Breaking Bad.
Melhor quote: COVARDE! [Walt para Jesse]
Nota para To'hajiilee: 9,4
Nota para Ozymandias: 9,6

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