Lealdade,
confiança, amor… E o excelente show que trouxe de volta a moda das perucas
chega ao fim de sua primeira temporada.
Então chegamos
ao fim de uma ótima temporada de um dos melhores shows que estrearam nesse
início de ano. Foi uma história rica em suspense, mas também muito densa em
termos de valores humanos. O final trouxe à tona questionamentos importantes
sobre a quem devemos ser leais, em quem devemos confiar. E, no final das
contas, mesmo em um mundo de falsidades, é preciso buscar forças onde estão
nossas relações mais sinceras.
Quanto ao
capítulo final em si, eu havia feito algumas previsões que se revelaram
totalmente equivocadas. A história, juntamente com nossas expectativas,
apontava para algumas direções óbvias, mas creio que os roteiristas conseguiram
surpreender a maior parte do público. Vejamos...
1. O
final
trará grandes emoções. – Certamente. Contudo estamos acostumados a
shows que nos trazem um ritmo frenético de ação, ou então a viradas constantes
na história, mortes de personagens importantes, surpresas a cada instante. E
finais bombásticos. Homeland é um bom
exemplo disso. Mas The Americans
trouxe uma tensão crescente em um jogo de xadrez em que os personagens são
meras peças de um jogo internacional de espionagem que oprime suas vidas
pessoais.
O modo como os
russos levaram a melhor na emboscada planejada pelos americanos foi o caminho
lógico, mas mesmo assim o suspense e a tensão foram mantidos. As cenas em que
Phil vai ao socorro de Elizabeth foram de fato empolgantes, principalmente
quando Phil descobriu que Elizabeth fora baleada. Mas o encontro com o Coronel
foi anticlimático. No final, a cena em que Elizabeth pede, e russo, para que
Phil volte para o lar foi muito tocante.
De resto, o
final preparou o terreno para que a história continue em termos parecidos, mas
com riscos maiores, na segunda temporada. As manipulações de Nina contra Stan e
Phil contra Martha resultarão em viradas a serem exploradas mais tarde, durante
a segunda temporada.
2. Elizabeth
cairá numa armadilha e Nina será perdoada por Arkady e se tornará uma agente tripla.
– Isso se confirmou, mas não do modo como eu esperava. A armadilha armada
contra Elizabeth foi totalmente diferente, e Nina agiu de maneira surpreendente
ao sabotar a própria extração.
3. A
reunião com o coronel é uma armadilha, mas Elizabeth escapará ilesa. –
Essa realmente me surpreendeu. Para começar, foi Phil que foi ao encontro do
coronel, e o encontro foi calmo demais. Elizabeth realmente caiu numa
armadilha, as ao tentar pegar as fitas da escuta da biblioteca de Weinberger.
4. Os
americanos usarão o fato de terem descoberto a escuta no relógio de Weinberger
para plantar informações falsas entre os russos. – Totalmente errado.
Usaram a situação para tentar capturar os agentes do Diretório S. E teriam
conseguido se Stan não tivesse deixado escapar informações vitais a Nina.
5. Caso
o encontro não seja uma armadilha, o coronel é um militar corrupto com altos
segredos e, em troca de dinheiro, dará informações que darão uma vantagem
tecnológica significativa aos russos. – Errado. E quem diria que o
coronel era apenas um humanista? Sua intenção era apenas evitar uma corrida
armamentista desnecessária, e a informação tão valiosa que ele tinha era que,
simplesmente, o projeto do escudo antimísseis americanos era pura ficção
científica. E o dinheiro deve ter sido ideia de Sanford Prince, que entregou o
jogo em troca de grana e imunidade.
6. Nina
usará sua redenção na KGB para garantir que Stan Beeman seja punido pela morte
de Vlad. Seu motivo é vingança. – Errado. Ela virou o jogo e tornou-se
dedicada espiã para a KGB. Aliás, suas motivações iniciais de querer desertar
para os Estados Unidos nunca foram bem esclarecidas. O fato é que, em vez de
tentar matar Beeman, seu ambicioso objetivo é comprometê-lo ou até mesmo
recrutá-lo.
E quanto ao
destino dos personagens, fica interessante observar para onde penderam as lealdades.
Nina – Passou de corpo e alma para
o lado dos russos. Nesse ponto, fica difícil até entender por que ela queria
desertar. Creio que ela tenha optado pelo lado que lhe deu um senso de
propósito.
Stan – Buscou uma conexão com
Sandra, mas ela o rejeitou. No final acreditou encontrar apoio em Nina, mas
acabou sendo usado. Sua única conexão verdadeira agora é com o FBI, mas se ele
não se cuidar, até isso será comprometido.
Claudia – Teve um final acidentado.
Devido ao atrito com os Jennings, será substituída, pelo menos é o que lhe
comunicou Arkady. (Aliás foi interessante ver os dois interagindo pela primeira
vez e Arkady falando em inglês.) Claudia tentou, sem sucesso, fazer jogo duplo,
pois disse a Elizabeth que o risco de encontrar o coronel era perfeitamente
admissível, mas disse a Arkady que acreditava que o encontro era uma armadilha.
Não deu certo. Ou seja, é leal à URSS, mas também a si própria. E também foi
leal à memória de Zhukov, assassinando Richard Patterson.
Martha – Pobre Martha! É leal a
Clark, mas não sabe que Clark nem existe. Ela está totalmente envolvida por
Phil. Descobrir a verdade um dia a arrasará por completo ou ela dará uma volta
por cima de maneira exemplar.
Paige – O final sugere que ela
desconfia de algo em relação aos pais, mas não descobriu nada de concreto
ainda. Quero muito que ela descubra, pois ver como ela reagirá ao descobrir a
verdade dará nova dimensão ao personagem.
Elizabeth
e Phil – No
fim o que conta é o amor à família. Elizabeth pede para Phil voltar para casa,
e Phil atenderá. Entre todas as relações falsas que eles construíram, seu amor
aos filhos e seu casamento falso é a coisa mais verdadeira que possuem.
E aí, o que
achou da primeira temporada? E quais são suas previsões para a próxima?
Dica
musical dos anos 80:
Games without Frontiers, de Peter Gabriel (1980)
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