“Essa garota irá mudar o mundo”.
Bo Adams é uma menina extremamente talentosa, dotada de poderes especiais que nem a própria consegue controlar, e por ser uma pessoa diferente, é constantemente caçada por pessoas que a querem (ou não) para o mal. Todos acreditam na criança e por isso ela é o palco central para esse novo drama da NBC, criado por ninguém menos do que Alfonso Cuarón, a mente por trás de filmes como Gravidade e E sua Mãe também e que também tem J.J Abrams como produtor executivo (dessa vez, claramente, só nos créditos).

Para realmente entregar um texto de primeiras impressões, precisei assistir aos dois primeiros episódios, pois veja, o primeiro não é muito bom. Talvez a expectativa para cima da série era imensa e talvez isso atrapalhou um pouco a percepção sobre a série. O primeiro episódio, por exemplo, consegue, sem sombras de dúvidas, apresentar bem os dois personagens mais importantes da série – Bo e Tate, o homem que foi designado para cuidar da garota, sendo prometido ter os melhores anos da sua vida por causa disso. A aventura que ele está entrando inclui fugir de uma assassina que prefere visitar a mãe do que fazer o trabalho que foi designada para fazer e cuidar de uma menina irritante que, choquem, é a filha dele.

O piloto, em si, deixou muito a desejar por causa da condução. Sabemos que Bo é especial, mas não sabemos muito sobre a garota, tornando-se superficial essa busca. Fomos também apresentados a um grupo cuja única motivação é esconder Bo das mãos de Skouras, que também não foi bem apresentado no piloto, mas finalmente foi bem trabalhado no segundo episódio. O time é composto de Channing e Winter, sendo esse último um ex-parceiro de Skouras.

O grande problema do episódio foi a assassina, que deveria ser bem treinada, mas mal conseguiu acabar com Tate, um presidiário que foi condenado por algo que não fez. A “grande” luta entre os dois incluía voadoras que não passavam de 10 cm do chão, socos em lugares errados e a grande asneira de não verificar todas as portas de um armário. Há uma cena grandiosa em que várias pombas são chamadas por Bo para acabar com a mulher, mas tudo soou muito falso, sendo que a assassina nem sequer se abaixou do ataque. Sem contar que a cena não teve nenhum elemento surpresa e não houve uma trilha sonora para acompanhar esse momento de “suspense”.    

Mesmo assim, Bo é uma personagem carismática, mesmo que seja um tanto irritante. Tate, por outro lado, não consegue passar emoções o suficiente, mas isso com certeza deverá se tornar melhor com o passar dos episódios. A grande revelação no final do episódio também não foi muito chocante e por causa dessa revelação foi mais fácil aceitar o fato de que Tate foi o escolhido para cuidar da menina.

Além disso, o episódio centrou em um médico que se via desmotivado e que não acreditava em si mesmo para continuar na profissão. Esse foi o único lado sentimental do episódio, ao lidarem com um personagem que, mesmo aparecendo poucas vezes na tela, tinha reais motivos para estar se sentido daquela forma. Por isso, foi tocante. O que Bo disse soou natural e verdadeiro.

O segundo episódio segue o mesmo formato do primeiro – Bo e Tate fugindo de alguém (da polícia e de outro mercenário, nesse caso), ajudando alguém e lidando com esse novo relacionamento. Dessa vez, o episódio foi mais dinâmico, por contar com um número maior de personagens – Skouras finalmente apareceu com mais do que três linhas de fala e fomos apresentados ao programa que Skouras e Winter participavam, sendo esta a razão da separação dos dois parceiros e também a dualidade entre eles. Até porque, não sabemos se Winter realmente quer o melhor para Bo, mas Skouras também não parece estar interessado em machuca-la, mesmo que o personagem constantemente a chama de “coisa”. Ele parecia genuinamente feliz em um momento do episódio quando descobre que Bo estaria voltando para casa.

As cenas em Atlantic City foram interessantes, mesmo tendo abusado bastante do clichê de poderes telecinéticos para ganhar um jogo. As cenas de ação foram mais bem desenvolvidas e isso já é um ponto positivo. O roteiro, entretanto, continua deixando a desejar. Não há nenhum desenvolvimento e somos atacados por cenas aleatórias, que poderiam ter funcionado no primeiro episódio, mas que aqui, servem somente para aumentarem o tempo do episódio. Digamos que o “caso da semana” não foi muito inspirado.

O mais interessante continua sendo esse relacionamento de amor e ódio entre Bo e Tate. Pai e filha que ainda não se “conhecem” formalmente. Os dois possuem uma boa parceria e química, e isso com certeza é importante, afinal a série é sobre os dois. Os outros personagens continuam correndo por fora, mas com certeza se fossem mais bem trabalhados (leia-se: se o roteiro desse espaço para eles) se integrariam mais naturalmente com o ritmo da série.

A série seguirá esse formato procedural de “caso bonito da semana”, mas já está mais do que claro que a série será bem serializada, por se tratar de uma fuga pelos Estados Unidos. Os episódios acabaram com aquele gostinho de quero mais, já que nenhuma ponta foi realmente amarrada. Vamos torcer para que a série consiga se tornar um pouco mais interessante, desenvolvendo bem seus personagens e não abusando tanto de clichês e cenas desnecessárias. 

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