Elizabeth redescobre sua
humanidade.
Após um par de
episódios intensos em termos de ação e suspense, tivemos um capítulo mais calmo
em que alguns personagens refletiram sobre seus sentimentos, principalmente Elizabeth
sobre o amor. Mas colocar na chamada algo como “Elizabeth reencontra o amor”,
ou coisa parecida, soaria um tanto piegas. Portanto prefiro ver a questão por
um ponto de vista mais amplo, segundo o qual Elizabeth chega a se sensibilizar
e tenta, mesmo que de maneira insuficiente, recompor sua vida emocional.
A coisa toda é
precipitada por uma ação de extermínio de generais soviéticos descrita pelo
Agente Gaad. Só que ainda não ficou claro para mim se é uma política oficial do
governo, uma ação clandestina da CIA apenas, ou se Gaad, por ter contatos com a
CIA, resolveu esquentar a Guerra Fria por iniciativa própria. Como eu já disse
antes é bem possível que a CIA se envolva em operações clandestinas, mas o FBI,
como trabalha em solo americano e a ação se passa em 1981 (portanto bem antes
do 11 de setembro e do Patriot Act) tem como dever cumprir a lei. Mas por um momento
vamos nos envolver com a história e deixar esses questionamentos de lado, pois,
afinal, trata-se de um programa de televisão e, como tal, por mais realista que
seja, exagera e fantasia.
Pois bem, nessa
ação é morto o General Zhukov, o grande amigo e mentor de Elizabeth. Aliás,
fico pensando no assassino de Zhukov. Seria uma espécie de Phil Bizarro? (Para
quem não conhece, o personagem Bizarro é bem conhecido na cultura pop americana
como a cópia imperfeita do Super-Homem.) Será que os EUA têm sua própria versão
dos agentes do Diretório “S”? Bem que eu gostaria de acompanhar essa história
também.
Bem, Elizabeth,
como dizem, entra em parafuso. É interessante que, como Elizabeth depois
lembraria a Claudia, esta lhe deu a informação de que Richard Patterson,
diretor da CIA, seria o mandante, mas deu ordens de que nada deveria ser feito.
Elizabeth sempre teve grande senso de dever, mas como ultimamente só tem desobedecido
ordens (como no caso Gregory Thomas), era de se prever que ela fizesse
justamente o contrário e buscasse vingança. E aparentemente era tudo o que
Claudia queria.
Assim, no único
episódio em que não havia uma missão a cumprir, Elizabeth decide fabricar uma
com a ajuda de um relutante Phil. Tudo ia bem de acordo com seu plano até que
Patterson alegou que ele era apenas um burocrata que apenas repassava ordens de
outros e acusou Elizabeth de não ter consciência, de não ter alma e de ser uma
assassina fria impiedosa incapaz de amar. E aparentemente isso foi o que bastou
para que ela mudasse de planos.
Aliás, The Americans ganha pontos em termos de
desenvolvimento de personagem e realismo em relação a shows similares como Homeland, por exemplo. Em Homeland, a ordem de uma missão de
extermínio partiu de um homem fraco e covarde (Walden) que, para efeitos de
enredo, até que merecia morrer, enquanto que no outro extremo temos um
terrorista sanguinário e insano (Nazir). Em The
Americans fica estabelecido que a culpa de uma ação de execução é diluída em
vários escalões da burocracia e ninguém tem a culpa exclusivamente. Não se sabe
de quem exatamente partiu a ordem, por parte dos EUA, de matar os generais, nem
quem mandou que matassem os cientistas (no caso soviético), e nem quem cancelou
essa ordem.
Outra comparação
que deve ser feita é entre Elizabeth e Stan. Enquanto que Elizabeth se deu
conta que assassinar Patterson não resultaria em coisa alguma positiva que
apenas roubaria sua humanidade, Stan preferiu a ação covarde de vingança,
assassinando um jovem funcionário insignificante. E aí vemos como Elizabeth
tenta juntar os pedaços de sua vida, enquanto a de Stan desmorona.
A família de
Stan ilustra bem isso. Sandra se embebeda e o acusa ferozmente diante da
constatação de que a única explicação para as ausências de Stan seria uma
amante. Stan, por outro lado, fica incapaz de se comunicar com sua esposa, e
reage de maneira desconcertada quando seu filho aparece de maquiagem após ter
participado de uma sessão interativa do Rock Horror Show. Ele se sente incapaz
de acompanhar sua família naquilo que é importante para eles.
E eis que Stan
tenta fazer pelo menos uma coisa certa, que é romper com Nina. Tá certo que não
deve ser nada fácil, afinal, a Nina é a Nina, ora! Mas ele vai cheio de “boas
intenções” e acaba fazendo exatamente o contrário, cedendo à tentação do caso
com a bela russa.
Tudo isso
enquanto ela insiste em saber o que aconteceu com Vlad e ele dá uma mentira
totalmente fajuta. Alega não saber de nada, mas Amador era seu parceiro, Stan
trabalha na Contraespionagem e é apenas um burocrata como Vlad. Stan tem que
estar por dentro das operações e Nina sabe disso, afinal ele chega a sugerir
que a morte de Vlad foi culpa da Rezidentura, pois tiveram a chance de fazer a
troca por Amador e optaram por não fazê-la. Ora, como Stan pode conhecer tão
bem as motivações dos assassinos de Vlad e não fazer a mais pálida ideia de quem
o matou?
Na review
passada, sugeri que Nina abrisse os belos olhinhos negros diante da verdade.
Mas agora a situação fica bem mais clara: ela não pode hostilizar Stan. Ela admite
que não tem país para onde voltar, nunca mais verá sua família. Só tem como
companhia o medo e Stan.
Ah e eu ia me esquecendo
do Phil. Sabemos que ele é pai dedicado e receber seus filhotes no motel e só
ter suco quente, amendoins e porcarias de uma máquina de doces e salgadinhos
para dar aos filhos é mais do que deprimente. E quando seus filhos pegaram um
sujeito se aliviando no beco do lado do motel, isso foi a gota d’água: aí
entendo por que ele precisa de um apartamento. Mas Phil, como você pode ser tão
obtuso? Se a mãe dos seus filhos aparece com uma oferta de paz na forma de
cervejas e concorda de maneira tão calma que ele já ficou tempo demais no
motel, o mínimo que você pode fazer é ouvir o que ela veio dizer. Afinal estava
na cara que ela ia pedir para você voltar. Mas como, dizem as mulheres, homem
não sabe escutar a mulher mesmo, quando ela estava prestes a abrir seu coração
sofrido, ele vem e me solta essa, perguntando se ela quer ver o apartamento
dele. Puxa, Phil, que falta de sensibilidade!
Notas
finais:
- Elizabeth: “Não existem exigências para com as crianças
na América. Nada de tarefas a cumprir.” Não é também o problema no Brasil?
- A visita de “Clark”
a Martha teve seus momentos hilários. Valeu pela cara apatetada que Clark fez
ao ser emboscado pelos pais de Martha e a cara que ele fez quando finalmente se
livrou daquela situação constrangedora. A propósito, ao contrário do que eu
pensava, Martha tem o telefone de Clark. Imagino que os Jennings devam ter
algumas linhas telefônicas clandestinas no porão ligadas a secretárias
eletrônicas para seus disfarces. Mas como Phil resolverá isso em seu novo
apartamento?
- Nina parecia
muito confortável em seu escritório novo. E não falou a Stan sobre a escuta na
biblioteca da casa de Weinberger. Ela pode estar guardando isso como uma carta
na manga, um trunfo, ou simplesmente reavaliando suas lealdades. A propósito eu
acho que o personagem Arkady pode ser melhor explorado. Até agora ele parece,
digamos, muito seco e burocrático.
- O confronto
verbal entre Claudia e Elizabeth no final foi de arrepiar. Claudia diz que
tinha um relacionamento romântico com Zhukov. Elizabeth não acredita que
Claudia possa fazer algo além de odiar ela e Phil. Ambas trocaram ameaças
veladas. Vamos ver no que vai dar isso.
- Para quem
curte música americana dos anos 80, tivemos um prato cheio. Várias referências: Air Suply, Pete Townshend (Rough Boys), Leo Sayer,
Christopher Cross, Rufus (At Midnight - My Love Will Lift You Up), Squeeze (Slap
And Tickle), Billy Squier. Pelo menos a mim, trazem lembranças.
Aqui vai uma
pitadinha musical: In the Dark, de Billy Squier
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