The Walking Dead nos deixou em 2014 com os queixos ao chão, após uma de suas mortes mais cruéis e impactantes. Definitivamente algo capaz de rearranjar os rumos da história. Chacoalhar a trama. Mudar as peças de lugar. Por isso, era de se esperar que em seu retorno ela seguisse o território comum de fazer um episódio dedicado a tratar de temas como trauma e luto. Afinal, toda série faz isso. É um freio narrativo natural para que a perda de um personagem seja sentida e não pareça banal. Porém, "What Happened And What's Going On" segue o caminho oposto, trazendo mais sangue derramado em uma escolha de roteiro até surpreendente, mas que soa um tanto quanto no momento inapropriado.
Deixando de lado a questão de se "era hora ou não de descartar mais um personagem", uma das primeiras coisas que se nota é como esta mid-season premiere é visualmente um dos episódios mais bonitos de toda série. A fotografia parecia mais inspirada que o normal, tornando tudo muito mais fácil de engolir e digerir. The Walking Dead, de fato, nunca foi uma série que decepcionou quando o assunto é encher os olhos do público. Pelo contrário, ela usa isso ao seu favor para esconder as falhas de roteiro.
Juntando isso a uma edição inspirada. Temos um episódio tecnicamente impecável.
Desde o início, somos inundados com planos que não reconhecemos até determinado momento do episódio. Fotos de família, uma pá cavando a terra, um desenho em um porta-retrato sendo tomado por sangue, rostos conhecidos porém de personagens que já morreram. Tudo isso retrata e compõe a desorientação que Tyreese sofre ao longo deste 5x09 com perfeição e naturalidade.
Além disso, é a primeira vez que acompanhamos a perspectiva de um personagem após sofrer a mordida de um walker. E é bacana que a série tome seu tempo para focar nisso. Contudo, ela acaba tomando tempo demais. E se no começo ficamos sentidos ao ver Tyreese sendo mordido por uma criança zumbi, de uma maneira que poderia ser facilmente evitada, após quinze ou vinte minutos de fantasmas e alucinações, já estamos praticamente torcendo para que o personagem morra logo.
Não que reunir os fantasmas da série não tenha sido uma boa ideia. Inclusive, a aparição do governador vem em excelente momento e traz uma das melhores cenas do episódio, quando a alucinação dá lugar a realidade e no corte temos o querido/odiado vilão de tapa-olho sendo substituído por mais um walker faminto querendo levar outro pedaço do braço de Tyreese.
Já em termos de história, o que tivemos de avanço nos é dado de maneira rápida e (obrigado senhor!) sem 'mimimi'. Michonne sugere seguir em frente, para Washington, e Rick compra a ideia sem mais delongas. Afinal, em um apocalipse zumbi tudo o que precisamos - parafraseando a personagem - é de "mais um dia com mais uma chance" e fico feliz que a série não tenha que fazer um grande debate grupal para chegar a essa conclusão. Já passamos da fase da democracia há muito tempo.
Fato é que The Walking Dead retornou bem. Só é realmente uma pena que os roteiristas tenham escolhido esse momento para descartar mais um personagem, enquanto ainda estávamos sentidos pela morte de outro. Se a primeira perda era algo interessante por possibilitar ações imprevisíveis que poderiam vir de qualquer um, a segunda acaba tornando tudo muito frio e entorpecido. Não sentimos a morte de Tyreese como sentimos a de Beth e o timing poderia ter mudado isso.
PS.: Um detalhe interessante é a placa na porta do quarto em que Tyreese tem as alucinações dizendo "Dead End" (sem saída) e depois sendo escondida pela cabeça do governador, deixando apenas visível a palavra "Dead" (morto).
Nota: 8.5
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