Querendo voar para longe.


(Estamos correndo para atualizar nossas reviews atrasadas de Homeland para alcançar o episódio exibido mais recentemente nos EUA. Depois disso as reviews em português sairão na semana de exibição dos respectivos capítulos.)



Posso afirmar sem medo de errar que Homeland é um dos melhores dramas da televisão americana no momento. Ao começar pelo título desse episódio: “I'll Fly Away” (Voarei para longe). Essa pequena frase evoca tantas imagens poéticas, sendo a expressão tão usada em inglês, que me vêm à mente duas músicas que, embora nada tenham a ver com o programa de TV em questão, expressam bem o que os escritores quiseram dizer.
A primeira é “Come Fly With Me”, imortalizada por Frank Sinatra.
Come fly with me, let's fly, let's fly away.
If you can use some exotic booze,
There's a bar in far Bombay.
Come on and fly with me, let's fly, let's fly away.
Venha voar comigo, venha voar, vamos voar para longe.
Se você está a fim de alguma bebida exótica,
Tem um bar na distante Bombaim.
Venha e voe comigo, vamos voar, vamos voar para longe.
E a segunda é I'll Fly Away, uma canção gospel.
Some glad morning when this life is over,
I'll fly away;
To a home on God's celestial shore,
I'll fly away.
Numa feliz manhã quando essa vida terminar,
Eu voarei para longe;
Para um lar na praia celestial de Deus,
Eu voarei para longe.
Puxa, tudo isso só para explicar o título? Pois é. Acontece que a imagem é fortíssima e sugere várias coisas sobre o estado emocional de Brody, tanto o fato de ele buscar uma escapatória tanto idílica quanto espiritual para seus problemas. Será que ele consegue? Bem, senhoras e senhores, como se trata de Homeland, as coisas não são bem como parecem.
Quanto ao episódio em si, tivemos, dessa vez, a trama principal com Brody e uma secundária com Dana. Esta (a do atropelamento), por sinal, já deu o que tinha que dar e se esgotou no episódio passado, mas os escritores ainda tentaram dar um fechamento a meu ver desnecessário.
Comecemos pela história de Dana e seus esforços para expiar sua culpa no atropelamento e morte de uma pedestre inocente. Basicamente, Dana vai buscar refúgio na casa de Mike Faber, seu “pai substituto” e “marido reserva” de Jessica. A adolescente ainda está chocada com o fato de Brody ter voltado atrás em sua palavra de reportar o atropelamento à polícia e “fazer a coisa certa”. Assim, com a benção da mãe e omissão do pai (que anda com problemas de verdade com que se preocupar) ela passa a noite na casa do titio Mike.


Dana convence Mike a levá-la à casa da filha da mulher atropelada, mas o encontro com a filha revela-se bem desastroso. Confesso que não sei bem o que Dana esperava com isso. A mulher já está morta, Dana não pode ir à polícia, e sua visita só iria perturbar a filha da vítima ainda mais.
Dana também não sabe o que fazer. Balbucia algo sobre “assumir sua responsabilidade”, e quando pensa que terá apoio e solidariedade da filha, ouve uma surpreendente exigência de que Dana suma da vida dela e, principalmente, fique calada. Pois, do contrário, a filha não receberá o dinheiro prometido pela família Walden. É isso aí, Dana, melhor ficar quietinha!
Aliás, culpa é uma coisa engraçada. A pessoa se sente compelida a punir-se de alguma forma para calar esse sentimento. E o faz em nome de um senso de justiça, mas muitas vezes pode fazê-lo sem se dar conta ou sem se importar com quem ela virá a prejudicar. Sob certo aspect é um sentimento mais egoísta do que ela quer admitir. E, no caso de Dana, ela apenas quer “assumir a responsabilidade”, não importando o que aconteça com Finn, com Walden, com seu pai e com a filha da vítima.
No final do episódio, Dana, impotente diante da situação, volta para a casa arrasada e é consolada pela mãe. E esta fica sabendo que foi Carrie que impediu que Brody contasse tudo à polícia. Algo me diz que no terreno doméstico a coisa vai piorar ainda mais para nosso amigo Brody.



Bem, mas o principal no episódio foi o que aconteceu a Brody e, por tabela, a Carrie e sua equipe da CIA. Para começar, todon o caso com Dana afeta o relacionamento entre Brody e Jess, que o pressiona sobre o porquê de eles não terem ido à polícia para copnfessar o atropelamento. Brody vai perdendo a paciência e as desculpas. Quando não sabe mais o que dizer, limita-se a gritar: “NÃO POSSO NÃO POSSO NÃO POSSO!” Brody está desabando.


Felizmente para nós, espectadores, Jessica sai de cena para tratar do caso de Dana e nos deixa com Brody emocionalmente caindo aos pedaços e Carrie tentando juntá-los. Não necessariamente por amizade (aliás, as motivações da Carrie nessa história mereceriam um capítulo à parte nessa review), mas porque Brody já está bem atrasado para um encontro com Roya, a terrorista que é o contato de Brody com Abu Nazir. Como a CIA acompanhou toda a discussão, Carrie vai até a casa de Brody e o encontra prostrado no chão em posição fetal. Ele diz que desistiu. Carrie lhe assegura o quão importante é seguir o plano. Brody diz: “Tudo está caindo aos pedaços. É um pesadelo!”
Carrie consegue dar-lhe apoio emocional o suficiente para que Brody aceite ir ao encontro com Roya, mas é apenas aparência, pois sua instabilidade é evidente. Ao falar com Roya, Brody está arredio, dispersivo, confuso, faz perguntas em excesso, demonstra contrariedade com tudo.

Então chega momento em que ele põe tudo a perder. Diz a Roya que ele está fora da operação, que não quer mais nada com o plano de Abu Nazir, seja qual for. Sai e deixa Roya plantada no meio da multidão. O pessoal da CIA se desespera, é claro: a operação com Brody acabou! E ele irá para a cadeia por muito tempo.
Se antes podia parecer que Brody poderia pender para qualquer um dos lados, ou que ele poderia estar manipulando tanto Roya quanto Carrie, agora vemos que ele não é capaz de ir a lugar algum. Simplesmente entra em pane. Quer mais é jogar tudo para o alto e, quem sabe até voar para bem longe de tudo. Eis aí um homem que chegou ao seu limite emocional para lidar com uma situação de estresse extremo.
Quinn imediatamente dá ordens para que Brody seja preso e é exatamente o que Carrie fará, certo? Se você respondeu que sim, então não conhece mesmo a Carrie. Ela teimosamente quer, à sua maneira, consertar tudo, colocar Brody nos eixos, salvar a operação e danem-se as ordens de Quinn.
Carrie vai atrás de Brody e, antes que ele tenha chance de reagir, leva-o para para um lugar onde ela fará sua última tentativa para salvar o agente duplo e a operação. Brody já não aguenta mais e, por ele, eles talvez até voassem para muito longe, para algum lugar exótico, como na canção de Sinatra. Mas como estamos falando de Homeland, a “fuga” se dá para um motel barato que, ainda por cima, é um “porto seguro”, que na linguagem código da CIA significa local vigiado onde pessoas de interesse buscam refúgio.
Lá, Carrie tenta de tudo para convencê-lo. Brody afirma que queimou todas as pontes com todo mundo, que está mais sozinho do que jamais esteve, que está tudo perdido e que, pelo menos, ele não terá mais que mentir para todos. Carrie argumenta que a operação ainda pode ser salva e que, se ele ajudar a pegar a pegar Nazir, ele será um herói de verdade e tudo que fizeram terá sido mero expediente para chegar ao sucesso desejado. Tudo será perdoado.
“Inclusive o que eu foz com você?” pergunta Brody.
“Claro, até isso” responde Carrie (mesmo que a gente tenha sérias dúvidas da sinceridade dela nesse ponto).
“Você sabe o quão louca todos dizem que você é? Você é mais louca que isso”, diz Brody.
Carrie diz que ele não está sozinho, pois a tem.
E, como deixar esses dois junto num quarto em um momento altamente emocional só poderia resultar em uma coisa, o que acabou acontecendo foi isso:

Como eu disse, o motel é um “porto seguro”, portanto a CIA tem “olhos” e “ouvidos” no local. A cara de vergonha de Saul e de censura de Quinn ao escutarem aos sons dos dois pombinhos transando é impagável. Quinn acha aquilo tudo um absurdo, mas Saul o convence de que Carrie está fazendo o necessário para controlar Brody.


Pela manhã, Brody já está mais calmo. Com a cabeça no lugar, e, mais capaz de enfrentar seus problemas e, não de fugir deles, Brody liga para Roya e pede para voltar à operação. Ela aparentemente concorda, mas soa evasiva e ficamos com sérias dúvidas de que ela tenha acreditado na sinceridade dele, especialmente quando ela retira a bateria de seu celular.
Mais tarde, quando Brody está saindo do trabalho à tardinha, Roya o surpreende na garagem. Entra no carro dele e manda que ele dirija. E aí começa uma das mais lentas (e emocionantes) perseguições de carros da história da TV.


E eles vão para longe, até sair da cidade. Enquanto isso Carrie o segue em uma van com Virgil e Max enquanto Quinn e Saul acompanham tudo o que Roya e Brody dizem pelo celular dele.
A tensão é crescente. Brody tamborila com os dedos sobre o volante. Ela pergunta se ele está nervoso. Ele desconversa, diz que são problemas com a família. Ela não parece acreditar muito. Ele faz perguntas sobre a operação. Ela o manda se acalmar. E eles vão dirigindo para fora da cidade. E o clima vai ficando cada vez mais pesado.]
Então Roya retira a bateria do celular de Brody, e a CIA fica sem ter como ouvir a conversa. Carrie, Virgil e Max seguem ao longe, mas obtêm poucas informações. E, como se não bastasse, vai escurecendo.
O tempo passa e agora tudo está escuro como breu. Roya manda Brody parar em um ponto qualquer. A van de Carrie os ultrapassa e, quando percebem, estacionam mais adiante, sem saber o que fazer.
Chega mais um homem e se une a Roya e Brody. Carrie quer dar uma olhada mais de perto na figura e propõe passar pelo lugar.
“Acho que alguém entrou no carro”, diz ela “Quem?”
“Uma figura humanoide”, responde Virgil exasperado. “Não consigo ver merda nenhuma aqui!”
Quinn autoriza que eles deem uma passada rápida pelo local desde que não levantem suspeitas. Quando eles passam, Max tira uma série de fotografias. Eles identificam o estranho como o misterioso terrorista Sr. X.
Carrie quer voltar e prendê-los, mas Quinn não quer perturbar a cobertura de Brody. Ela teme pela vida de Brody. Contra as ordens de Quinn, Carrie sai do carro e vai em direção de onde está a van de Brody e nota que ele está sendo conduzido para longe do carro, em direção a uma clareira ao lado.
“Eles o pegaram. Vão matá-lo!” ela berra no celular. Eis que ouvem um helicóptero, que pousa. Brody vai sendo levado até ele.


“Estamos o perdendo!” ela diz, e antes que ela possa alcançá-los, Brody é colocado no aparelho e este levanta voo. “Eles se foram!” ela afirma desesperada. E foi assim que, literalmente, Brody voou para longe. Não para um lugar de escape, não para um refúgio espiritual, não para longe de seus problemas. Ao contrário, vai para as garras daqueles que o torturaram e fizeram-lhe lavagem cerebral por oito anos.

Após voar por tempo indeterminado, Brody é levado para um armazém abandonado. Chega um carro e dele sai uma figura. Só quando o estranho chega perto Brody pode ver quem é. Trata-se de Abu Nazir em pessoa, só que sem barba.


Ele limita-se a dizer apenas uma palavra: “Nicholas...”

Responda, ou será mandado para Guantânamo:

- Muito bem, até agora os terroristas revelaram que possuem em solo americano uma equipe de comandos bem armada e treinada, um helicóptero, um terrorista que as autoridades não conseguem identificar, e até mesmo o próprio inimigo público número 1. Isso parece realista? O Department of Homeland Security não passa de um bando de incompetentes? Que mais recursos os terroristas podem ter?
- Se não for morto, será que Brody sofrerá lavagem cerebral novamente? Ele voltará desse encontro com Abu Nazir? Em que condições?
- Será que os escritores conseguirão criar alguma coisa interessante para Dana, Jessica e Chris (sim, Brody tem um filho também) fazerem?
 
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