As aventuras do novo e bom Charlie Sheen.
Parece que os dias de bon vivant e empregado mau exemplo de Charlie Sheen realmente acabaram. O irresponsável, riquinho e mulherengo Charlie Harper deu lugar ao responsável, trabalhador e, claro, mulherengo Charlie Goodson.
Depois das desventuras do ator em Two and a Half Men, e dele conseguir a façanha de ser demitido mesmo ganhando 2,5 milhões de dólares por episódio, a FX teve a coragem (e bota coragem nisso) de contratá-lo para o papel de um terapeuta divorciado e pai de uma filha.
Mas a verdade é que Anger Management é a terapia do próprio Sheen se recuperando depois de ser chutado. De cara, a primeira fala dele é a de um empregado brigando com o patrão e se demitindo em seguida – um recadinho à CBS e à Chuck Lorre.
A promoção da nova série se aproveitou bastante da tumultuada demissão. Frases como “Todo mundo merece uma 24ª chance” e teasers onde ele mostrava sua cara sapeca – e viva – dentro de um caixão, faziam graça da desgraça ocorrida. O título, “Controle da Raiva”, também leva ao mesmo assunto, lembrando-nos do Charlie descontrolado e perdido na época da confusão.
No entanto, Anger Management tenta criar sua própria originalidade, arrumando um passado para o protagonista e características que o distinguem, ou tentam distingui-lo, do velho Charlie.
Este novo homem, apesar de ainda mulherengo, é um homem que reconhece quando precisa de ajuda para manter o autocontrole no eixos. O fato de ele ser terapeuta, defender a terapia, e dormir com sua terapeuta, “facilita” para que ele tente se controlar quando os ataques de fúria começam a ficar saidinhos.
E como este “autocontrole” não poderia vir sem uma pegadinha, eis que sua terapeuta é também sua parceira sexual dos sonhos, aquela que gosta de sexo e dispensa o papinho de sentimentos. Dessa bagunça dos dois saem algumas boas risadas. Ele precisa de terapia, porém é antiético para o terapeuta dormir com seu paciente. A não ser que este paciente seja Charlie...
A causa dos ataques de fúria saidinhos é o namorado da ex-esposa, que com suas estatísticas de burrice, resolve convencer a filha de Goodson que ir à faculdade não é uma boa coisa. Como o bom papai-leão que Charlie é, tal atitude faz com que ele fique atiçado para a briga... para logo em seguida perceber que está perdendo as estribeiras outra vez.
Acontece que Goodson era um jogador de beisebol com futuro promissor, não fosse o fato de um ataque de raiva resultar nele machucando a si mesmo e finalizando sua carreira. Uma analogia que também pode ser levada ao contexto de Two and a Half Men...
Mas, agora ele é um novo homem e um novo profissional. Como terapeuta, ele ajuda seus (caricatos) pacientes a controlarem a raiva. Vira e mexe ele usa exemplos de sua própria vida, como no caso do beisebol, para ilustrar para eles os “efeitos” da raiva. E como tudo tem que vir com uma pegadinha...
O passado volta a assombrá-lo, através de sua slumpbuster (“tira azar”) Mel, a menina feia e gorda que ‘tirou’ o azar dele e o fez entrar na liga principal de beisebol. Charlie tenta consertar este erro se ‘sacrificando’ ao namorar Mel e sendo gentil com ela. O velho bon vivant insiste em buscar sua redenção.
Mas será que com Anger Management, uma comédia ainda fraca, Sheen conseguirá se redimir? Ele foi claro ao dizer que não queria deixar o que aconteceu em Two and a Half Men ser o seu legado na TV mas, se esta é a tentativa de construir um novo e melhor legado, ele precisa trabalhar muito mais.
O único forte de AM é a presença do próprio Sheen. O resto do elenco é um pouco engraçado, mas não engraçado o suficiente. A adição da filha e da ex-mulher na história foi uma ótima ideia, só que falta “algo a mais” para essa ideia fazer rir.
E é isto que falta na série: fazer rir. As ideias podem ter sido ótimas, o contexto pode ter sido o mais oportuno, o protagonista pode ter sido o mais interessante do momento, a audiência da estreia pode ter sido um grande sucesso... Mas de nada adianta tudo isso se a comédia não consegue cumprir sua primeira obrigação. Falta muito para Charlie Sheen se redimir.
Anger Management foi desenvolvida por Bruce Helford, que também escreveu o piloto. Andy Cadiff dirigiu "Charlie Goes Back to Therapy" e Gerry Cohen dirigiu "Charlie and the Slumpbuster". Selma Blair interpreta a Dra. Kate Wales, Shawnee Smith faz Jennifer Goodson, Daniela Bobadilla faz Sam Goodson, Michael Arden faz Patrick, Noureen DeWulf faz Lacey, e Derek Richardson faz Nolan. Charlie Sheen atua como o protagonista Charlie Goodson e também é produtor executivo da série, que é baseada no filme de mesmo nome de 2003 (estrelado por Jack Nicholson).
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