É a hora dos coadjuvantes reinarem em Suits.
O roteiro de Suits não dá descanso para ninguém e voltou mais inteligente do que nunca para a segunda temporada. Evitando o desgaste de seus protagonistas, a série não só está desconstruindo-os ferozmente, como está dando um imenso espaço para os que coadjuvam brilharem. E esta tática está dando muito, mas muito certo.
Louis, por exemplo, é a prova de que deixar de mostrar um personagem superficialmente, apenas como um vilão ocasional, é uma atitude inteligente. Aquele homem asqueroso e invejoso que conhecemos na temporada passada não existe mais. Em "Meet the New Boss" e "Discovery", nós descobrimos um mundo todo novo por trás dele.
Louis não fica só procurando a aprovação de Harvey, Jessica ou Daniel. Ele realmente trabalha. Mesmo sendo um pé no saco com os associados, ele é um verdadeiro professor para eles. Além de tudo isso, o mérito é todo dele quando ele brilha ao advogar. Seu único erro é justamente o que Mike falou naquele momento de franqueza: ele apronta com os outros e espera que se esqueçam de tudo. É uma grande ironia porque ele mesmo não se esquece de nada. Muito pelo contrário. Ele até vai além da ética para ver o que os outros pensam sobre ele.
Até a avó de Mike teve seu destaque. Fiquei impressionada com a boa atuação de Rebecca Schull. Ela e Patrick J. Adams formam A DUPLA DINÂMICA em cena (não deixem o Harvey ler isso), com o relacionamento de Edith e Mike sendo tão único e tão divertido, que ficou difícil de entender porque ela não marcou presença na primeira temporada.
Outra coadjuvante que teve seus quinze minutos de fama foi Rachel. Era óbvio que ela iria reagir ao término repentino do namoro, mas essa garota conseguiu se contradizer completamente. Na temporada passada ela condenou Mike por ele burlar a prova de Harvard, logo, ela certamente não suportaria vê-lo exercendo a profissão dos sonhos dela enquanto o nível de estudo dele é tão insuficiente quando o dela. Ainda bem que ele não cedeu àquela cara de choro.
Para que ela não fique boiando, Suits colocou o bobo Harold para sonhar com a beleza da moça. Como se não bastasse, a série ainda caprichou mais e nos presentou com um Happy Hour de Donna com Rachel aprontando as maiores safadezas no bar. Alívio cômico é o que não falta.
Mas a coisa começa a ficar séria a partir do 2x04. Travis Tanner voltou sedento por vingança, e desta vez suas armas não são meros falatórios. Depois de levar uma baita surra de Harvey no 1x09, Undefeated, ele aprendeu que para jogar com seu arqui-inimigo ele precisa de não só estar dentro da legalidade, mas enfraquecer aqueles que apoiam Harvey. Porque, no final das contas, é assim que Harvey Specter sobrevive, pela lealdade e confiança que dedicam à ele.
E porque não dizer, Tanner está conseguindo. É claro que com uma oportunidade dessas, Daniel está jogando com tudo o que tem para tirar Harvey do panorama, enfraquecer Jessica, e retomar seu antigo trono. No meio disso, Donna teve que ser sacrificada. Digo sacrificada porque, se não estivesse encurralado, mesmo que ela tenha errado duas vezes, Harvey certamente lutaria por ela. Porém, como ele não tem alternativas agora, a única opção foi salvar a si mesmo enquanto sua fiel escudeira saiu como bode expiatório.
O melhor desta tensão em Suits é que podemos ver um lado novo na interpretação de Gabriel Macht e Sarah Rafferty. Aquela cena deles discutindo no banheiro, culminando nos olhares trocados quando ela foi demitida, foram os melhores momentos de Harvey e Donna, senão os mais verdadeiros. A tensão sexual está lá, a cumplicidade mútua está lá, mas como nada no mundo de Specter é simples, tais sentimentos vão demorar a se concretizarem. Aliás, se em circunstâncias "normais" eles já demorariam, imagine agora.
Com isso, Harvey também deixou de ser Undefeated. Ele vem perdendo de novo e de novo, e tudo o que ele tenta fazer dá errado. Ainda por cima perder Donna...
Imagino que haverá tempos mais difíceis pela frente. Considerando que estamos antes da metade da temporada, se Tanner já está marcando pontos agora, ele certamente conseguirá marcar mais alguns. O agravante disso é a presença de Daniel que, mesmo sem ter combinado, juntou suas forças com Tanner para destruir o inimigo em comum. Quanto a isso, o 2x05 já desmente as palavras de arrependimento que Hardman vinha soltando nos episódios anteriores.
É realmente difícil de acreditar neste homem, afinal, o passado que ele tem o condena por mil vidas. Mas, mesmo assim, ainda há a possibilidade de ele estar sendo sincero. Acontece que, se for verdade mesmo, suas boas intenções provavelmente se esgotaram depois de tanta patada de Jessica e Harvey. Se os dois podiam ter um aliado em Daniel, agora é certeza que não devem ter mais.
Este novo arco central está tomando proporções tão grandes em Suits que vejo o lado procedural sendo cada vez mais comprimido. Em "Break Point", por exemplo, Mike ficou com o caso da semana e o resto do elenco se concentrou no plot da fraude. Tal mudança, é claro, é mais um sinal da imensa qualidade da série. Parabéns para Suits que consegue ficar melhor a cada capítulo e tem a coragem de surpreender o telespectador com tudo o que antes julgávamos improvável de acontecer.
Observações:
- Gente, Louis chorando pelo gato morto e Rachel consolando-o? Suits está sendo generosa mesmo.
- E Sheila Sazs, hein? Tragam a alma gêmea de Louis para personagem regular logo! O cara passava fio dental no gato!
- Louis é tão oposto de Harvey que, enquanto este corre do tribunal, o outro faz de tudo para levar o oponente até lá.
- Suits está caprichando pra valer em referências culturais e nos diálogos cômicos. Well done.
- Suits está caprichando pra valer em referências culturais e nos diálogos cômicos. Well done.
- Foi ótimo ver a lua de mel entre Mike e Louis. Melhor ainda foi ver Harvey com ciúme.
- Que agonia foi assistir Donna indo embora. Harvey bobo nem para dar um abraço nela.
Suits Quote:
Mike: Obrigado.
Harvey: Quis dizer eles, não você.
Mike: O quê? Mas eu encontrei. Me faz ainda mais inteligente.
Harvey: Não seja arrogante. É inconveniente. [...] Em você. Eu posso ser.
Mike: É melhor me tratar bem porque eu sei onde ela mora.
Louis: Onde quem mora?
Harvey: Meu amor do colégio. Nos falamos no Facebook.
Louis: Besteira, você não é tão sentimental.
Harvey: Sim, eu sou.
Mike: Ela foi a primeira dele.
@nanydng
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