Quando é que o Rio Amazonas seca, mesmo?

Provavelmente você, assim como eu, deve ter visto "The River" ao deparar-se com vídeos promocionais liberados há semanas, onde os mesmos revelavam uma série de Oren Peli (produtor dos aclamados "Atividade Paranormal") e Steven Spielberg (nem vale a pena citar algumas das suas obras geniais) com um número gigantesco de referências ao terror contemporâneo. Sendo assim, amante do gênero e obviamente de séries, fui acompanhar o piloto duplo da nova aposta do canal ABC.

E sem muitas expectativas, posso dizer com absoluta certeza que o que vimos em tela chega a ser uma ofensa ao gênero construido nos últimos anos. Se você nunca assistiu "Atividade Paranormal", "A Bruxa de Blair" e outras proezas feitas com as famosas hand-cams provavelmente se divertiu e tirou grande proveito do terror ao qual "The River" aposta. Eu não.

O problema realmente se encontra em quem já viu os filmes e não consegue engolir a quantidade absurda de cenas, elementos e similaridades que saltam os olhos e causam uma reação totalmente oposta ao que deveriamos sentir, o riso.

Já que é impossível evitar comparações, é necessário dizer que os filmes até agora citados são o sucesso que são porque apostam em uma atmosfera de realismo, onde apesar do tema sobrenatural, o uso das câmeras caseiras dão ao espectador um grau verossímil que consegue ser assustador e asfixiante.

No momento em que as câmeras são postas de ângulos improváveis em relação a pessoa que as segura e diversos cortes que partem de diferentes sentidos são feitos, o realismo se perde por completo. Sem contar no fato intragável que é a quantidade absurda de câmeras que existem em apenas um cômodo do barco, por exemplo, onde a série ambienta-se. Outros absurdos são impossíveis de não citar, como as câmeras que foram instaladas em segundos em meio a selva escura, câmeras portáteis que só não possuem definição perfeita devido aos riscos digitalizados que são postos durante a edição da série.

E se por um lado, "The River" nem sequer dar-se o trabalho de realizar o principal feito de muitos dos filmes que citei anteriormente, o famoso efeito "parece real", a salada de elementos sobrenaturais, sustos e personagens caricatos dão-se o trabalho de se levar a sério. Algumas cenas com as bonecas, por exemplo, apenas me causaram risos, especialmente a virada de pescoço e a piscadela de "quero ser Barbie, mas sou Susie".

Digo isso de uma série que precisa por o nome dos personagens em tela a cada momento em que surgem, como se o espectador sentisse a necessidade de ver seus nomes cada cinco minutos. Se o objetivo era dar um ar documental. Dispenso.

Porém sou incapaz de dizer que este piloto duplo foi de todo mal. Enxergo uma melhora em "Mabeley", segundo episódio da série, que poupa o trabalho de focar em diálogos imaturos para dar vez ao terror do desconhecido a la "Bruxa de Blair" (olá, bonecas penduradas) e com uma pitada de "Atividade Paranormal" nos corpos sendo arrastados e objetos sendo arremessados (confesso que a cena do ursinho me causou o bom efeito que vemos em Paranormal que é o bom "o que vai acontecer agora? O QUE VAI ACONTECER AGORA?").

De certo modo, consigo ver entretenimento em "The River", seja pelo lado risível (um dos motivos pelo qual ainda vejo "True Blood") ou pelos sustos gratuitos. Aconselho a não a levar a sério e provavelmente ficará diante de uma das mais divertidas séries de comédia de todos os tempos. Quero também aconselhar Spielberg, para que pare de por seu nome em qualquer atrocidade que é lançada na TV, ainda que seja por um chegue recheado de alguns milhões de dólares. O mesmo vale para Oren Peli. Peço para que pare com "The River" e vá fazer um 4º filme de Atividade Paranormal para explicar o final do 3º. Agradeço.

Para finalizar, minha curiosidade remanescente é como a série pretende se sustentar por mais do que 10 episódios. Não consigo enxergar "The River" com mais do que uma temporada, tendo um final digno, bem amarrado, muito menos recebendo prêmios. Vejo nela a nova "nova Lost", ou seja, tentativa que sempre, repito, sempre acaba em fracasso.

PS.: Adorei saber que se eu engolir uma mosca, eu encarno a minha avó.

PS.2: O macaco com o rosto de boneca na cabeça foi a coisa mais bizarra do episódio.

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