...e explosivo. Assim pode ser
descrito o season finale de Homeland. A começar com as previsões
que foram feitas pela imprensa especializada, os caminhos previstos
de acordo com as pistas plantadas nos episódios anteriores foram
abandonados e terminamos com uma reviravolta inesperada e
eletrizante. Bem, não posso me responsabilizar pelo que previu a
imprensa em geral, mas posso dizer que errei algumas coisas e acertei
outras. Vejamos o que eu disse na minha coluna anterior:
“...é provável que os
dois (Brody e Carrie) estejam pensando que o pior já passou e agora
terão uma chance juntos. Mas ainda há muitas engrenagens em
movimento.”
Acertei! Dito e feito! A
primeira parte é dedicada ao idílico romance entre Carrie e Brody
na igualmente idílica cabana na floresta. Temos, assim, uma breve
amostra do que seria a vida entre os dois sem Abu Nazir. Com Brody e
Jessica rompendo, Brody e Carrie podem até ensaiar uma vida a dois.
E, temos que admitir, esses dois têm química juntos e fica difícil
não torcer por eles.
Numa dessas, Carrie diz uma
frase ingênua, mas que reflete seus mais profundos desejos:
Carrie: “Finalmente não
há mais segredos entre nós.” Ora, sua tonta, todos ainda
suspeitam que ainda existem milhões de segredos entre vocês. Por
exemplo, tem a vez em que Brody salvou a vida de Abu Nazir e as
circunstâncias exatas da morte de Walden. Mas isso é outra
história. Mas Brody responde, em inglês:
Brody: “Scarry?”
(“Dá medo?”) Aí só me chamou atenção que se eu
tivesse uma namorada chamada Carrie, eu jamais usaria palavras feias
que rimassem com “arry”, especialmente “scarry”.
“Quinn (…) ainda tem a
missão de matar Brody. E, pelo que vimos até agora, não deu
indicações de que venha a mudar de ideia.”
Errei... Mas não é que ele
mudou! Ora, eu esperava que boa parte do episódio fosse uma versão
de “O Fugitivo”, em que Brody evadisse às tentativas de Quinn de
matá-lo. Mas ainda nos primeiros minutos do programa, Quinn, ao ver
Brody tão bem com Carrie e contatando que Brody cumpriu suas
promessas e que não se levantaria politicamente, missão de matá-lo
seria apenas para cobrir o “traseiro” (os erros) de Estes.
Teria Quinn sido tocado pelo
poder do amor? Bem, não exatamente, pois isso é Homeland,
não Once Upon a Time. Mas o senso de justiça de Quinn falou
mais alto o suficiente opara esse dar uma visitinha noturna a Estes e
ameaçá-lo com seu lema favorito:
Quinn: “Lembre-se. Eu sou
o cara que mata os caras ruins.”
“Saul, que faria o
possível para honrar o acordo feito com Brody, está com as mãos
atadas.”
Errei. Sim, eu estava certo no
que diz respeito a Saul nada poder fazer para salvar Brody, mas achei
que a situação também se estenderia por boa parte do episódio,
com Saul tentando avisar Carrie e salvar Brody. Contudo Estes
entendeu o recado de Quinn muito bem e imediatamente soltou Saul e
corrigiu o fatídico relatório do polígrafo que incriminava o
prisioneiro. É claro que Saul estava p--- da cara por ter ficado
trancado numa sala por três dias.
“É possível que alguns
membros ainda persistam com instruções do tipo “em caso de minha
morte...” na organização de algum ataque surpresa.”
Acertei em cheio! O ataque ao
velório de Walden na CIA foi fulminante e absolutamente inesperado,
o que fez com que Homeland encerrasse com chave de outro.
Realmente foi um chamado game change de primeira grandeza.
Assim, tivemos um final com uma visão profunda sobre os sentimentos
dos protagonistas, mas ao mesmo tempo, ação plena para ninguém
botar defeito. Parabéns, roteiristas!
“Acredito também que
algum personagem importante irá morrer, ou se revelará aliado dos
terroristas.”
Acertei! (Bem, se você ignorar
a parte de aliado dos terroristas.)
David Estes: RIP (?) - 2012.
David Estes: RIP (?) - 2012.
“Ainda é possível que
Brody tenha que se valer do auxílio da estrutura de Nazir pelo fato
de estar sendo perseguido pela CIA, e Carrie poderá ainda se tornar
uma agente rebelde na defesa de Brody.”
Errei. Como a Al-Qaeda armou
para Brody, lançando a gravação da confissão do primeiro e
frustrado ato terrorista da 1a temporada, me parece que ele será
perseguido pelos dois lados. E Carrie quase escolheu fugir com Brody,
mas no fim decidiu que voltaria à CIA e limparia o nome dele.
E aí, afinal, Brody tem ou não
culpa no cartório?
O emocionante de Homeland
é que a resposta pode ser tanto sim quanto não. Pelo que vimos dos
sentimentos dos dois, e pela maneira como a Al-Qaeda armou para
Brody, ele me parece ser mais uma vítima da situação. E a gente
torce para isso. E o indicativo mais contundente é o depoimento de
Dana: ela falou com o pai pouco antes do ataque. Ficou chocada com o
fato de ele ter pretendido cometer um ato de terror vestindo aquele
colete suicida no término da 1a temporada, mas pela reação calma e
comportada do pai dessa vez, ela tem certeza de que aquele não era o
estado mental de de um Nicholas Brody prestes a executar um ataque
que iria custar mais de 200 vidas.
Contudo muitos dos atos de
Brody podem ser interpretados como suspeitos. Brody, ao dizer a Mike
que o amigo “pode continuar cuidando de Jessica e das crianças
porque agora eu não posso” pode significar tanto que Brody
planejava um tempo para autoconhecimento e romance com Carrie, como
sabia que se tornaria um homem procurado.
Tem ainda o fato de Brody ter
estacionado no lote C (o que vimos), e que seu carro foi movido. E
que Brody, ao observar que seu carro estava no lugar errado, chegou a
comentar segundos antes da explosão:
Brody: “Engraçado,
mudaram meu carro de lugar.”
Carrie: “Oh, foda...”
KABOOM!
Carrie: “Oh, foda...”
KABOOM!
Brody poderia estar realmente
demonstrando surpresa. Mas supondo-se que ele é culpado, ele teria
que ter chamado atenção a esse fato para que Carrie o ajudasse,
caso contrário, ela nem acharia que ele teria motivos para se
esconder. Isto é, foi apenas pela observação “inocente” de
Brody sobre seu carro que Carrie descobriu que a bomba estava lá e
que Brody estava sendo “incriminado”.
E a explicação de Brody de
que tudo seria parte de um grande plano de Nazir não me parece que
se sustenta, pois dependeria de inúmeras variáveis que Nazir não
poderia controlar. Esse tipo de teoria acaba fugindo dos limites da
plausibilidade.
No final, Saul terminou
encarregado daquela seção da Agência após a morte de seus
superiores, apenas restando-lhe rezar a prece do Kaddish diante
daquele mar de mortos.
Certamente a consternação de
Saul é grande pelo evento de horror em si, mas a sensação também
é amplificada pela ausência de Carrie. Já ao discutir as baixas,
Saul e a outra agente falam do fato de Carrie e Brody estarem
presumidamente mortos. Mas em nenhum momento Saul coloca isso
explicitamente. Quando sua mulher liga para ele e pergunta por
Carrie, ele apenas diz: “Foi-se”. Mas
quis dizer que partiu para a outra vida, ou simplesmente fugiu com o
amante terrorista?
Portanto
a cara que Saul faz quando finalmente vê Carrie chegar é ambígua e
significativa. Para mim, é a cara de um pai feliz em ver que a
“filha pródiga” retorna, mas é também a de um pai conformado
com o castigo que terá que aplicar na filha rebelde. Algo me diz que
Carrie terá que prestar muitas explicações e que não será fácil
para ela reintegrar-se à CIA e fingir que não sabe do paradeiro de
Brody.
Assim
terminamos nossas reviews/recaps de Homeland. Ainda pretendo, semana
que vem, postar um texto sobre um balanço das duas primeiras
temporadas, onde poderemos discutir previsões mais amplas sobre a
série em geral. Enquanto esse momento não chega, pense e
responda...
-
Brody é inocente ou culpado no atentado? Podemos confiar no
julgamento de caráter de Dana?
-
Carrie agiu certo com as escolhas que fez?
-
Como Quinn deve estar se sentindo tendo tido a chance de matar Brody?
-
Alguém mais poderia estar envolvido com os terroristas? Saul?
Quinn? Dar Adal?
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