É uma péssima ideia mexer com o filho de uma leoa.

Missing é aquela série que parte do elemento surpresa. No início tudo o que você vê é um casal apaixonado, um filho lindo e uma família decidida a trazer mais um membro ao mundo. De repente o carro explode com o pai dentro, deixando a mulher viúva e o filho órfão. Dez anos se passam e tudo ainda parece normal e tranquilo.

O filho, Michael Winstone (Nick Eversman), é aprovado num curso de verão em Roma, lugar onde seu pai foi assassinado. A mãe, Rebecca Winstone (Ashley Judd), não vê com bons olhos a ida dele para lá, mas diante da imensa vontade do bom filho, fica impossível dizer não. Durante os minutos seguintes o episódio deixa claro a forte relação que existe entre mãe e filho, o que serve para evidenciar que o sumiço de uma semana dele não é algo comum. E aí o elemente surpresa acontece.

Se você já assistiu Risco Duplo (Double Jeopardy) estrelado por Anshley Judd, nem tudo será tão surpresa assim. Neste filme ela interpreta uma mulher que é condenada pela morte do marido. Como consequência, ela deixa seu filho ser adotado por uma amiga de confiança que, depois, se revela cúmplice do “falecido” marido no forjamento de sua morte.

Em Missing, o marido que morreu também existe. As diferenças começam com o fato de que ela não foi condenada por nada e seu filho foi criada por ela mesmo. Na série ela também é uma agente da CIA (assim como o esposo era) – daí a capacidade de derrubar um homem mais jovem e armado e falar diversos idiomas. A semelhança com o longa volta a acontecer quando ela sai atrás de Michael derrubando qualquer um que entre em seu caminho. E neste caminho está a CIA morrendo de medo do "monstro" que ela própria criou.

Pelo jeito, Rebecca foi excelente em seu trabalho. O agente Dax Miller (Cliff Curtis) recebe a tarefa de ir atrás dela e mandá-la de volta para os EUA. Seus superiores deixam claro o quanto temem o que Rebecca pode fazer, independente de ela estar procurando seu filho ou não, e independente de ela estar aposentada há 10 anos.

Assim que Dax encontra sua fugitiva, ele oferece à ela a “procura nos termos da CIA”. Mas Rebecca prontamente nega, afinal Michael não passaria de uma moeda de troca para a agência. É neste momento que temos o melhor diálogo deste piloto onde ela reafirma toda sua determinação:

Dax: Minhas ordens são para colocá-la num avião.
Rebecca: Volto no próximo voo.
Dax: Cancelaremos seu passaporte.
Rebecca: Você é idiota? Tenho passaportes no mundo todo.
Dax: Vigiaremos os aeroportos.
Rebecca: Venho a nado.
Dax: Você precisa ir para casa, ok? Não admitiremos pessoal da CIA fazendo as coisas a seu modo.
Rebecca: Não sou da CIA. Sou uma mãe à procura de seu filho.

Nem de longe Dax conseguiria deter essa mulher. Tanto que na base da conversa ela acaba convencendo-o a lhe dar duas horas de “vantagem”. Mas é neste meio tempo que ela encontra o galpão onde os sequestradores mantinham seu filho. E neste mesmo lugar, a evidência de que Michael é vigiado desde pequeno pelos seus sequestradores.

E aí me lembro do filme outra vez. As fotos que Rebecca encontra têm Michael na viagem que fez com o pai. Além disso, como Missing já mostrou que gosta do elemento surpresa, não seria tão imprevisível se descobríssemos que, assim como em Risco Duplo, o marido não é simplesmente a vítima de um assassinato. Contudo, se ele realmente tiver morrido, ainda assim suspeito que sua morte tem alguma ligação com o sequestro de Michael. Isso jamais seria apenas uma coincidência. Ou seja, para qualquer lado que a série for, sua trama não será exatamente original.

Porém vale à pena dar uma chance à Missing. Não é a primeira vez que Ashley Judd está num papel desses, mas o personagem de mãe desesperada e destemida lhe cai como uma luva. E a ABC consegue executar muito bem a proposta da série, mesmo que não seja a primeira a fazer isso. E ainda tem o ótimo elenco no jogo.

Cliff Curtis faz seu Dax com um misto de imponência e obediência. Ele começa sendo o algoz de Rebecca mas logo começa a ser seu aliado. Adriano Giannini despeja a overdose de sensualidade na medida que Missing precisa, como o antigo interesse amoroso (e colega de trabalho) da protagonista, Giancarlo Rossi. Keith Carradine aparece pouco no piloto, mas como o mentor de Becca, Martin Newman, ele certamente terá mais espaço no futuro. E Sean Bean (Ned Stark de Game of Thrones), que mal chegou e já morreu, não deixa de brilhar em seus poucos minutos como Paul Winstone. Minha aposta é que ele aparecerá mais, seja em flashbacks ou na atualidade como possível vilão.

Missing é a série de ação estrelada por uma atriz na casa dos 40 anos. É fato que a TV americana atualmente tem várias (boas) séries do mesmo estilo, mas ainda assim esta é uma série prazerosa de se ver. Não chega a ser indispensável e também não é um trama para se prolongar por muitas temporadas. Além disso, é quase certeza de que sabemos como será o final. Porém, o que vai acontecer até este final chegar, com o (ab)uso de elementos surpresa (como o da última cena)... é o que fará Missing conquistar seu lugar ao sol - e na TV dos telespectadores.



Observações:

- Gregory Poirier criou a série e escreveu o roteiro do piloto, que foi dirigido por Steve Shill.

- Missing estreou com rantig de 2.0. Ou seja, apenas 2% da população americana entre 18-49 anos viu o piloto da série. Isso é menos que Charlie’s Angels que conseguiu 2.1.

- 10 episódios já foram encomendados para a 1ª temporada. Mais do que isso depende da audiência.

- Em alguns momentos, especialmente nas cenas de ação, a personagem principal lembra um pouco de Nikita. Cheguei até a pensar, enquanto assistia, que Rebecca é como se fosse a Nikita envelhecida. (E isto é uma boa comparação!).

- Não é só Rebecca que está nessa faixa etária. O restante dos personagens principais também já passou da festinha dos 30 anos.


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