Um gostinho de felizes para sempre.



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Alguém como Walt não merece um feliz para sempre. A gente sabe disso. Ele sabe disso. Mas isso não quer dizer que ele não pode provar um pouco de como seria se, de fato, tudo desse certo.

Breaking Bad foi maléfica o suficiente para dar aos White um gostinho de felizes para sempre. Isso também inclui Skyler porque, mesmo que se considere refém do marido, ela foi condescendente com a criminalidade e chegou a usufruir dela, só se resignando quando perdeu o controle da situação.

"Gliding Over All" não foi um episódio de explodir cabeças, mas sua história foi de suma importância para o enredo da série. Ele mostrou um momento de paz para o (semi) império de Walt. Com a morte de Mike, ele pode se livrar dos funcionários deste e fazer negócios com Lydia, que se revelou o braço direito de Gus. Não dá para deixar de notar, no entanto, que White ficou frenético depois da execução sumária que organizou. Ele ia se livrando de todas as pontas soltas, e isso incluía Lydia, cuja morte viria de um pouco de ricina em sua água quente.

Temos que ressaltar a cena da execução na prisão. Enquanto vários homens eram assassinados, Walt, tranquilo em sua casa, contava os minutos em seu relógio, dando a aparência de estar acima, intocável. Tenho que reconhecer, foi um golpe de mestre. Preparar todas as morte em dois minutos, impediu que Hank pudesse fazer algo para evitar que todas as suas "opções" fossem tiradas do mapa.

E como se a vitória não bastasse, ainda temos Walt indo visitar o cunhado após o acontecimento. Só para ter o prazer de olhar na cara derrotada dele e se regozijar por dentro.

Quase três meses se passaram e tudo corria bem, como num conto de fadas. Skyler, até este momento, tinha esquecido que seu "plano" era o mais estúpido do mundo. A não ser que ela contasse que os filhos ficariam com a irmã até o dia que eles tivessem casa própria, não tem como não rir da cara de espanto dela ao ouvir de Marie que era hora de levar os filhos embora.

Skyler também achava que o marido estava nos negócios de metanfetamina por causa do dinheiro, e agora ele acha que ele abandonou este mundo pela segurança da família. Para a primeira sentença, sabemos bem que Walt queria ter o império de bilhões que ele jogou fora quando era jovem. Para a segunda, vimos a cena dele fazendo exame para verificar se o câncer voltou.

O episódio não deixou claro se o resultado foi positivo ou não, mas, se for o primeiro caso, isso determinaria, independente de sua vontade, seu fim como Heisenberg. E quando nos lembramos da imensa determinação dele em prosseguir cozinhando, e depois olhamos para a sua desistência, fica quase certo que o desejo de Skyler se concretizou.

A cena dele se despedindo de Jesse, além de ser um momento de epifania, trouxe uma certa humanidade à Walt, que há muito vem sendo apenas um monstro. Jesse, por sua vez, já tinha ciência do que White era capaz, especialmente depois de descobrir sobre a execução na prisão. A partir daí, fica fácil de entender sua hesitação à visita e sua atitude extrema de pegar uma arma antes de atender a porta.

Esta visita mostrou que Jesse realmente está como Walt previu. Ele não tem rumo, não tem plano, não tem vida. Se antes ele tinha o que era um projeto de família, agora não tem mais por causa da manipulação de Walter. Ele está voltando progressivamente ao mundo das drogas, o que pode render outro fundo do poço em sua vida. O dinheiro recebido não é nada se não existe um plano. É só mais um monte de cédulas que podem ser trocadas por mais drogas.

Com a saída de Walt do mundo da mentafetamina, e antes de considerar o cliffhanger final, temos que perguntar se os "negócios" que Heisenberg fez permitem que o gênio da blue meth deixe de existir. Não existe mais Gus, mas existem os novos distribuidores, existe Lydia, existe a peculiar família de Todd. Enfim, existem pontas soltas. Não é só a questão de se algum deles vai arrastar White de volta, mas sim se algum deles será arrastado para a justiça, especialmente agora que Hank sabe quem é "W.W".

Fica a critério do detetive como será a queda do cunhado. Por ser família, e por não ter provas, imagina-se que Hank será cauteloso, mas não menos obsessivo. Nós já vimos como ele fica bitolado quando uma suspeita se aponta em sua cabeça e, como lição sobre como lidar com suas suspeitas, ele já teve Fring. Enquanto ele não deixou a emoção de lado e agiu racionalmente, ele não conseguiu credibilidade suficiente para abrir os olhos de seus colegas para a segunda face daquele que era o maior amigo da polícia.

Com Walt, porém, Hank terá que abrir primeiro os próprios olhos. Ele não é estúpido e vai perceber que idiota ele foi todo este tempo, tendo o monstro que caça bem debaixo do nariz. E isto, claro, irá tirar também a sua credibilidade como detetive, mas isso é assunto para outra hora.

O que prevejo é uma segunda perseguição no estilo Gus Fring, já que Hank não poderá contar com os meios legais inicialmente (ou poderá?). A diferença é que Gus era inteligente e vigilante todo o tempo. Walt, que acabou de enterrar Heisenberg, pode até ser inteligente também, mas baixou a guarda e pensa que nada poderá lhe atingir. Basicamente, os papéis se inverteram. Walt sabia quem era Hank enquanto Hank não sabia quem era Walt. Agora Hank sabe quem é Walt e Walt não imagina o que Hank sabe.

Antes de finalizar, precisamos de comentar os corte de cena de "Gliding Over All". Tudo foi trabalhado magistralmente, dando sempre a impressão de mudança, de passagem de tempo. Quer dizer, Breaking Bad sempre foi uma série que se planeja nos mínimos detalhes, o que dá vida e poesia aos seus episódios. Por tudo isso, fica difícil acreditar que ela só retorna no meio do ano que vem, para seus oito episódios finais. Uma obra-prima tão poética não deveria acabar nunca.


Observações:

- Música: Crystal Blue Persuasion, by Tommy James & The Shondells.

- O JetTripleSeven reconheceu várias referência de "Gliding Over All" para com os outros episódios de Breaking Bad. Veja só:


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