Mentiras e "esclarecimentos"
Começamos nossas reviews já no meio
da segunda temporada. Em apenas seis episódios a história já tomou
caminhos tanto emocionantes quanto inesperados. Por exemplo, quem
diria que Carrie seria readmitida e que conseguiria provar que tinha
razão sobre Brody? Quando poderíamos imaginar que Brody seria preso
sem que isso fosse um fim de temporada?
Com todas as reviravoltas, o fato é
que a situação está muito parecida com a da primeira temporada:
Carrie observa cada passo de Brody, mas não podemos ter certeza para
que lado a lealdade de Brody penderá. É como um jogo de xadrez
entre esses dois personagens e cujo resultado é imprevisível. Por
essas e outras, Homeland
é um drama de primeira grandeza conduzido por personagens bem
desenvolvidos e interpretados por atores de desempenho totalmente
merecedor do prêmio Emmy.
Só o para lembrar, no episódio anterior, a CIA procurava identificar um novo suspeito de terrorismo que tivera contato com Roya. E após Brody confessar que matara acidentalmente o Alfaiate de Gettysburg, agentes do FBI comandados por Quinn se instalaram na alfaiataria em busca de evidências. Tudo ia bem até que um grupo de comandos invadiu o local e executaram a maioria dos agentes, inclusive atingindo Galvez e Quinn, e retiraram de lá uma grande caixa.
Então entramos no sétimo episódio, intitulado “The Clearing”, que pode tanto significar “A Clareira” (referindo-se ao local onde Brody e Carrie têm um encontro nada inocente) quanto a um “Esclarecimento” (possivelmente relativo ao desejo dos Brody de colocar às claras ante as autoridades o atropelamento seguido de morte no qual Dana se envolveu).
O episódio começa com Roya encontrando Brody encontrando parque. Eles discutem porque Brody, agora trabalhando, mesmo que forçado, para a CIA, quer saber mais detalhes do plano de Abu Nazir, enquanto que ela não abre o jogo com Brody. Ele alega que se sente manipulado por Roya e Nazir.
Descobrimos então que Quinn
sobreviveu ao ataque, mas Galvez está à beira da morte. Não tendo
sucesso com Roya para descobrir a identidade do novo terrorista, Saul
decide procurar a ajuda de Aileen, a terrorista que foi presa na
primeira temporada.
A outra parte da história se dá em
uma milionária recepção para angariar fundos para a campanha
presidencial de Walden e Brody. É lá onde Brody enfrentará alguns
de seus fantasmas, se enredará em suas mentiras e Dana, ao mesmo
tempo, tentará convencer o namoradinho Finn a confessar a morte da
pedestre que eles atropelaram.
Primeiro vejamos a história de Saul e
Aileen.
Saul encontra em Aileen uma figura
alquebrada e à beira do desespero. Sim, ela afirma que conhece o
homem da foto, mas só revelará o que sabe se lhe for concedida uma
exigência: quer uma cela com janela.
Saul tenta argumentar pedindo que ela
confie nele, mas ela está irredutível: só ajudará se tiver seu
pedido atendido por escrito pela autoridade competente. Saul,
conformado, tenta resolver isso com o diretor da prisão, mas este é
um idiota mesmo. Então Saul precisa passar por cima dele e obter uma
ordem do Procurador Geral.
Enquanto a burocracia toma seu curso,
Saul tenta reconquistar a confiança de Aileen. Falam sobre a
experiência que tiveram juntos e que, apesar de ambos estarem em
lados opostos da guerra contra o terror, o que tiveram os aproximou.
Saul também fala de seu casamento fracassado.
Ele chega a lhe trazer uns agrados,
como vinho, pão e queijo. Aileen se sente tocada pois há muito não
era tratada como um ser humano. Ela termina admitindo que o que mais
apreciou foi o fato de poder novamente ver a luz do sol e a paisagem
por uma janela. Saul é mesmo um sujeito muito legal, não é mesmo?
Bem, pelo menos ele é ótimo diplomata. A situação entre Saul e
Aileen parece que não poderia estar mais perfeita.
Finalmente, chega a ordem concedendo a
cela especial a Aileen. Ela tenta ler o documento, mas seus olhos
estão cansados. Num gesto aparentemente irrelevante, Saul lhe
empresta seus óculos de leitura. Aileen, então concorda em ajudar e
revela que o homem da foto é Mohammed Al Ghamdi, e diz onde
encontrá-lo. Saul sai para pôr em ação o plano para prendê-lo.
Na segunda trama paralela, Dana e Finn
vão de limusine à recepção, como bons filhos riquinhos de
políticos que são. Mas nem tudo são rosas para a pequena Dana. A
morte da pedestre a incomoda demais e ela insiste que eles confessem
tudo às autoridades. Finn finge concordar.
No decorrer da festa, Dana, tal qual
disco quebrado, continua a tocar na mesma tecla: quer confessar; Finn
parece estar esgotando as maneiras de fugir de sua responsabilidade.
Até que, finalmente, as mães dos dois jovens (Jessica e Cynthia) os
veem discutindo e ela confessa: atropelamos e matamos uma mulher. De
fato, Finn e Dana terão muito o que explicar!
Logo a questão vira um problema dos
“adultos”. Jessica conclui que eles têm que chamar advogados e
se apresentar à polícia. Mas Cynthia, muito mais acostumada com o
jogo da política, diz que “cuidará do caso”. Jessica fica
contrariada sabendo que Cynthia pretende encobrir o delito dos dois.
A outra ponta do enredo envolve Brody
confrontando-se com seu status de herói americano e homem de
família. Já no carro, ao ser pressionado por Jessica, acaba por
admitir que teve um “envolvimento” na morte de Walker enquanto
“trabalhava para a CIA.” Fica evidente a situação desesperada
de Brody, empilhando meias verdades até formar uma grande pilha de
mentiras. Afinal Brody não teve apenas um “envolvimento”, ele
matou Walker. E o fez a mando de Abu Nazir. E só passou a trabalhar
para a CIA porque foi pego!
Já na festa, Brody tem que enfrentar
perguntas indiscretas sobre sua experiência como prisioneiro de
guerra. Seu filho o convida para nadar, mas ele fica envergonhado por
conta das cicatrizes e dá uma desculpa.
Em determinado ponto, Rex, o dono da
mansão cujo apoio Walden veio buscar, chama Brody para um passeio
nos estábulos. Rex, esse sim um condecorado soldado, diz que só
está apoiando Walden para a presidência porque em alguns anos Brody
será o candidato natural. Brody chega a protestar, afirmando que em
absoluto não é o tipo de homem que todos pensam que ele é. Mas Rex
está irredutível e, naquela noite faz um emocionado discurso em
apoio ao novo amigo. Mas Brody fica visivelmente desconfortável com
a hipocrisia de sua situação.
Como se Brody já não tivesse com o
que se preocupar, ele recebe um telefonema de Carrie, que o espera na
clareira atrás da propriedade de Rex. Brody a encontra lá, onde
revela sua decepção com o fato de ele não ser um herói de
verdade. Carrie procura consolá-lo. Se Carrie foi lá para discutir
trabalho, logo o foco do encontro muda radicalmente. Eles se beijam.
Ele diz que se sente usado. Depois que se sente ótimo. Depois, usado
de novo. Esse Brody nem sabe mais o que quer!
Então chegamos aos desfechos. Na
história de Saul e Aileen, Quinn lidera uma equipe do FBI na prisão
de Al Ghamdi. Invadem a casa e prendem um gordinho que, quando
perguntado seu nome responde: Mohammed Al Ghamdi... o músico! Ou
seja, foi tudo armação de Aileen: ela não sabia de nada e passou o
dia enrolando Saul. Mas qual seria seu objetivo? Então Saul tem um
estalo e corre até a cela onde está Aileen.
Ela cortou os pulsos com as lentes dos
óculos de Saul. Tudo não passou de um desesperado estratagema de
Aileen para poder passar um dia em uma sala com janela... e partir
dessa para uma melhor. Entre o fracasso de seus esforços, um dia
perdido, uma morte inútil, e continuar sem nada saber sobre o
terrorista sem nome, Saul fica visivelmente abalado.
Na mansão de Rex, Walden e Cynthia
ambos concordam que o melhor mesmo é o “deslize” de Finn e Dana
ser encoberto. E que é melhor que Brody mantenha sua esposa e sua
filha caladas! Para isso manda seu filho para casa. Num último
momento, Finn e Dana se encontram mais uma vez. Ela diz que não pode
aceitar viver em um mundo cercado de tanta falsidade. Mas ele se
limita a ironizar a suposta ingenuidade dela. Eles se despedem e
aposto que nunca mais se verão.
Jessica conta o acontecido a Brody,
que concorda que Dana tenha que se entregar. Que se danem os
interesses políticos dos Walden! Brody quer ser honesto pela
primeira vez em muito tempo. Vê nesse incidente a oportunidade de
ser um bom pai, de ensinar valores sólidos à sua filha. Quer vir às
claras, nem que seja por tabela, ou seja, revelando os podres da
filha, enquanto que os seus continuam bem escondidos. Assim, num
momento de total ternura entre pai e filha, Brody diz para Dana que
ele vai apoiá-la cem por cento. Os dois se abraçam. Bem que o
episódio poderia terminar nesse momento tão doce...
Mas se terminasse tudo assim tão
bonito, não estaríamos falando de Homeland.
Ao chegarem na delegacia, Carrie está esperando por Brody e Dana.
Enquanto a filha espera no carro, Brody cobra explicações. Carrie
abre o jogo: eles não podem se apresentar à polícia, caso
contrário, Walden terminará sua associação com Brody, Roya e os
terroristas não mais procurarão Brody, o acordo entre a CIA e ele
será cancelado e Brody irá para a prisão.
Eis que chega Dana. Para começar ela
fica visivelmente surpresa em ver Carrie, pois Brody havia mentido,
dizendo que ele não mais trabalhava com ela. Então vem o momento
puro embaraço em que Brody tem que dizer coisa do tipo, sabe,
filhinha, que eu prometi que seríamos honestos, que nos
entregaríamos, pois não é bem assim, agora não dá para
confessar... talvez mais tarde...
Para Dana, no entanto, seu pai está
sendo covarde e só quer proteger seus interesses na eleição que se
aproxima. Toda a confiança que Brody conquistou com a filha se vai e
ela vai embora após dizer ao pai que tem nojo dele.
E só resta a Brody reclamar para
Carrie que nada está bem. Realmente, nada está bem...
Para pensar e comentar:
-
Se você fosse um prisioneiro e uma autoridade simpática lhe
prometesse algo em troca de informações, você confiaria em sua
palavra, ou só ajudaria depois de ver um documento escrito?
-
Brody está sendo manipulado por Carrie, por Roya, pelas duas, ou
está manipulando as duas?
-
Se tivesse atropelado alguém, mas isso custasse a carreira política
de seu pai, contaria ou não à polícia?
-
Os heróis, as figuras públicas que admiramos continuariam a ser
admiradas se soubéssemos seus segredos?
-
Morgan Saylor, que interpreta Dana, merece ou não merece algum
prêmio de artista revelação?