O momento que todos estavam esperando.

Satisfatório é a palavra que define a Season Finale de "Fringe". Um episódio de revelações, reviravoltas, momentos de tirar o fôlego, desdobramentos surpreendentes, mas ainda assim apenas satisfatório. O problema é que esta não é uma palavra que se encontra no vocabulário de Fringe. Esperamos demais, imaginamos as impossibilidades, teorizamos e quando nada de espetacular acontece, ficamos decepcionados com apenas o bom.

Digo como telespectador e ainda mais como fã, que acreditei cegamente que os roteiristas e seus complexos de Deuses fariam dessa a finale perfeita. Que trariam algo que explodisse nossos cérebros, nos causasse o frenesi do ano passado e que nos proporcionasse horas e horas de discussões e teorias sobre em qual universo estamos, onde está Peter, se Olivia irá morrer e outras firulas que Fringe sempre causou. Ledo engano.

Creio eu que a incerteza dos roteiristas em relação ao futuro da série os obrigou a fazer um episódio que ao mesmo tempo funcionasse como desfecho definitivo para a série e que tivesse pequenos ganchos para se caso a mesma fosse renovada.

O resultado foi um excelente episódio. Sim, excelente. Mas que para os padrões da série e das suas últimas season finales beira o razoável. "Brave New World, Part 2" sofre, portanto, do mesmo problema que a sua primeira parte, pois opta por dar desfechos anti-climáticos a acontecimentos que supostamente deveriam ser gigantescos.

Como disse no post anterior, a Parte 1 pecou pela execução da morte de Robert David Jones. Agora, a Parte 2 traz uma resolução ainda mais rápida para algo muito maior e mais importante do que Jones, shapeshifters e pontes: a destruição mútua dos universos. Aliás, o projeto de Bell até chega a ganhar proporções visuais nos primeiros minutos de episódio, nos quais um holograma figura o que, segundo ele, seria o seu Jardim do Eden (palavra que surge no galpão da primeira parte dessa finale).

Durante os diálogos sensacionais entre Leonard Nimoy e John Noble, Bell revela que este era um plano arquitetado não somente por ele, mas principalmente por Walter. É revelado então o verdadeiro motivo pelo qual Walter insistiu para que Bell removesse partes do seu córtex cerebral, como vemos no episódio da 2ª temporada "Grey Matters".

Walter não apenas planejava tornar-se a figura e representação de Deus como tinha medo do homem que estava se tornando. Logo, é perfeitamente coerente que William tenha continuado seu trabalho anos depois, já que seu cérebro não havia sido alterado como de Walter e portanto seu complexo de Deus permaneceu intacto. Para parafraseá-lo, se somos capazes de sermos Deuses, então é o nosso destino sermos.

E a peça-chave para que Bell pudesse concretizar sua última jogada era Olivia. Uma fonte de energia que se comparada ao amphilicite, ganharia em rendimento de 100 à 1. Nina deixa isso bem claro quando diz a mesma a seguinte frase: "you have the power all along" em referência ao livro "O Maravilhoso Mágico de Oz" de L. Frank Baum.

Agora, tudo o que vimos ao longo das 4 temporadas relacionado ao poderes de Olivia faz completo sentido: as doses de cortexiphan que eram injetadas secretamente pela falsa Nina, Jones forçando Olivia a usar seus poderes, e o motivo pelo qual Bell dizia que Olivia era de suma importância para os seus planos.

Logo entendemos e mesmo assim preferimo negar a idéia de que a única maneira que Walter teria de dissipar o processo de destruição dos dois universos, seria cortando o cabo de força, desligando a fonte energia, ou melhor, matando Olivia. A profecia então dita por September no episódio "Back To Where You've Never Been" fica clara. Referia-se ao momento em que Walter puxaria uma arma para Olivia e com destresa faria o mesmo que sua versão alternativa fez no futuro de "The Day We Died" dando-lhe um tiro certeiro e fatal na cabeça.

E o momento que ninguém viu chegando concretiza: Olivia está morta, Peter desconsolado e Walter sereno, tendo em mente que tudo aquilo era parte de um plano para salvar Olivia e os universos do destino a qual foram ditados.

E apesar de previsível a resolução de tudo aquilo, os segundos que sucedem a morte de Olivia acabam por ser o auge do episódio. A imprecisão de Walter, as mãos tremolas, o desespero de Peter e principalmente as atuações de Joshua Jackson e John Noble fizeram da sequência um espetaculo pirotécnico de tensão e ansiedade.

Aliás, a saída do roteiro para salvar Olivia, impedir que a personagem tivesse que ir embora junto com os planos de Bell, já estava explicita na primeira parte da finale, quando Walter corta o bolo de limão e este regenera-se expontâneamente.

Parte da previsibilidade sobre o a não-morte de Olivia, também vinha do simples fato de que Henrietta ainda precisava nascer. E é por isso que digo que esta season finale funcionaria muito melhor se não tivessemos conhecimento algum de "Letters of Transit", episódio que faz Brave New World Part 1 e 2 parecerem meros flashbacks dos acontecimentos que verdadeiramente importam.

Fico apreensivo só de pensar que este poderia ser o verdadeiro final da série. O que seria lastimável para uma produção como Fringe que é, sem sombra de dúvida, a melhor série de TV atualmente no ar.

O senso de despedida esteve presente apenas em um único momento da finale, quando Astrid vê Walter no hospital e surge com um um pacote de alcaçuz (que covenhamos é bem melhor do que potes de urina). O agradecimento de Walter, os olhares de afeto trocado entre os dois e principalmente, o momento em que ele a chama de Astrid e não Astro, Asterix ou Alex, foi a maneira mais adequada de nos desperdir, não definitivamente, destes personagens.

A 4ª temporada então se encerra na promessa de um 5º e último ano, no qual veremos a chegada dos observadores ao presente, realizando-se assim a profecia do dia do Grande Expurgo. Ao menos, essa é a minha interpretação da frase dita por September nos 10 segundos finais de episódio nos deixando um cliffhanger genérico. Como o Expurgo ocorreu em 2015, eu não duvidaria da possibilidade de teremos um salto temporal de 3 anos já na estréia da 5ª temporada. Até que isto não ocorra, teremos que manter os níveis de LSD no sangue altíssimos, beber muito leite da Gene e continuarmos vivos para não perder nenhum segundo dessa jornada. O fim de Fringe.

Easter Eggs:

O Glyphs Code da semana soletra a palavra "PURGE" que no português, traduz-se como "expurgo". A palavra refere-se ao Grande Expurgo de 2015 descrito no episódio "Letters of Transit" por Simon, também conhecido como o dia em que os observadores tomaram o controle da raça humana. O Expurgo foi marcado pelo genocídio de grande parte da humanidade, em que pessoas foram tiradas de suas próprias casas para serem abatidas.


O observador teve papel curcial na trama do episódio e por isso não apareceu em segundo plano, poupando-nos o trabalho de procurá-lo.


Ao contrário do que muitos pensam, as criaturas que surgem no início do episódio quando Bell mostra a Walter o novo mundo, não são dinossauros. São duas das criações de Bell que aparecem respectivamente nos episódios 1x16 "Unleashed" (o híbrido de morcego, réptil, etc) e 4x16 "Nothing As It Seems" (o porco-espinho voador).


Um episódio como este não poderia deixar de fazer referências à "Lost". Desta vez é o 316 que dá as caras, mesmo número do voo Ajira que levou os Oceanic 6 de volta para ilha na 5ª temporada. Ademais, a tomada do helícopetro sobrevoando o cargueiro lembra em muito o episódio da 4ª temporada em que o Jim "morre" na explosão.


A projeção catográfica que vemos na parede do escritório de Bell nesta 2ª parte da Season Finale, é a mesma projeção que vemos no laboratório de Walter na 1ª parte. Esta é uma representação do mapa mundi que recebe o nome de Orbis Tabula e que consiste em dividir o mundo em duas superfícies planas.


A tecnologia usada por Nina para reanimar o corpo de Jessica foi a mesma citada no piloto da série e que reanimaria John Scott na Massive Dynamic. A propósito, não poderia deixar de ressaltar o quanto aquela cena foi bizarra. De uma boa maneira, é claro.


Como disse anteriormente, "Brave New World" soa como um flashback de "Letters of Transit". O que só comprova tal dito é a bala que Walter retira da cabeça de Olivia, supostamente a mesma que vemos Etta carregar no pescoço no 4x19. Veja:


Até setembro!

Postar um comentário Disqus

 
Top