Victoria: vítima, covarde ou ambos?
Mais do que o passado e a evolução de Emily, Legacy mostrou quando Victoria era apenas uma mãe amorosa e a esposa de Conrad Grayson, num passado onde ela era mais vítima e menos consciente de suas circunstâncias.
Inicialmente somos levados ao Réveillon de 2002, oito meses após a morte de David Clarke. Antes da festa na casa dos reis dos Hamptons, uma carta com a palavra “Shame” e a “assinatura” de David Clarke é enviada para eles. Para tentar descobrir qual de seus cúmplices era o remetente da ameaça, Conrad e Victoria chamam todos para passar a virada do ano na mansão deles.
Paralelamente, o Natal de 1991, provavelmente, vai sendo mostrado. O viúvo David tinha acabado de se mudar para a casa de praia e ia para a festa de Natal de Conrad, seu patrão. Lá ele viu Victoria pela primeira vez, quando ela ainda era inocente e, aparentemente, se sentiu atraída por Clarke à primeira vista. Emily, ainda uma pequena Amanda, era a vida do pai, cujo amor pela filha era do tamanho de “infinito vezes infinito”. Bill Harmon, o investidor que Thorne destruiu no 1x02, Trust, era amigo de David, e o introduziu ao mundo dos Grayson.
De volta a 2002, ainda vemos uma Victoria apaixonada pelo antigo amante. Mason Treadwell, ciente disso, entrega para ela uma foto de David, tirada por um guarda no dia em que ele morreu (a mesma foto que Emily encontrou com Charlotte no Absolution). Conrad, também ciente, decide vender a casa de praia, que estava em posse deles, para Lydia, na tentativa de punir sua esposa pela explícita lamentação pelo homem que ela havia traído.
Emily, que ainda era Amanda Clarke, estava na época de curtir sua rebeldia, numa espécie de um luto “ao contrário” pelo seu pai. Depois de ela sair da detenção juvenil e Nolan entregá-la a caixa contendo as provas de inocência de David, ela ainda se recusava a descobrir a verdade. Foi necessário Ross correr atrás dela e insistir por uma “segunda chance”, o que ele acabou conseguindo.
Ela volta então para os Hamptons, começando pelo bar de Jack. Lá encontramos a família Porter imersa em problemas financeiros e de relacionamento. O patriarca tinha acabado de vender sua casa (para Nolan) para não perder tudo no divórcio, e mentiu sobre a razão da venda para os filhos. Os problemas de relacionamento ficavam por conta de Kyla (Gena Shaw), a namorada de Jack e a personificação da palavra problema, no mesmo nível que a verdadeira Emily Thorne e a verdadeira Amanda Clarke...
Voltando à festa de 2002, Amanda consegue uma entrada como garçonete, o melhor disfarce para ela circular livremente sem ser perturbada. Lá ela encontra Roger Halsted (John Billingsley), leal amigo de seu pai e visivelmente abatido por estar no meio daquelas pessoas. Não faz muito sentido a presença dele ali, visto que ele se declarava diferente dos demais quanto à traição a David, mas, pelo ponto de vista da história, Halsted estava lá para ser o bode expiatório.
No final, Victoria viu que Mason era o autor do cartão de ameaça. Segundo ele, o ato era para servir de “inspiração” em seus novos escritos, o que acabou dando muito certo pois seu feito resultou em tragédia. Conrad e Frank investigaram todos os possíveis suspeitos, e a visível fragilidade e inconformidade de Roger os levou a “eliminá-lo” da história por o verem como o culpado.
Victoria presencia o acontecido, sem acreditar até onde o marido foi para solucionar a questão. Emily, por sua vez, vê aí a sua motivação para começar a sua vingança, especialmente porque Halsted estava disposto a ajudá-la a lidar com os Grayson. Ela fica desesperada ao perceber o quanto estava enganada sobre a verdade e o quanto sua atitude rebelde estava equivocada. É neste momento que ela pede o perdão e a ajuda ao seu pai e, como resposta, ela vê o símbolo de infinito desenhado na varanda de sua casa. O símbolo lembra o que David sempre falava: o amor dele pela filha era do tamanho de infinito vezes infinito.
O legado de Clarke não foi só para sua filha. Para os Grayson, este legado significa um eterno pesar. É como se os olhos de David estivessem para sempre sobre esta família, ora como o sofrimento do qual Victoria não consegue se livrar, ora como o tormento que isto representa para Conrad, ora como o medo de alguém descobri-los, ora como a presença de Amanda tentando destruí-los.
Para a filha, David quis deixar uma mensagem de paz. Nas cartas que ele escreveu para ela, ele pede que ela conheça e perdoe o passado, o que é praticamente impossível. Amanda, aliás, nem cogita a possibilidade. A partir do momento em que ela abre os olhos, seu único instinto é a vingança. Nolan ainda diz “você não vai conseguir derrubá-los sozinha”, ao que ela responde que sim, ela conseguirá.
Quanto à Victoria, respondendo a pergunta inicial desta review, acredito que ela seja mais vítima do que covarde. Ela poderia ter escolhido ficar do lado de David e ficado contra Conrad, mas é óbvio que ela seria massacrada juntamente com o amante, e assim também seria seu filho, por quem ela sempre fez e faz tudo. Os atos dela hoje, muitas vezes interpretados como atos de uma vilã, são muitas vezes tentativas de sobrevivência.
No início da série parecia que ela tinha um poder terrível sobre a alta sociedade de Hamptons, que ela sempre usava para destruir inimigos, como Lydia, por exemplo. Mas agora percebemos que nada daquilo era verdadeiro, era mais uma forma dela tentar se esconder de suas desgraças. Este “poder” também já se esvaiu há muito tempo. Hoje ela é apenas uma mulher que está se esforçando para consertar o passado, porém todos nós sabemos que, se o único poder que ela tinha era feito de areia, as armas que ela pensa que possui provavelmente são também.
O episódio termina com Emily e Daniel indo, atualmente, para o Réveillon na casa dos Grayson. Será a segunda vez de Thorne por lá, mas agora é diferente. Agora ela não será invisível entre eles e será também uma deles. Outra vez, ela tem o melhor disfarce para ela circular livremente sem ser perturbada.
Observações:
- Não posso deixar de comentar sobre o cabelo de Jack... a ABC precisa rever seu conceito de peruca urgentemente.
- Aliás, deu para perceber que as mulheres da vida de Jack tem tudo em comum, né. Só problemas e mais problemas.
- O caso de Lydia com Conrad começou em 2002! Foi tempo demais até Victoria perceber quem era mesmo a "melhor amiga", viu.
- Aqui o "poético" cartão de ameaça enviado por Mason. Bom ver que depois de aceitar ser subornado pelos Grayson, ele ainda se achava no direito de provocar...
- A foto que Victoria olhou, relembrando de David, é a mesma que Emily usava para "marcar seus alvos" (e é também a que Tyler entregou para Daniel no 1x15, Chaos). Nela, Clarke está do lado do casal Grayson, num evento que parece ser da Global Grayson e ter acontecido, possivelmente, no Hawaii. É provável que vejamos mais flashbaks na série que nos levem ao momento desta foto.
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