"Psicose" é uma obra-prima inigualável. Considerado por muitos o melhor filme de terror/suspense de todos os tempos (e, devo dizer, o meu favorito), o longa dirigido pelo mestre Alfred Hitchcock em 1960 é, até hoje, um parâmetro a ser batido em termos de roteiro, edição, direção, montagem e trilha sonora. Portanto, logo que fora anunciado o projeto do canal A&E de um prequel do clássico que traria Norman Bates e sua querida mãe à TV em uma trama perpassada nos dias atuais, não havia como não criar, no mínimo, grandes expectativas.
Sendo assim, não só as criei como nutri-las. Acompanhei cada teaser, foto promocional e notícia que era divulgada a respeito da produção no aguardo pelo dia em que o Motel dos Bates reabriria suas portas. E não é que "Bates Motel" não me decepcionou?
Escrita por Carlton Cuse (Lost) e Kerry Ehrin (Friday Night Lights), a série nos traz um piloto intrínseco e eficaz que consegue, em meros 40 minutos, não só apresentar perfeitamente seus ambíguos protagonistas, como homenagear a obra a qual se inspira e criar sequências de suspense que, certamente, fariam de Hitchcock um orgulhoso pai.
Para quem assistiu "Psicose", rever cenários como a casa, sua inesquecível escadaria e até o clássico chuveiro cortinado, é simplesmente de arrepiar. Ademais, a direção de Tucker Gates ainda faz questão de repetir planos semelhantes ao original de 1960 - como o enquadramento de Norma Bates na janela marcando sua silhueta - e o uso das câmeras aéreas, que permitem ao telespectador uma visão completa da cena projetada - como na tomada em que o policial (lembram do guyliner de Lost?) entra sozinho no banheiro onde se encontra o corpo do antigo dono do local, sem conseguir de fato vê-lo na banheira, enquanto acompanhamos por um ângulo mais alto o plano completo. Este recurso foi também utilizado por Hitchcock na filmagem do assassinato da escada em "Psycho".
"Bates Motel", portanto, consegue resgatar, através de cenários, direção de arte e planos visuais, os ares do longa original, ainda que seja condicionada aos dias atuais (e que tenha iPhones para todos os lados).
O grande trunfo da série, contudo, é a relação entre mãe e filho de Norma e Norman Bates, algo inexplorado no longa de 1960 e que aqui será fundamental para compreendermos os atos que levaram aos derradeiros acontecimentos de "Psicose". O mais interessante de tudo isso é notar que a série é capaz de nos fazer nutrir sentimentos pelos personagens principais. Afinal, nos identificamos com o deslocamento de Norman, torcemos pelo recomeço da família Bates e, principalmente, nos sentimos ameaçados quando há a possibilidade dos policiais descobrirem o corpo colocado na banheira, como se os protagonistas fossem "mocinhos" que inspirassem a torcida do público que, por outro lado, conhece muito bem as suas futuras ações.
Essa ambiguidade é também mérito das excelentes atuações de Vera Farmiga e Freddie Highmore. Já que a primeira, no papel da mãe, consegue estabelecer com perfeição, logo na abertura do piloto, toda a dualidade da personagem de Norma Bates (ao ouvir o pequeno Norman gritar por ajuda, ela reage com serenidade e frieza) e o segundo se mostra quase que uma metonímia do igualmente brilhante Anthony Perkins (o Norman Bates do original "Psicose"), uma vez que seu carisma o torna incapaz de ser odiado, além de inspirar compaixão pelo sofrimento que perpassa.
Por fim, "Bates Motel" se mostra uma obra com potencial a se tornar obrigatória a qualquer fã do clássico de 1960. Já que, assim como a principal, ela é capaz de fixar seu telespectador na ponta da cadeira, com sequências de suspense ao rubro, do início ao fim. Arrepiante, assustador e cativante... sem dúvidas, um dos melhores pilotos que vi em um longo período de tempo.
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