Já virou rotina semanal elogiar "The Walking Dead" pelo trabalho excepcional que tem feito nesta terceira temporada. Porém, mais uma vez, conferir elogios é inevitável. "I Ain't Judas" e "Clear" se mostram, cada um a seu modo, episódios sem falhas e preparatórios para o encaminhamento da trama deste terceiro ano.
A começar pelo 3x11, nele acompanhamos as consequências trazidas pelos acontecimentos catastróficos de "Home" e que abalou por completo o grupo principal. Vemos a prisão carente de armas, um Rick que não possui nervos para assumir a liderança e, principalmente, a impossibilidade de uma fuga (uma vez que o governador, como disse Merle, já teria àquela altura bloqueado todas as estradas que davam vazam ao local).
A fraqueza do grupo principal se torna ainda mais visível quando Andreia decide fazer uma visita a prisão, numa tentativa de consumar uma nada provável trégua com os amigos. É aí que a "Judas" a qual o título referencia se encontra com um Rick carrasco, que não a recebe com abraços ou apertos de mão. E desta forma, o cenário de perda a qual o grupo tem amargado começa a saltar aos olhos de Andreia.
A visão de um grupo menor, inclusive, é o suficiente para denotar que ali havia vazios irreparáveis. Porém e mesmo diante de tudo isso (e do monólogo de Michonne em que a mesma revela que o governador havia enviado homens para matá-la assim que deixou Woodbury), Andreia de fato mostra que a referência bíblica trazida no título não foi realizada a toa. E para nós, público de The Walking Dead, uma personagem que trai os amigos em troca de uma cama quente, merece nada mais que ser crucificada.
Vale também citar a chegada de Tyreese (e cia) à cidade de Woodbury, o que emula um perigo ainda maior ao grupo de Rick já que o mesmo promete ajudar o Governador ao dar à ele informações sobre a estrutura interna da prisão. Em outras palavras, de como atacá-la.
Por fim, chegamos ao fantástico "Clear". Um episódio que abandona por completo os cenários estabelecidos pela série neste terceiro ano e que consegue fortalecer e reafirmar perfeitamente o que é a grande premissa de "The Walking Dead": revelar as fraquezas mais ínfimas da natureza humana. Sem contar que é sensacional ver Michonne, Carl e Rick pegando a estrada para cumprir uma tarefa tão simples quanto conseguir munição e terminando por nos consagrar com um dos melhores episódios da temporada.
O que me emburrece, porém, é ver que muitos não viram "Clear" por esse âmbito e que tenham, talvez, odiado o mesmo por ele não ter dado continuidade a exibição dos acontecimentos ocorridos na prisão e Woodbury, não enxergando que este mais serve de preparação para uma futura batalha do que qualquer episódio anterior.
Além disso, "Clear" consegue ser um dos poucos que trabalha com o senso de perigo e solidão que o cenário pós-apocalíptico da série propõe. Rever Morgan após a perda do filho Duane, por exemplo, traz este impacto que havíamos perdido com a segurança das grades da prisão ou dos rifles de Woodbury. E por mais que eu goste de todo o conflito da atual temporada, é realmente bom vê-los inseridos novamente no cenário hostil e desconhecido que há no mundo lá fora.
Este encontro com Morgan, aliás, não poderia ter sido feito em melhor hora, vez que Rick tem passado pelo mesmo conflito pela perda de Lori. Logo, o ex-xerife consegue se espelhar no companheiro de rádio, apresenta empatia por sua falta de lucidez (afinal, o próprio Rick vê a mulher morta) e sente a necessidade de ajudá-lo. É perfeitamente compreensível.
Em paralelo, acompanhamos Carl e Michonne criando um vínculo interessante e levando de volta para a prisão algo que certamente impedirá que a assistente social carregue a criança de Rick por maus tratos ou abandono: um berço. Ademais, gostei bastante de ver a preocupação do garoto em garantir que a pequena Judy tivesse ao menos uma lembrança da mãe em um porta-retratos. Carl, sem dúvidas, não para de ganhar pontos comigo.
Por fim, a sequência que dá desfecho ao episódio - com a mochila do garoto que no início do mesmo havia sido deixado para traz por Rick, Michonne e Carl - é apenas mais um reflexo das mudanças de comportamento que aquela cruel realidade promoveu em seus personagens. Afinal, o herói aqui não salva o indefeso. O herói aqui salva a si próprio.
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