Walter White ainda está por aí?

Não, não está. Não posso falar desse "Heisenberg", a quem as pessoas se referem... Mas o que quer que ele tenha se tornado, o gentil, amável, e brilhante homem que um dia conhecemos há muito tempo, ele se foi.

Que coisa. Justamente quando o mundo conhece Heisenberg e sua metanfetamina alcança os confins do planeta, o homem que lhe deu a vida não podia estar mais derrotado.

Tão derrotado que Saul, aquele pra quem ele havia dito que só libertaria quando quisesse (Live Free or Die), deu a última palavra e disse: acabou. E foi da maneira mais humilhante possível. Mesmo com um barril lotado de dinheiro ao lado, o grande Heisenberg estava sem poder algum, querendo colocar medo no único que efetivamente podia ajudá-lo e sendo interrompido por nada menos que o seu câncer, o símbolo da fragilidade e da impotência que agora o definem.

(Preciso ressaltar também que a atitude de Saul de dizer acabou, pegar as malas e ir embora é, sem dúvida, mais um passo na construção do personagem que agora terá um universo todo girando em torno de si em seu futuro spin-off. Aqui temos um Saul Goodman que, apesar de não ter mais nada, parece ainda ter sua dignidade, e a coragem de deixar Walter -- que tanto o corrompia -- para trás.)

Walter White está tão derrotado, tão humilhado que a única coisa que ele tem do filho é o ódio eterno. Que coisa foi a ligação dele para o menino e o diálogo que se seguiu. Finalmente pudemos ver qual é o verdadeiro sentimento de Jr. sobre a figura do pai. Passado o terror da descoberta, é com um revoltado e sonoro "Just die!" que ele expressa o que sente. Só mais um prego no caixão do morto Walter White.

Sua situação de derrota e solidão chega ao ponto dele oferecer dinheiro para ter a companhia de alguém. E Breaking Bad ainda acentua este estado do protagonista ao mostrar sua aliança caindo do dedo, também um lembrete do quanto ele está debilitado. Para completar, ele não pode defender a única coisa que ainda importa: seu dinheiro. A conversa entre ele e seu "amigo" foi franca, sendo que este nem hesitou em reconhecer que aquele barril nunca chegaria à família do moribundo uma vez que ele morresse. Uma declaração de derrota atrás da outra.

Além disso, e como sempre, esta série não nos poupa dos detalhes sórdidos que às vezes nossos olhos nem percebem. Veja, por exemplo, a imagem ao lado. Olhe, observe, observe de novo.

Atenção, atenção para o easter egg
Eis que a placa sutilmente avisa que quem transpassar a porteira será enviado para BELIZE, uma óbvia referência para o lugar onde Mike está, segundo Saul Goodman (Buried)... e um grande indicador do destino que pode ter Walt quando o "amanhã" dele chegar.

Enquanto o amanhã dele não chegou, os dias de Skyler estavam puramente infernais. Logicamente que o dinheiro sobrando e as lições para Walt Jr. de como trabalhar no lavajato acabaram, e o que sobrou para ela foi a companhia do cigarro, dos policiais inúteis do lado de fora, e de Todd, que foi fazer uma surpresinha para ela a mando de Lydia.

A única coisa que eu conseguia pensar ao ver esta cena era "Walter precisa saber disso", "Walter precisa saber disso". Usar Holy para ameaçar? Holy? Quando Mike foi matá-la, Lydia usou justamente sua filha para pedir compaixão, e eis que agora esta mesma senhora não achou suficiente a tática de "apenas falar" de seu pretendente. Isso, claro, é a evolução desta mulher de negócios em uma quase Heisenberg 2.0. Assim como seu antecessor não hesitou em machucar Brock para alcançar seus objetivos, ela não via problema nenhum em Todd fazer mais do que "falar". A diferença entre o monstro antigo e o monstro novo é que ela dá as ordens para seu fantoche e depois fecha os olhos para a pilha de corpos. Já Walt, bem, ele ia muito além disso.

(Logo, eu espero que Walt descubra sobre esta visita e que depois Lydia não só descubra, mas sinta esta diferença entre ela e ele. Bitch.).

E já que estamos falando de Todd e Lydia, podemos aproveitar para falar sobre a tentativa dele de impressioná-la. A série nem mostra muito se ela nota ou não, de tão bitolada na metanfetamina que ela é. Mas isso, pelo menos para mim, só serve para rir dele (porque eu concordo com a máxima "provavelmente ela tem triturador no lugar da buceta"). Com aquela cara de menino educado e doce, e sua roupa de cores sugestivamente serenas, mal dá para imaginar que ali dentro existe um monstrinho diabolicamente sádico. Com essa característica em comum, os dois certamente formam um bom par.


Os dias de Jesse não estavam sendo menos puramente infernais que os de Skyler. Pelo contrário. Ela estava no céu se comparada à ele.

Reunindo tudo o que comentamos aqui, encontramos Jesse como resultado. Assim como Walt, ele não podia atravessar a porteira. Assim como Skyler, ele teve seus entes queridos ameaçados. E ele conheceu os monstrinhos particulares que são Todd e Lydia em toda a sua plenitude, num dos atos mais cruéis de Breaking Bad.

Se em Ozymandias a cena de desespero imensurável foi de Sky, em Granite ela foi de Jesse. Não há palavra que sirva para descrever sua reação à morte de Andrea. Ele se apaixonou por ela, considerou pedi-la em casamento, foi a causa do envenenamento do filho dela, se afastou dela para protegê-la, e teve que vê-la morrer. E pela segunda vez Pinkman perde uma mulher amada por causa do mundo da metanfetamina.

Se ele ainda tinha alguma esperança, ela morreu com Andrea. Mas, ironicamente, num lugar um pouco mais frio do que ali, Walt descobria que seu pupilo estava vivo (confirmando a simbologia da última cena de Ozymandias). Enquanto assistia Elliot e Gretchen desonrarem seu nome e proclamarem a morte de Walter White, ele também via que seu legado continuava se espalhando pelo mundo, e isto só mais um além dele era capaz de fazer.

Se tal descoberta significa o renascimento ou a confirmação da morte da esperança de Jesse, só a finale responderá. Mas... como lembramos na review anterior, até aqui, e apesar de tudo até aqui, Walt sempre cumpriu o papel de salvador de Jesse Pinkman. Resta torcer para que agora não seja diferente.


Breaking Observations:

- "Just die" aparece em Granite State, Cancer Man (1x04), Confessions (5x11), e no Pilot.


- Paralelo entre o Pilot e Granite State com Walt e Skyler recebendo as piores notícias de suas vidas:


- Paralelo (cruel) entre Granite State e Cat's in the Bag:



O melhor: A atuação fenomenalmente desesperadora de Aaron Paul. A atuação fenomenalmente debilitada de Bryan.
O pior: Este é o penúltimo episódio de Breaking Bad.
Melhor quote: This isn't personal. [Todd-monstro para Andrea]
Nota: 9,8

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