Pernas biônicas para Ray.

Archer oscila entre ser uma comédia de humor negro e uma completa coleção de absurdos tendo a espionagem como pano de fundo. Dessa vez tivemos um relance da vida torturada de Ray Gilette depois de seu acidente. Para quem se lembra, esqueceu ou não viu, na temporada passada Ray fingia estar paralisado para obter simpatia e escapar do trabalho. Mas durante a volta da missão na Estação Espacial, Archer resolve dar uma de herói e se mete a pousar a nave, causando um grave acidente. E, por ironia divina ou do destino, Ray terminou numa cadeira de rodas e nunca parou de culpar Archer.


O episódio começa com a dura realidade de Ray em que ele sarcasticamente dá bom dia às coisas que o cercam: bom dia memórias de um passado atlético, bom dia contas médicas impagáveis, bom dia saco de fezes... Seguido por Archer estacionar seu esportivo El Camino na vaga para deficientes e por um elevador estragado (fazendo com que ele tenha que girar a manivela do elevador manual). É daqueles momentos em que a gente não sabe se ri ou chora.


Para culminar, o grupo está de partida para uma missão em Roma, missão em que Ray “bateu perna” aos montes na preparação, mas agora alguém tem que “literalmente usar as pernas, como em caminhar e correr”, esclarece Archer insensivelmente, em seguida revelando que espera não ter que correr para não estragar os novos sapatos italianos que irá comprar. E ainda felicita Ray pelo fato de ele não ter que se preocupar mais com sapatos... Realmente, o pobre Ray não podia estar mais por baixo.


É aí que entra o cientista louco de plantão, o misterioso Krieger, com uma solução muito simples: fazer uma operação arriscadíssima e dar pernas biônicas a Ray. E, assim, a história deixa de ser uma narrativa sarcasticamente tocante e vira um delírio de ficção científica. O resto do episódio gira em torno da operação de Ray e Archer tentando impedi-la.


O seriado Archer é, entre outras coisas, uma coleção de piadas e “gags” que nem sempre possuem conexão umas com as outras. E em geral temos uma história principal (no caso com Krieger e Ray) e uma secundária (nesse capítulo envolvendo Archer), podendo ainda haver uma terciária (hoje com Lana e Cyril), ficando os demais personagens (Pam, Cheryl e Malory) orbitando os personagens principais sem ter vida própria, em alguns momentos engraçados, outros nem tantos.


A história de como Ray ganha pernas novas é bizarra, absurda e perturbadora, principalmente considerando a falta de conhecimento de anatomia que Krieger demonstra e sua facilidade em livrar-se de um corpo se uma experiência dá errado. Na verdade, os detalhes da operação são dantescos.

Já as tentativas dos agentes em passar pelo almoxarife dos armamentos para pegar armas, em particular de Archer para conseguir um lança-foguetes, beiraram a palhaçada pura. De qualquer modo, Archer fica decidido a impedir a operação de Ray a todo custo, pois nosso protagonista tem medo de robôs e ciborgues, temendo que um eventual levante das máquinas se concretize. (E sem falar que Bionic Barry é seu inimigo mortal.)


No final, a operação de Ray, ao contrário do que o bom senso indicaria, é um sucesso, e ele chega a dar uma dancinha para comemorar. E Archer perde-se nas tubulações de ventilação tentando alcançar a sala de operação, desmaiando por causa do calor e, com o teto cedendo, despencando nu no meio da equipe, numa tentativa forçada de colocar o personagem-título no centro de uma história na qual ele estava sobrando.


Quanto às piadas paralelas e nem sempre inspiradas ficamos com o papel da enfermeira aloprada para Pam, Cheryl fazendo companhia a Archer na sala de armamentos, Malory (com uma cena engraçada sobre sua idade) e o marido, e Lana e Cyril correndo de um lado para outro.

Mas valeu pela trama principal. E pode-se que os 21 minutos do episódio foram bem preenchidos. Só resta saber algumas coisas. Ray nunca teve o respeito de Archer. Como será a relação entre os dois agora que Ray é um ciborgue? Que situações ridículas resultarão disso? Fique atento e descubra.

Destaques dos diálogos:

De fato, Ray e Krieger se sobressaíram dessa vez:

Ray: “Tá olhando o quê?”
Krieger: “Eu estava curioso...”
Ray: “Eu cago e mijo num saco plástico!”
Krieger: “Eu também! Mas na verdade eu estava pensando se você gostaria de andar novamente.”
Ray: “Não, Krieger, pois desse jeito eu nunca tenho que comprar sapatos novos.”
Krieger: “Mas valeu a pena?”

Ray: “Eu posso ter me afastado bastante da Igreja, mas eu ainda credito que ainda há coisas que apenas Deus deveria fazer.”
Krieger: “Como dar-lhe uma ereção?”
Ray: “Estou supondo que com isso você quis dizer ‘dar-lhe a capacidade de ter uma ereção’?”
Krieger: “Isso também...”

Krieger: “Uma unidade de força vai aqui na sua... uh... coisa espinhal, que envia impulsos elétricos aos músculos e outros troços, que são fundidos com um endoesqueleto de vanádio substituindo seus... ossos das pernas.”
Ray: “Vou confessar uma coisa. De certo modo preocupa-me que você não saiba os nomes verdadeiros dos ossos.”
Krieger: “Que importa? Vai tudo pro lixo mesmo.”

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