Star Wars e o
Lado Obscuro da Força
Não, você não
vai encontrar esse entre os títulos da saga Star Wars de George Lucas. Aqui
estamos falando de algo menos fantasioso e bem mais ameaçador, mas já chego lá.
O episódio dessa
semana começa com Scott Birkeland, um patriótico oficial da Inteligência Sueca
(por nós também conhecido como Philip Jennings, espião soviético) sensualmente
prendendo (e não tirando, como se esperaria) o que parece ser o sutiã de uma
bela mulher, que acontece que é a esposa do assistente mais chegado ao
Secretário de Defesa does EUA. Seduzida por Jennings, ela concorda em tirar
fotos do estúdio onde o Secretário e outras autoridades discutem segredos de
Estado.
A missão dos
Jennings: grampear o escritório do Secretário de Defesa, o que pode parecer uma
tarefa simples, mas que acaba revelando muitos desdobramentos inesperados. Ao
analisar as fotos, chegam á conclusão de que o melhor lugar para esconder um
microfone é o relógio da prateleira. Resta só saber como chegar a ele.
Como eu falei
antes, parece uma trama relativamente simples, mas que requereu que os Jennings
superassem qualquer obstáculo moral que tivessem. E isso nos leva a refletir
sobre o que é o mal, como ele se manifesta, que pessoa o pratica e em que
contexto. Dependendo do ponto de vista, pode ser um mal necessário e um ato até
justificável. Ou pode se revelar um ato repulsivo e imperdoável.
A essa altura já
começamos a conhecer os personagens principais o suficiente para que até
torçamos por eles, mesmo eles sendo os “bandidos” da história. Ou será que não
são? Não que nós, estrangeiros, automaticamente devamos torcer pelos
americanos, muito embora o programa seja feito para uma plateia primariamente
americana. Mas em shows como esse, para mim, traidor é traidor e espiões podem
parecer ousados e cercados de aventuras, mas são capazes de trair qualquer um,
mentir a qualquer um, praticar o ato mais vil imaginável, tudo em nome de uma
missão. E fica difícil ficar do lado dessa gente, a menos que uma causa muito
nobre se apresente. De qualquer modo, essa é uma questão que considero em
aberto.
Como falei, fica
difícil não simpatizar com os protagonistas, em particular com o bom e velho
Phil, um cara que muito bem pode ser o melhor amigo de qualquer um. Mas começa
usando uma mulher à custa de seus sentimentos mais nobres. Tá certo que ela é
do tipo aloprada e inconsequente, (e está traindo o marido) mas é triste quando
uma mulher se deixa seduzir por um vigarista que pode levá-la à ruína. Nesse
caso, contudo, “Scott” apenas quer que ela tire fotos.
Se você achou os
atos dos Jennings desprezíveis até agora, ainda não viu nada. Phil e Elizabeth
decidem que a melhor maneira de ter acesso ao relógio é chantageando Viola, a
gentil senhora que trabalha como empregada na casa do Secretário e, para isso,
usam um dispositivo que ficou conhecido na Guerra Fria como “guarda-chuva
búlgaro” para envenenar o filho dessa senhora. Trata-se de uma arma na forma de
guarda-chuva que, por meio de um dispositivo pneumático, lança uma capsula
envenenada ou radioativa no corpo da vítima.
Imaginem a
surpresa dela quando recebe a visita de um Phil bigodudo (em mais um de seus
disfarces) e de Elizabeth que já vão entrando casa a dentro, quando ele expõe a
situação de maneira fria e calculista: seu filho foi envenenado, ele está
doente, não melhorará, não adianta levar ao médico, nós temos o antídoto e a
menos que o administremos dentro de um prazo, ele certamente morrerá. E tudo
que queremos é que nos traga e depois devolva um relógio da casa do Secretário.
Como você
reagiria se um estranho batesse à sua porta e colocasse as coisas dessa
maneira? Que monstro seria capaz de uma coisa dessas? É claro que Phil não é
monstro algum, não todo o tempo pelo menos, é até um cara legal, mas aí vemos a
vida esquizofrênica que um espião tem que levar. Tem que ser monstro, amigo,
bom marido, e bom pai quando necessário.
Toda a relação
que se desenvolve entre Phil e Viola é complexa e acidentada. Para Phil, a
tarefa é muito simples e mesmo ele não quer fazer mal ao filho dela. Mas ela
hesita, desconversa, traz seu irmão à história e Phil tem que quebrar seu
braço... Por que ela tem que ser tão teimosa, meu Deus? E, justamente Deus se
torna outro obstáculo, pois ela acaba buscando resistência em sua fé e Phil,
fruto de uma doutrina marxista ateísta apenas reclama que pessoas que acreditam
em Deus são os piores alvos. Quando ela acaba se recusando a fazer sua parte,
Phil lhe dá um ultimato e começa a sufocar o filho de Viola na sua frente, até
ela ceder. Trágico, mesmo.
O episódio
também mostrou os esforços bem-sucedidos do FBI em conseguir chantagear uma
funcionária da Embaixada Soviética para atuar como espiã dos americanos. Também
contou com o agente Stan Beeman, ainda desconfiado, colocando o nariz na vida
dos Jennings. Como forma de provocação, Stan traz uma lata de caviar beluga e a
reparte com Phil como bom vizinho. Aliás, episódio passado tivemos vodca, e
neste, caviar. Prevejo que no episódio três, os Jennings e os Beeman se reúnam
para comer um delicioso strogonoff.
Nesse episódio,
Elizabeth teve participação mais discreta, pois foi Phil que colocou a mão na massa,
por assim dizer, nessa operação. Mas foi interessante que tivemos uma cena
parecida à do episódio passado, quando Phil intimida Viola fisicamente.
De qualquer
modo, depois de muito custo, Phil consegue que Viola faça o que mandam e planta
um microfone no interior do tal relógio. Missão cumprida!
No episódio
passado tivemos um momento tocante entre marido e mulher. Dessa vez, o episódio
tem como uma das cenas finais um momento ternura entre mãe e filha, quando
Elizabeth fura as orelhas de Paige.
Aproveitar o
momento foi a maneira de Elizabeth lidar com a incerteza do que acontecerá com
Paige e Henry se eles forem capturados. Mas eu, por outro lado, fiquei pensando
o que será das crianças se Phil e Elizabeth forem chamados de volta à União
Soviética. Levarão os filhos, mesmo eles sendo legítimos cidadãos americanos?
Como eles se adaptariam? Ou os deixarão com outras pessoas nos EUA? É o tipo da
situação que não tem como terminar bem, e Elizabeth está muito consciente dessa
possibilidade.
E, afinal de
contas, o que tem Star Wars a ver com tudo isso? Graças á escuta colocada no
relógio, os soviéticos ficam sabendo dos planos de Ronald Reagan de montar um
escudo antimísseis protegendo os EUA e a Europa Ocidental. Seria uma maneira
defensiva de destruir projeteis lançados da URSS por meio de mísseis,
micro-ondas, raios-X e outros meios. Tratava-se da Iniciativa Estratégica de
Defesa (SDI), popularmente conhecida nos anos 80 como “Star Wars de Ronald
Reagan”.
O problema é que
em momento algum os soviéticos acreditavam que seria um sistema apenas
defensivo e o temor generalizado era que Reagan estava levando a Guerra Fria ao
espaço. E a partir desse fato, podemos começar a compreender o ponto de vista
de Elizabeth, principalmente, pois não importa o quão sedutora a América
pareça, o trabalho que os “Jennings” estão fazendo é vital á medida que a
própria sobrevivência do povo soviético está em jogo e sua aniquilação é uma
possibilidade palpável.
E então, o que
você achou do segundo episódio? Tão bom quanto o primeiro? Pretende acompanhar
os demais? Quais são suas impressões?
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