Despertando a paranoia
da Guerra Fria.
Em primeiro
lugar, sinto pelo atraso na review da semana passada. É chato quando a vida
real atrapalha nossa vida online, mas é coisa que acontece. O importante é que
retomamos a normalidade. E fica a boa notícia de que o FX renovou The Americans para uma segunda temporada!
The Americans
está se revelando um excelente show com muito suspense e desenvolvimento de
personagem. Ao contrário de outros programas que buscam emoções fortes e
constantes e viradas implausíveis, The Americans vai cozinhando a situação mais
lentamente, movendo as peças de um nervoso jogo de xadrez nos bastidores da
Inteligência americana e soviética. Bem como foi na Guerra Fria! E, ao mesmo
tempo, a vida pessoal dos Jennings é posta à prova.
O quarto
episódio da temporada In Control, nos mostrou como a mentalidade de uma época
paranoica funcionava e os riscos foram elevados consideravelmente. Por exemplo,
a cena em que Beeman vai encontrar Nina numa rua à noite e ele só no último
momento percebe que ela está sendo seguida e eles passam um pelo outro fingindo
não se conhecerem foi emblemática e nos remeteu a situações similares
exploradas em clássicos filmes de espionagem dos anos 60. A cena foi pontuada
por tamanha tensão mesmo que, aparentemente, nada de extraordinário ocorreu,
pois tudo o que aconteceu foram duas pessoas supostamente anônimas se cruzarem
numa rua.
A escalada
paranoica dos acontecimentos mostrou como a informação é importante nesse tipo
de trama, e como a falta dela pode levar a desastre. Tudo isso aliado a uma
falta de conhecimento da cultura do inimigo pode ser fatal. No caso, com a
tentativa de assassinato do presidente Reagan, o Secretário de Estado Alexander
Haig anunciou, com o óbvio intento de transmitir segurança ao povo americano,
deu uma entrevista afirmando que ele estava “no controle”. E, somando-se a
isso, Elizabeth e Phil conseguem captar uma conversa parcial (ah, que saudades
do tempo das gravações analógicas...) em que fica indicado que Haig possui a “bola
de futebol”, ou seja, a pasta com os códigos autorizando o lançamento de
mísseis nucleares.
E ainda havia um
singelo detalhe: Haig era um general. A única interpretação a que as russas
Nina e Elizabeth chegaram foi simples, lógica e totalmente incorreta: estava
acontecendo um golpe de Estado! Os militares estão tomando conta do governo!
Pelo menos se fosse na União Soviética seria exatamente isso que ocorreria.
Isso bastou para
que Phil e Liz recebessem ordens de começar a “Operação Christopher”, em que
desencavaram um arsenal, planejaram métodos de assassinar autoridades
americanas, e um pobre guarda de segurança desmiolado foi morto. E se os Jennings
tivessem transmitido a Moscou que Haig tinha os códigos de lançamento, então fatalmente
os soviéticos teriam entrado em alerta de guerra.
Ao mesmo tempo,
o FBI reagia. O agente Gaad mostrou uma liderança decisiva e o personagem realmente
transmite a sensação de saber o que está fazendo. Mas entrando no clima de
paranoia coletiva, preferiu arriscar a vida da informante Nina em nome de um
boato. Tudo isso porque o cenário de Terceira Guerra Mundial era perfeitamente plausível
na ocasião. Ah, e Amador, seu trapalhão. Além de fazer comentários inúteis que
testam a paciência de Gaad, falhou na cobertura de Beeman. Sua função é observar
e reportar, então reporte! Se não fosse a experiência de Beeman, o espião russo
que seguia Nina teria descoberto a traição da bela. Mas até quando será que ela
dura?
Coube a Phil
demonstrar calma e tomar conta da situação. Até agora vimos Elizabeth liderar
as operações com frieza e dedicação, mas dessa vez foi o conhecimento de Phil
da cultura americana que o levou a tirar a conclusão correta. E não é apenas
uma questão de obter informações e, sim, de saber interpretá-las corretamente.
E Phil sabia que nos EUA um golpe militar é algo muito improvável.
Restou a
Elizabeth reavaliar seu posicionamento e tentar confiar mais em Phil. Entendo
que é difícil para ela. Como vimos em seus flashbacks, Elizabeth cresceu na
União Soviética aprendendo da maneira dura que também deve ser dura e que, no fim
das contas, só pode contar consigo própria. E ela é o tipo de pessoa que diz: “Acredito
em algo maior que eu mesma.” Já Phil, sobre cujo passado nada se sabe ainda,
ele chegou a sugerir que eles desertassem e isso Elizabeth, até agora, não
engoliu, chegando a acusá-lo abertamente. E Claudia parece ter desenvolvido uma
simpatia instantânea por Elizabeth, o que indica que ela é o tipo de espião que
o Kremlin prefere.
Nesse contexto,
ficam totalmente deslocados os filhos do casal. Objetivamente eles funcionam
apenas para dar uma fachada de legitimidade a Phil e Liz, mas eles são seres
humanos, pessoas em desenvolvimento, crescendo como americanos e aprendendo na
escola coisas como a Polônia sendo parte da Rússia (para o desespero contido de
Elizabeth).
Parece que Paige,
a filha dos Jennings e Matthew, filho de Stan Beeman, estão se entendendo, ao
mesmo tempo que tentam formular seus conceitos, apesar de terem vaga ideia do
que seus pais fazem. Chegou a ser surreal como eles fizeram piadas da
periculosidade envolvida na atividade de “agente de viagem”. (E, a propósito,
estou cada vez mais impressionado com a atriz Holly Taylor, que interpreta
Paige. Bela e elegante, vejo nela uma estrela prestes a despontar no cenário
artístico.)
E já que estamos
falando do campo da vida pessoal, é triste ver como Stan e sua mulher Sandra
estão distantes um do outro. Beeman é bom agente, mas parece que isso é só o
que consegue fazer. Achei interessante como pareceu pintar um clima entre Stan
e a bela Nina, quando ele conteve os risos quando ela disse uma expressão
errada em inglês. Espero que eles tenham um caso!
E então, tendo
em vista que o show cobre um período histórico relativamente recente e bem conhecido,
que situações de espionagem poderão ocorrer que surpreenda o espectador? E no
campo pessoal, o que o futuro reserva aos personagens?
E, para
terminar, e para seu deleite musical, mais um sucesso do início dos anos 80, The
Pictures on My Wall, de Echo and the Bunnymen (1979).
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