Uma Season Finale ousada -- e estranha.

Depois de ver "War" fiquei refletindo por muito tempo, tentando entender o caminho que Suits traçou até aqui. É inegável que a primeira parte da segunda temporada foi impecável. A partir da entrada de Daniel até sua expulsão da Pearson Hardman, tivemos uma sequência dramática com uma narrativa poderosa, senão explosível. Todos os personagens foram levados ao máximo, expondo suas fraquezas e as tentativas quase sempre fracassadas de corrigirem seus erros.

Foi lindo de ver. Surpreendente porque não esperávamos nada disso de Suits. Que isso. Suits era uma simples série da USA. Nada de espetacular. Nada de original.

Mas, depois do êxtase, ainda tinha a prolongação da temporada até o episódio 16. Não entendi muito, já que em High Noon tudo se resolveu, e a série estava pronta para começar uma nova fase. No entanto, com o esticamento, Daniel voltou para tentar catar seus pedaços ao se aproveitar da fraqueza financeira da firma, querendo desesperadamente destruí-la de vez.

Mas, no mundo de Suits, o desespero é inimigo da perfeição. A vantagem com que Daniel contava, que era a pobreza que Pearson Hardman passava, foi logo extinta com um golpe certeiro de Jessica. Primeiro, Robert Zane apareceu querendo ser a salvação do dia. Não deu. Jessica não confiou nele o suficiente.  Ele não estava disposto a fazer parte do clubinho dos odiadores de Hardman. Depois, e é aqui que eu comecei a perder o raciocínio da série, Dana Scott aterrizou na firma com toda a sua bagagem de Londres e um coração apaixonado por Harvey. Segundo ela, essas duas coisas se interligavam.

Dana confidenciou para Donna que estava apaixonada por Harvey, que não lhe daria atenção se ela não o processasse. Como assim? A única forma que ela achou de atrair a atenção dele para fazer par romântico com ela foi juntando a firma dele com a dela? Não sei. Isso parece meio forçado. Além do mais, Scott foi uma personagem que apareceu apenas em um episódio antes disso, como um affair aleatório de Harvey e sua oponente em um caso. Ela dormiu com ele pouco antes de voltar para Londres para seu casamento, o que soubemos logo que não aconteceu.

Fazendo de conta que esta lógica da personagem fez sentido, nós vimos que a coisa fez foi dar errado para ela. Harvey não queria outro sócio, queria se tornar um. E para quem estava "apaixonada", o erro lhe custou muito caro. Porém, como aqui também acontece redenção, a advogada tentou burlar a própria iniciativa, ao entregar para Mike a chance de derrotar Edward Darby. E, de novo, sua iniciativa voltou para ferrá-la outra vez.

No final, Harvey pelo menos entendeu a intenção da moça e até intercedeu por ela. Claro, teve a santa interferência de Donna no processo, e não poderia ser diferente. Mas, assim... aquela declaração dela, dizendo que ele sempre luta pelas coisas ao redor dele, ao invés de lutar pelas coisas do coração... está muito mais ligada ao que existe entre os dois do que o que existe entre ele e Dana. Pelo menos para mim, não faz sentido essa personagem entrar como novo par romântico dele, apesar de entender que a série planeja, com isso, prolongar mais a tensão sexual de Donna e Specter.

Uma vez que Daniel foi derrotado, mesmo usando armas como o gigantesco processo da Folsom, a eterna solteirice de Jessica, e a cara de pau de Monica, sobrou a rivalidade entre Harvey e a patroa, algo que evidentemente aconteceria. Já expressei por aqui que discordo da política de Jessica. Esse negócio de ela dizer que "não é a hora" dele ter seu nome na porta é bem o que Hardman falou... ela não confia nele. Ou, como depois o próprio concluiu, ela tem medo dele. Uma coisa é os dois viverem felizes e sorridentes enquanto ele apenas obedece e entrega vitórias. Outra coisa é serem iguais um diante do outro, com a possibilidade de um dia ele superá-la.

Todavia, não fiquei surpresa com a ousadia de Jessica. Por diversas vezes ela já se provou inescrupulosa e impiedosa com quem entra em seu caminho. Um bom exemplo foi com a juíza de All In que, além de sofrer com uma brincadeira de mal gosto feita por Pearson na faculdade, ainda foi ameaçada de ser acusada de corrupção caso não saísse do caso de Harvey.

Agora chegou a vez de seu braço direito ser a pedra em seu sapato. Deu para observar, porém, que ela esperava que tudo continuasse bem entre ela e Harvey, vide a cena (na festa) em que ela estava prestes a dizer para Darby que entre ela e Specter não há segredos. Ela contava que seu cão de guarda entenderia a situação e continuaria esperando seu dia de ter o nome no tão desejado letreiro.

Boy, I just kicked your ass! And you didn't just want it. You begged me for it. So now you're going to stay here, be humble, and learn your goddamn place.

E a peia que Harvey levou por não agir assim foi grande. Agora, ele não só perdeu e teve que receber Edward humildemente, como também teve que estender a cláusula de não competição. Ou seja, a não ser que ele esteja disposto a praticar a profissão em outra cidade (lembrando que ele chama Manhattan de "a cidade"), ele está acorrentado numa coleira controlada por ela.

No entanto, procede dizer que ela tem medo dele. Na verdade, ela não é nada sem ele. Quem é tão bom quanto ele e estaria disposto a fazer tudo o que ele já fez por ela? Pois é.

Acontece que ele é um cachorro preso agora, mas não será sempre assim. Uma hora ele vai conseguir se soltar. E então? O orgulho dele está ferido como nunca. Até Mike, por quem ele se sacrificou diversas vezes, se virou contra ele no final. Não sei se antes dele revidar na mesma proporção Jessica irá se redimir. Porque, se não, podemos até considerar a perda de uma excelente personagem.

Louis conseguiu praticamente um milagre nesta reta final: um amigo. Ri demais do momento em que ele encontra um "Louis britânico". Assim como Sheila (que finalmente fez as pazes com nosso querido castor), essa outra versão de Litt é temível, especialmente porque "lama" é um tema que merece discussões embasadas e brigas dignas de Tom e Jerry. Infelizmente, ele não foi honesto o suficiente para merecer a amizade de Nigel Alexander Nesbitt, e aquela lista de eficiência ainda vai gerar muito bafafá. Espero que na temporada que vem os dois continuem com seus diálogos afiados e cheios de conotação sexual. Afinal, quero saber qual deles será o primeiro merecedor a entrar no cubículo de Donna.

Quanto ao drama que fechou a temporada, mal sei o que dizer. Primeiro que Rachel é muito cheia de manha. Segundo que o vou-não-vou para Harvard encheu a paciência. Ainda bem que (aparentemente) isso acabou. Agora, o fato de Mike revelar seu segredo para ela era certo que aconteceria ainda nesta segunda temporada, o que não imaginávamos era a reação "calorosa" da moça.

Ok. Não há segredos mais entre eles. Dá para entender o porquê de os dois acharem que estão livres para se amarem. Mas, e o depois? Inconformada do jeito que está, mais tarde ela irá pelo menos considerar não achar a situação tão romântica assim. Afinal, ela é muito boa no que faz (e não vai se decepcionar quando se deparar com o mundo real dos advogados), é filha de Robert Zane, e é subordinada a alguém que não é nada disso e não foi para Harvard... é uma sequência de obviedades.

Tirando o fato de não sabermos se alguém presenciou ou não a conversa, o círculo de cúmplices continua aumentando. Harvey, Jessica, Jenny, Donna, Trevor, Rachel. E em algum momento este círculo não vai se fechar mais.


Observações:
  • A temporada começou com um embate entre Jessica e Mike em She Knows, e terminou com ela usando a fraqueza dele para vencê-lo. Jogo muito arriscado, claro. Foi muito impetuoso da parte dela  assumir que só ele irá para a cadeia por advogar sem ser advogado. Mas, novamente, ela é Jessica Pearson, bitches.
  • Queen Jessica também tem Tumblr, claro: queenjessica-pearson.tumblr.com
  • Katrina (olha só o nome da criatura) vai ser uma pedra no sapato na temporada que vem. Se em tão pouco tempo ela já incomodou tanto, imaginem se ela, com o caráter que tem, descobrir sobre o segredo de Ross. Não vai prestar.
  • Impossível não lembrar de Conleth Hill fazendo o eunuco em Game of Thrones (Lord Varys). Assim que ele chegou em Suits pensei: olha o eunuco astuto chegando para causar problema! E não é que pelo menos na segunda parte eu estava certa?
  • Muito fofo o Louis tentar "poupar" Rachel da "verdade". Mas, que chato também, viu. De repente todo mundo resolve tratar a menina como se ela fosse de vidro.
  • Suits, mais uma vez, reverenciando Downton Abbey. Genial demais os roteiristas se mostrarem tão fãs de outra série. Fora as inúmeras referências a filmes e outras séries que cada episódio tem.
Até a próxima temporada!

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