Um enorme “traseiro”, um laser letal, perigosos mafiosos brasileiros... Shameless começa a terceira temporada prometendo muitas aventuras.

O charme original de Shameless, o drama com toques de humor negro de Paul Abbott e John Wells (fora a sequencia inicial dos créditos, que é sensacional) residia em como os Gallagers ganhavam a vida. Você já surrupiou alguma coisa de um supermercado, escondeu na bolsa e passou pelo caixa sem pagar? Já pensou em fugir de um restaurante antes que o garçom trouxesse a conta? Levou todas as toalhas de papel do banheiro do shopping para não precisar comprar e abastecer seu banheiro? Você não precisa confessar!

Para os Gallagers esse tipo de expediente é coisa rotineira. Só com pequenas (e não tão pequenas) trapaças desse tipo é que os Gallagers conseguem equilibrar o orçamento de uma família com um pai parasita e seis filhos, com apenas uma renda fixa (quando tem) de uma das filhas, que se torna mãe, na prática, dos outros e mais as contribuições do namorado dela. Mas essa situação chamava atenção por ser inusitada na primeira temporada. Agora que o show começa a terceira, é óbvio que tem que se renovar.


A terceira temporada retoma a história dos Gallagers depois do inverno. Vemos Fiona e seu namorado Jimmy vivendo uma vida de casal um tanto convencional cuidando da tropa toda e Jimmy está muito caseiro. De início as coisas parecem um tanto aborrecidas para o espectador, tanto é que Fiona comenta com sua amiga e vizinha Veronica que não consegue achar atraente o Jimmy fazer tantos serviços domésticos com tanta dedicação.


Fiona, nesse ponto, tenta ganhar a vida como pode, o que faz com que ela fique, literalmente, e com o perdão da palavra, senhoras e senhores, na merda (não esqueçam que esse é um programa da Showtime, o que permite plena liberdade de linguagem) com um emprego de US$ 14,50 a hora limpando dejetos tóxicos. E, com uma conta do equivalente ao IPTU deles para pagar, ela, após ser despedida, decide arriscar e investir seus últimos mil dólares promovendo uma noite em uma boate, a chance que lhe é dada para um retorno monetário mais alto. Sei não, mas para mim Fiona tem muitas chances de acabar na merda, mesmo que não literalmente dessa vez.


Lip teve uma aventura e tanto. Com o auxílio da namorada e de Ian, rouba um laser de uma faculdade, peça essa que seria usada em uma sonda a ser enviada a marte ou coisa assim, uma história pouco plausível, mas esqueçamos esse detalhe. Iam escapa com o aparelho, mas Lip é preso, defende seu caso diante do juiz como um advogado (ou, no caso, infrator) profissional, é punido com trabalho comunitário e recebe um aviso: quando ele completar 18 anos, o juiz vai jogá-lo na cadeia mesmo com os piores elementos.


Mas todo esse esforço não foi em vão. Lip usa de sua genialidade para adaptar o laser em um robô de competição, que fulmina no melhor estilo Star Trek o campeão controlado por um mauricinho qualquer e leva a recompensa de 400 dólares. Confesso que ver o laser destruir o campeão num raio certeiro foi emocionante.


Pois, é e o Jimmy, o caseiro Jimmy? Ele prometeu fazer uns biscoitos para os meninos, mas recebe uma visita inesperada. Nada como uma visita surpresa dos parentes... da esposa brasileira dele! Principalmente quando o pai dela é um mafioso da pior espécie. Nesse ponto o show viajou mesmo. Não achei os “brasileiros” que ali apareceram ofensivos ao nosso país, mas essa parte foi uma fantasia pura.


Deixando isso de lado, foi tragicômico como Jimmy presenciou de perto como opera aquela quadrilha, primeiro assassinando Marco, o amante de Estefania (a suposta esposa de Jimmy), depois tendo que segurar o corpo enquanto os bandidos o esquartejavam e eles trocavam gracejos como “Vamos ficar com a cabeça pra jogar polo” ou expressando dúvidas profissionais como “Arranco os dentes, patrão?”


A aventura culminou com uma viagem para as profundas águas do lago Michigan (que mais parece um mar) para jogar os restos de Marco no fundo (numa cena que me lembrou muito Dexter), enquanto que o pai de Estefania praticava tiro ao alvo com frutas e  dava um ultimato a Jimmy: Estefania precisa de um marido para ganhar residência e cidadania americana - afinal não é o que todos os brasileiros querem? Brincadeira! Enfim, nada de roubar ou trapacear, e pode transar com Fiona o quanto quiser desde que não seja nada a sério. Jimmy pareceu entender o recado, mas nem faço ideia de como ela vai se livrar desse poderoso chefão e ainda manter seu relacionamento com Fiona.

Por fim, cabe o destaque à trama de Frank. Para mim ele roubou o episódio, e roubar é com ele mesmo. No início da história ele acorda no México depois de uma bebedeira perguntando se perdeu o Natal. Natal? Já é Páscoa, responde um estranho. Seu problema agora é retornar aos EUA. Ele tenta passar pela fronteira, mas sem documentos, fica difícil. Tenta passar a conversinha no guarda de fronteira, mas não tem jeito.

O jeito é contar com um “coiote” um daqueles que são pagos para levar ilegais pela fronteira. Também dá errado. Até que lhe fazem uma proposta indecente. Examinam-lhe de cabo a rabo. Frank recebe roupas limpas, documentos falsos, um banho... Tudo do melhor, só que o preço é... servir de mula de drogas. E lhe entregam uns preservativos recheados. Frank pergunta, ingenuamente, “Mas como é que eu vou engolir isso?” “Quem disse que é para engolir?” responde o mexicano.


Pois bem, a aventura termina com Frank caminhando um tanto desajeitadamente como alguém que precisa urgentemente ir ao banheiro, apresentando os documentos falsos ao mesmo guarda que não o deixou passar antes, e indo ao encontro de uma bela mulher num conversível que o espera no lado americano. E ela diz que Frank se tornou uma lenda. Ela gora é conhecido como “El Gran Cañón”, com sua fantástica capacidade anal de reter 19 bexigas! Tudo isso, é claro, se deve à intensa prática intestinal desenvolvida graças aos peculiares hábitos sexuais da viúva Sheila, com quem Frank estava amasiado. “Fácil. É como fazer cocô ao contrário”, diz Frank alegremente após passar a fronteira. De fato essa parte do episódio beirou ao grotesco, mas em termos de humor, é algo que dessa vez funcionou.


E terminamos com Frank chegando em casa e o pessoal não lhe dando nem dois segundos de atenção, com exceção de Debbie, a única a correr e lhe dar um abraço. São coisas de uma família totalmente disfuncional. Mas confesso que fiquei curioso para ver o que acontece semana que vem.

E aí, o que você achou? Acha que a noite de Fiona no clube será um sucesso e o investimento dela terá valido a pena? Lip se envolverá noutra confusão? Frank voltará a ser um parasita na família? E como Jimmy vai se livrar dos mafiosos?

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