Inauguramos a
seção “Túnel do Tempo”, sobre séries passadas que marcaram época, com a
fantástica tragicomédia forense Pushing
Daisies.
Imagine um mundo
alucinante unindo romance e morte com uma paleta de cores saturadas, rica
música orquestrada e deliciosas tortas de todos os sabores. Imagine um conto de fadas moderno com uma
mistura da obra de Tim Burton, do filme Amélie
Poulain e dos mistérios de Alfred Hitchcock. Finalmente, imagine tudo isso
ser cancelado quando ainda havia tanta coisa a ser contada.
Pushing Daisies
é a história de Ned (Lee Pace), um pacato confeiteiro de tortas que, quando
menino, descobriu que era dotado de um talento especial. Nem intelectual nem
atleticamente. O que Ned conseguia fazer era, com um simples toque, trazer os
mortos de volta à vida. Por um minuto sem consequências, mas se o ex-morto
permanecesse vivo por pelo menos 61 segundos, outra coisa teria que morrer em
seu lugar. A menos que Ned o tocasse antes, pois o mesmo toque que o trouxera a
vida, também o condenaria à morte.
Ned amava a
menina Charlotte, a quem ele chamava de Chuck. Mas a vida não quis que ambos
ficassem juntos. E, após as trágicas mortes da mãe de Ned e do pai de Chuck
(ambas inadvertidamente causadas pelo próprio Ned), e de Ned e Chuck trocarem
seu primeiro beijo, os dois tiveram destinos diferentes; Ned foi esquecido em
um internato, enquanto que Chuck foi criada pelas agorafóbicas tias Lily e
Vivian, um par de ex-nadadoras sincronizadas e especialistas em queijos finos. E
Ned e Chuck jamais voltariam a se encontrar enquanto ela estivesse viva.
Ned cresceu e se
tornou o “Piemaker”. Seu caminho acabou se cruzando com o renomado detetive
Emerson Cod (Chi MacBride) e, juntos, passaram a resolver assassinatos em troca
das recompensas. Ora, era muito fácil resolver um crime quando se podia
perguntar à vítima quem a matou. Tudo ia bem até Ned se deparar com sua velha
paixão Chuck (Anna Friel), o que seria uma ocasião a comemorar se não fosse o
simples detalhe de que ela estava... morta.
Tratada por
Emerson como mais um caso, contudo, Chuck era muito mais do que isso para Ned,
que decidiu desafiar todas as leis da natureza, permitindo que ela vivesse por
mais de um minuto... E foi assim que Chuck voltou para a vida de Ned, que
conseguira seu amor de infância de volta, mas com o singelo detalhe de que se
eles se tocassem, uma vez que fosse, ela voltaria a morrer, dessa vez para
sempre. E, assim, Chuck se uniu ao time, resolvendo mistérios de assassinato
enquanto que os dois tentavam fazer sua inusitada vida romântica funcionar. E,
enquanto isso, a garçonete Olive (Kristin Chenoweth) deixava sua paixão (nem
tão) secreta por Ned sob a forma de belas canções cantadas com uma voz digna de
uma rainha da Broadway.
E assim começou
Pushing Daisies. Foram 22 episódios divididos em duas temporadas filmadas em
2007 e 2008. Com os nomes de Bryan Fuller na criação, Barry Sonnenfeld, na
direção do piloto e de alguns episódios e de Jim Dooley na direção musical,
Pushing Daisies foi inicialmente muito bem recebida pelo público e pela
crítica. O show recebeu nada menos que 17 indicações ao Emmy, ganhando sete,
incluindo Destaque em Direção de uma Série Cômica para Barry Sonnenfeld e
Destaque para Atriz Coadjuvante em Série Cômica para Kristin Chenoweth.
Como espectador,
posso dizer que Pushing Daisies é impressionante e um dos shows mais criativos
e originais que já vi. Descreve um amor puro e idílico entre Ned e Chuck. As
cores, a direção de arte, o guarda-roupa, os cenários elaborados, a música
instrumental riquíssima, os diálogos engraçados e irônicos disparados pelos
atores em um ritmo rápido e incessante, tudo contribui para uma deliciosa
imersão em um universo mágico de rara beleza.
Pushing
Daisies,
contudo, não agradou a todos e acabou cancelada no meio da segunda temporada.
Alguns culpam a greve dos roteiristas de 2007, que abreviou a primeira
temporada do show em nove episódios apenas, e como o programa só retornou ao ar
um ano depois, a recepção do público já não foi tão boa.
Poderíamos dizer
que, como pontos fracos, a própria premissa, por mais criativa que fosse,
acabou afastando a audiência. Como se deixar envolver em um romance sem sexo,
nem um beijo (a menos que fosse com um filme plástico entre ambos) sequer? Além
disso, os episódios sempre seguiam a mesma fórmula da investigação de um crime.
E, embora a Daisies tratasse em
detalhes a vida dos personagens fixos, as investigações eram recheadas de
absurdos, coisas que não faziam o menor sentido.
As vítimas eram
sempre mortas de maneira criativa e inusitada, mas as investigações seguiam uma
lógica e a complexidade de um desenho animado e, faltando cinco minutos para o
final, o narrador simplesmente resumia como o culpado era simplesmente preso
(mesmo sem forte evidência) ou acabava confessando sem mais nem menos e o crime
era perfeitamente resolvido. E, por falar em narrador, apesar dos fãs gostarem
muito da voz e do sotaque britânico de Jim Dale, os não tão fãs achavam sua
presença constante um exagero e um aborrecimento. Enfim, não se pode agradar a
todos...
As duas
temporadas de Pushing Daisies estão
disponíveis em DVD e Blu-Ray. Vale a pena gastar um pouco para apreciar a
beleza estética dessa obra em sua plenitude.
Só pra dar um gostinho:
Confira o promo exibido na WBtv Brasil em 2008:
Também confira a música de Jim Dooley para Pushing Daisies.
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