Realizando o Sonho Americano em meio à recessão.

O episódio de Shameless dessa semana tocou bem na questão do que é a sobrevivência durante uma recessão para os brancos desprivilegiados. Mostrou diferentes personagens em sua busca pelo famoso Sonho Americano, com resultados desanimadores para eles.


Começa num toque de humor negro, em que Frank apresenta os destaques do episódio passado, com sua experiência como mula de drogas no México.  “Uma espécie de Jornada do Herói”, orgulha-se Frank.

Jimmy, agora está sob vigilância constante dos asseclas de Nando, o mafioso brasileiro, pois Nando, como um “bom pai” quer que sua filha Estefania estude nos EUA e se torne cidadã, conseguindo seu quinhão do tal Sonho. E para tanto precisará de Jimmy como marido diante do Departamento de Imigração. Por causa disso, Jimmy não pode se meter em encrenca, o que significa que não pode mais ganhar a vida “honestamente” naquilo que ele sabe fazer: roubar Porsches. E o pobre Jimmy até que tenta se esgueirar de noite e fazer um roubo, mas é impedido pelo novo “anjo da guarda” com resultado doloroso:


Recado de Nando para Jimmy: “consiga um emprego”. Resposta de Jimmy: “Não sei lá como é no Brasil, mas aqui estamos numa recessão.” Irônico, não é mesmo?

O cerne da trama, contudo, deu-se no contraste entre as visões de Fiona e Lip sobre como vencer na vida e como alcançar o Sonho Americano. Fiona faz o que pode e o que não deve para isso. Deixa de pagar mil dólares de IPTU para poder promover uma noite na boate em que trabalha e paga o fornecedor de bebidas (da máfia) com cheque sem fundos. Tudo porque acredita em sua capacidade empreendedora. O resultado: casa cheia. SUCESSO! Certo?


Não é bem assim. É verdade que a balada rendeu dez mil dólares, mas depois de pagar a dona da boate, a máfia das bebidas, o suborno do fiscal e pagar todo mundo... sobram-lhe 900 dólares. Prejuízo: 100 dólares. Fiona aprende a duras penas que o sucesso não vem assim em uma noite.

Quem lhe lembra disso constantemente é Lip, que salva o pagamento do IPTU armando um esquema, aliás vários esquemas. Aliás, a criatividade de Lip para negócios desonestos atinge um patamar inédito. Ao cumprir seu serviço comunitário, conhece um grupo de garotos ricos que se organizam para fazer serviços de caridade (que os pobres chamam de “droga do elenco de Glee”) para que conste em seus currículos, pois isso é apreciado nos processos seletivos das universidades. Ou seja, no fundo praticam a caridade por motivos egoístas. Pois bem, Lip os empresaria e consegue que eles façam um serviço de limpeza e reforma em uma casa de crack (coisa que eles vão fazer de graça) e COBRA do dono por isso.


Isso deixa os trabalhadores antes contratados sem trabalho.
“Você roubou nossos empregos,” reclama o trabalhador latino.
“Não roubei. Só cobrei menos,” responde Lip.
“Como cobrou menos? Somos imigrantes ilegais!”
“É isso aí, cara. Branco do gueto é o novo marrom”, referindo-se à etnia do latino ilegal.

E Lip aproveita também para explorar seus novos amigos riquinhos. Lip espalha que, na grande noite de Fiona, a banda Wilco, muito popular entre mauricinhos, estará tocando um “concerto secreto”. E quando os incautos meninos ricos comparecem, cobra 20 dólares por carro para estacionar. Resultado: dinheiro em caixa para pagar o IPTU e ainda dar uma lição de moral em Fiona.


“O único modo de pobre conseguir muito dinheiro é roubando ou trapaceando. Essas são as regras, mas se elas mudarem, por favor me avise.” Essa foi um soco no estômago de Fiona. E Lip desafia Fiona dizendo que, pelo jeito, é ele que deverá tomar conta do dinheiro dos Gallaghers daqui por diante.


O restante do episódio mostra como Sheila tem dificuldade em cuidar do neto, um bebê que não para de chorar, a tal ponto que quase o esqueceu em cima da lata do lixo quando o caminhão do lixo estava prestes a passar. Foi uma cena tensa pelo que poderia ter acontecido.

O único despreocupado com tudo e que nem está aí com o tal do Sonho Americano é Frank. Ele se revela um estorvo e um parasita na família, como sempre. Isso é o que ele apronta: corta o jeans novo de Fiona para fazer um calção, entorta a roda da bicicleta de Ian, usa a escova de dentes de Carl, come o jantar da família preparado por Jimmy, deixa Debbie perambular sozinha pela noite com um bebê, tenta roubar a cama dos outros para curar a bebedeira, leva vagabundos companheiros de bebedeira para dentro da casa dos filhos... E até esse momento a única que o defende é Debbie, com seu enorme coração, a única filha que o ama. Até que, numa disputa por uma cama, Frank despedaça o projeto escolar de Debbie e ainda diz que aquilo era uma porcaria mesmo. Pela primeira vez Debbie tem um ataque, a decepção é enorme, e ela, num ataque de fúria, golpeia o pai com um saco com sabonetes.


O resultado não podia ser outro: Frank é jogado o lugar onde merece. Confesso que Frank fez por merecer. Mas ele não deixou barato, não, e telefonou para o Serviço de Proteção à Criança e denunciou a própria família. Sujeito podre está aí!


No final, Frank apronta mais uma das suas. A fim de convencer Sheila a abrigá-lo como babá por seu “toque mágico” em cuidar de crianças, Frank droga o neto de Sheila com Valium para que ele pare de chorar... E ambos, narcotizados, pegam no sono, numa imagem que seria linda se não revelasse algo muito preocupante. Quando a gente pensa que o Frank baixou o nível tanto quanto poderia baixar, ele consegue baixar mais ainda.

O episódio ainda deixou alguns “ganchos” para os próximos: a volta do “machão” Mickey, namorado de Ian com uma curiosa e contraditória atitude em relação à própria homossexualidade, e a visita da esposa e do (possível) filho de Kevin. Isso pode gerar algumas histórias interessantes, mas como se tratam de personagens secundários, tenho lá minhas dúvidas. Vamos ver.

E aí, em que lado você fica? Quem tem razão, Fiona ou Lip? E tem alguma maneira de Frank não mais se tornar uma ameaça à própria família?


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