A receita perfeita de como destruir uma série que tinha tudo para ser épica.

Eu amei Weeds. Fiz maratona das cinco primeiras temporadas engolindo um episódio atrás do outro. Na Season Finale da segunda temporada surtei com a criatividade petulante da série. E, apesar das grandes mudanças da quarta, abracei a nova Weeds e me diverti com sua neurótica transformação.

Mas aí vieram a sétima e a oitava temporadas. A sétima começou sendo a última da série, logo, tinha a tarefa de fechar a história com chave de ouro. Mas em nenhum momento ela chegou perto de cumprir o que devia.

A oitava temporada, então... nem se fala. Lampejos daquela velha Weeds surgiam aqui e acolá e de repente sumiam do nada. A igreja de Doug, por exemplo, foi um último esforço da série de mostrar sua acidez. Um mendigo fala que é do futuro e profetiza que Doug será um grande homem... e imediatamente uma nova seita é criada. Segundos depois, o mendigo fala: ei, você sabe que eu não venho do futuro, né?

Mas até nisso Weeds errou. Ok. A crítica foi feita, parabéns por isso. Só que aí estenderam a loucura da seita para a relação de Doug com o filho gay. Pode até ter sido engraçado, contudo não havia uma forma mais "humana" de lidar com isto?

Mesmo que Weeds seja comédia e Doug seja o cúmulo do ridículo, a série se sai melhor quando trata a questão dos pais e filhos com mais dramaticidade. Ou, pensando direito, se saía melhor. Porque o que fizeram com Shane...

Não tem cabimento nem em Júpiter. Eles destruíram completamente o melhor personagem que tinham. Desde a sexta temporada ele foi se desenvolvendo como o mais inteligente dos Botwin. E no final ele não passava de uma caricatura de Mitch, um personagem que nunca foi relevante nem útil no universo de Weeds. Preciso dizer: QUE MERDA. QUE MERDA!

Silas foi menos destruído, mas ainda assim não teve um final correto. Primeiro: de onde que Megan SEMPRE foi o amor da vida dele? Nem citada ela foi depois que saiu da série!

Tá. Engolindo a raiva e considerando que isto fazia sentido e que Silas casar e ter uma família com ela era a consequência mais natural, ainda fica a pergunta: por que ela odiava a sogra? Por quê? Por que ela é a nora e isso implica em automaticamente odiar a sogra? Se você tiver uma resposta para isso, favor deixar nos comentários. Porque eu não tenho ideia de onde Weeds tirou essa "trama" idiota.

O relacionamento de Andy com Nancy só "começou" a ser "tratado" no final do 8x11. Oito anos de série e a relação dos dois só ganhou espaço para resolução no 8x11. Não, espera.

Me dá uma pausa para respirar.

[...]

E o que foi aquela resolução? Andy construiu uma vida para si mesmo, Nancy construiu uma vida para si mesma, e nem assim eles podiam ficar juntos? O que atrapalhava eles é que Andy era um Zé Ninguém e Nancy era uma mandona abusiva. Tal panorama não existe mais, eles são novas pessoas que se amam. Ela ofereceu a vida dela inteira para que ele a aceitasse. E isso não foi suficiente. Ah, QUE MERDA.

E as participações dos antigos personagens? Guillermo era, de longe, o coadjuvante mais interessante. E ele voltou. Voltou, chamou Nancy de Blanca -- o que adoro --, e ficou por isso mesmo. Opa, ele ainda "contou" para Stevie sobre quem era Esteban porque Nancy mentiu omitiu a história completa durante todos estes anos. Ou no futuro o Google não existirá mais, ou os demais personagens engoliram a língua e não podiam contar para ele quem era Esteban. E no final trouxeram Guillermo para nada. Que ódio de Weeds.

E Conrad? Nancy falou com ele por dois minutos e da negação total ele já estava apontando uma arma para Guillermo em defesa da nova sócia. Se queriam atingiu o cúmulo da inverossimilhança, conseguiram.

Na verdade, tais participações foram feitas nas coxas. Não pelos atores. Eles nos deram a honra de voltar para seus personagens para encerrar suas histórias. O trabalho mal feito ficou por conta dos produtores/roteiristas. Oito anos de série e eles "resolvem" tudo nos últimos minutos da maneira mais forçada possível.

O salto no tempo também foi, digamos, além da conta. Era melhor se Nancy e família tivessem se sobressaído no meio onde sempre tentaram: enquanto a maconha era ilegal. Ao invés disso, a série tomou o caminho mais curto, avançou alguns anos, liberou a maconha e pimba! Tudo deu certo, Nancy ficou rica e amém. Fácil assim, simples assim.

O destaque em Stevie é que impressionou mais. Mesmo que ele seja um Botwin, certamente havia outros Botwins que gostaríamos de ver mais. Não, para que ser educada? QUEM NA TERRA QUERIA SABER DE STEVIE?

Mas Weeds viajou na maionese com força. O menino deu show no seu Bar Mitzvah, renegando as origens judaicas herdadas da  mãe e do padrasto rabino, e assumindo o lado Scarface do pai Esteban. Primeiro, desde quando Nancy se importou com qualquer religião? Segundo, o que ela estava fazendo casada com o homem que não conseguia superar a morte da esposa? Como isso chegou a acontecer mesmo? Claro, Weeds não teve tempo de mostrar como chegou nesta parte da história.

Ah, e Nancy enterrou mais uma marido. Chame de ironia do destino, mas a mulher ficou, outra vez, viúva de um judeu. Este até seria um detalhe interessante se não fosse o resto que foi uma merda só.

Este final de Weeds desconstruiu, cagou e pisoteou em cima dos personagens. O que a série levou anos para fazer, ela conseguiu destruir nas duas últimas temporadas. Se os Botwin eram fortes porque estavam unidos, eles terminaram fracos e miseráveis porque estavam separados -- e assim continuariam. Se Nancy era a mulher forte que era por ter determinação, ela terminou fraca e em lágrimas, abrindo mão do tema de sua vida, a maconha, por nada.

"Decepção" não é uma palavra que traduz o que foi esta Series Finale para mim. "Trauma" se encaixaria melhor. Como disse no começo, eu amei Weeds. Ela foi a primeira série que me surpreendeu muito mais do que eu esperava. Por causa disso, eu ainda esperava que este último ano se redimisse, mas lá pelo episódio 8x09 vi que não teria nada de bom mais dela.

Lembro de Mary-Louise Parker dizendo que chorou ao ler o roteiro do final. Bom, eu também chorei. Chorei lágrimas de amargura. Oito anos de Weeds, oito anos de Botwins para... isto. Não chego a desejar que a série nunca tivesse existido. Nancy Botwin marcou demais para ser desonrada assim. Mas se tivesse um jeito de voltar no tempo e fazer um final digno para esta família eu voltaria sem dúvida. É quase inacreditável o quanto Jenji Kohan massacrou sua própria obra-prima.

Adeus, Weeds. Adeus com um grande pesar.


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