O desafio de se manter humano.
Muitas séries, quando chegam em sua temporada final, apostam em uma trama completamente diferente à que estão habituadas. É arriscado, porém muitas vezes necessário. Quando se é uma série com uma audiência tão exigente como a de Fringe então, a inovação é crucial. Neste 5x02, principalmente, a série provou ter abandonado de vez o passado para contar uma jornada completamente nova no futuro e vejo que isso não agradou à todos.
Nos últimos dias tenho lido comentários de pessoas que consideram essa mudança radical como algo negativo. Não as culpo, é claro, por sentirem falta de alguns fatores, como a interação dentro do laboratório, o lado B e até os casos semanais. E não se enganem, também sinto falta de todos estes aspectos que fizeram de Fringe parte do que ela é hoje. Porém, a ambientação no futuro e os dramas que o roteiro de J.H. Wyman tem esmiuçado com maestria me atraem tanto que não tenho como dizer que esta temporada esteja menos interessante do que qualquer outra em qualquer universo. Dito isso, vamos ao episódio...
"In Absentia" é uma excelente continuação para a season premiere. Ela repete a sequência de abertura arrepiante do 5x01, com um significativo diferencial: visão. Desta vez, é Olivia, não Peter, quem presencia os momentos do Expurgo. Vê sua filha sendo tirada de se mesma e Peter se esvaindo em meio a multidão de vítimas e médicos. Este enfoque particular faz completo sentido se considerarmos o fato de que Olivia, em breve, passaria a ser o cerne principal deste 5x02. Nele, é ela quem tem de lidar com a realidade do futuro, ser testada, manipulada e finalmente reconhecer que nada mais é como antes. É a sua vez, seu sonho, sua realidade e seu pesadelo.
Mas para que tudo isto ganhe a ambientação apropriada, retornamos ao laboratório de Harvard, onde confesso ter tido uma sensação de nostalgia inexplicável. Ver, depois um longo período, o local onde tudo aquilo começou, onde investigamos cada caso, acompanhamos experimentos que romperam os limites da Física e até presenciamos overdoses de LSD, me fez sentir pela primeira vez nesta temporada a dolorosa sensação de vazio, a de que não veremos mais nada daquilo em breve. "Tanto aconteceu aqui e tanto ainda esta para acontecer", Walter não poderia ter estado mais certo quando pronunciou tais palavras no piloto da série.
Mas como em Fringe o lema é acreditar nas impossibilidades, o plano para salvar a humanidade dos observadores ainda continha uma última esperança, as fitas fragmentadas. Engraçado pensar que os roteiristas da série fazem conosco o mesmo que Walter fez a se mesmo. Escondem pequenas pistas ao longo da temporada, colocam-nas em lugares tão complicados quanto um âmber, mas no final das contas torna-as possíveis de serem reunidas para que possam completar um todo. É por isso que, assim como Walter, precisamos acreditar que no final tudo fará sentido.
Além disso, "In Absentia" trouxe-nos uma tour excepcional pela ala de ciências médicas dos observadores, recheada de cérebros in vitro, experimentos em cobaias vivas e até mesmo o conhecido processo de reanimation. O que não esperávamos era ver Simon de volta nos presentando com a cena mais chocante de Fringe desde a reanimação de Jessica (Rebbeca Mader) e seus olhos revoltos em "Brave New World Part 1".
Ver tudo isso só nos faz compreender o comportamento de Etta que, diferente de Olivia, não mostra-se misericordiosa ou manipulável. Ela é impulsiva, racional, hardcore e de tão habituada a lidar com legalistas e torturá-los, acabou tornando-se de certo modo desumana. O mais interessante de tudo isso, é ver que Fringe tem explorado não apenas o quanto os observadores trouxeram, mas também o quanto levaram. E a justiça, por enquanto, encontra-se apenas nas poucas palavras de Peter que promete a filha: "eles irão pagar pelo que fizeram".
Antes de finalizar, gostaria de pontuar: sim, Fringe mudou, porém assim como um alcaçuz de uva que continua a ser um alcaçuz, a série continua a ser igualmente excepcional.
A propósito, faltam apenas 11 episódios!
Antes de finalizar, gostaria de pontuar: sim, Fringe mudou, porém assim como um alcaçuz de uva que continua a ser um alcaçuz, a série continua a ser igualmente excepcional.
A propósito, faltam apenas 11 episódios!
Easter eggs (Yatzee!)
Começando nossa rodada de easter eggs por uma referência, notem que no momento em que Peter e Walter abrem a entrada do túnel que os leva ao laboratório de Harward, o enquadramento da cena é idêntico ao da season finale da primeira temporada de "Lost" em que Lock e Jack olham para o túnel escuro logo após abrirem a escotilha.
Outra referência clara à Lost são as filmagens feitas por Walter dando instruções de como encontrar as fitas que formariam o plano para destruir os observadores. Essa é uma alusão a fita de "Orientation" da estação Dharma apresentada pelo Dr. Candle na segunda temporada e que foi encontrada pelos sobreviventes, coincidentemente ou não, dentro da escotilha. Juntando este fato à imagem de Peter e Walter emoldurados da mesma maneira que Lock e Jack, fica claro que os roteiristas quiseram fazer do laboratório uma grande referência à Estação Cisne de Lost. Ficou com vontade de relembrar a fita de Orientation? Reveja a seguir:
Ao contrário do que muitos acham, as cenas que abrem o primeiro e segundo episódio dessa temporada não são absolutamente idênticas. Há pequenas diferenças nas sequências que acredito terem sido propositais, talvez, para dar um significado além da nossa compreensão ou apenas colocadas para testar o público. A primeira delas é visível, a cor da camisa de Peter que no 5x01 aparece cinza e neste 5x02 já encontra-se marrom.
A segunda delas é a toalha de piquenique usada por Olivia e Peter, a qual no 5x01 aparece vermelha e já neste 5x02 surge como verde. Curioso, não?
Outro detalhe interessantíssimo são as marcas de mão, idênticas as do glyphs code, que surgem durante todo o percurso do túnel subterrâneo do laboratório de Harward. Claramente a mão não possui 6 dedos, porque se tivesse a divisão Fringe estaria olhando para outra direção, concordam?
O Gliphs code dessa semana soletra a palavra FAITH, que em português traduz-se como FÉ. A meu ver, a palavra refere-se a cena em que Etta confia nas palavras da mãe e liberta o prisioneiro. Naquele momento, é como se ela voltasse a acreditar, a ter fé na humanidade e seus valores. Além disso, devemos considerar a fita de Walter, que soa basicamente como uma mensagem de fé. Fé de que o plano funcionará, fé de que a humanidade prevalecerá e fé de que os observadores caíram de sua anistia.
Lembra-se do anjo que destaquei na review passada? Acabou que este era uma pista para o episódio desta semana que trás o Angel Device usado por Etta para torturar o legalista, veja:
Outro fato curioso é a reação dos guardas quando o legalista sequestrado fala para eles que o número 19 o mandou trocar alguns fusíveis. Tenho quase certeza que estes se referiam ao Capitão Windmark, o qual coincidentemente ou não foi introduzido no episódio 19 da quarta temporada. Além disso a senha de acesso ao prédio de ciências dos observadores era 01-05-67 que somados dão 19.
Até semana que vem e não esqueçam de deixar seus comentários. Acreditem, eles valem mais do que nozes.
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