Se você esteve preso dentro de um frizer por volta de 3 anos, com o cérebro congelado e longe de tudo e de todos, provavelmente se surpreendeu com o desfecho do episódio desta semana de "Dexter". Eu não.
É difícil gostar de um episódio que se dedica inteiramente ao seu desfecho, quando este move peças vagarosamente para dar o fatídico xeque-mate e impactar somente nos minutos finais. É ainda mais difícil quando o xeque-mate é apenas falho e este panorama, encaixa-se perfeitamente em "Get Gellar".
Acredito que na cabeça dos roteiristas, a revelação de que Gellar estaria morto e fazia parte unicamente de um conflito interno de Travis (como Dexter e Bryan) seria a rainha da partida de xadrez. Porém, não foi. É comum isso ocorrer quando o roteiro subestima o telespectador. Dexter tem um público inteligente, que teoriza e se acomodou a fórmula que a série tem seguido nestes 6 anos. Por isso fica fácil prever jogadas como esta, quando tantas evidências (o desaparecimento de Gellar por 3 anos, sua falta de contato com qualquer pessoa até mesmo em locais públicos e Bryan) estavam na cara, só esperando para ter os pontos ligados.
Apoiei a idéia, somente não gostei do modo como a revelação foi dada, como se fosse o grande trunfo do episódio e pior, único. Também fiquei no desagrado com a visão que tivemos de Dexter. O protagonista que sempre foi visto como uma mente brilhante e cauteloso esteve na maior parte do tempo caminhando em círculos à procura de um fantasma que somente existe na cabeça de Travis. Pela primeira vez, uma temporada não me faz rir dos comentários sarcásticos do protagonista que sempre foi um dos personagens mais carismáticos da televisão americana. Agora só consigo torcer para que a polícia capture-o.
Falando de tramas incongruentes, eis Batista e Quinn gastando tempo em excesso em tela para um plot que a meu ver, não faz sentido. Não entendo a intenção dos roteiristas em aproximá-los, muito menos de tentar fazer dos dois os novos Didi e Dédé à procura de uma arma perdida, mas confesso que ri imaginando a pegação dele com aquela quenga velha (por gentileza).
Já a irmã de Batista parece ter importância maior a trama se tratando da venda da Mão do ITK. Pareceu levemente forçado as constantes descrições de Masuka do seu lab-geek/estagiário, como forma de seta dos roteiristas dizendo: "ele é um nerd que coleciona coisas". Não precisava de muito para ligar os pontos, certo?
Por falar em pontos, vamos as suturas e o banho de sangue a que nos foi presenteado neste episódio. Até o momento a armadilha da Taça foi a mais divertida, se me permitem o humor mórbido.
Gostaria de ressaltar também que os pontos que impedem que as feridas de Deb se abram começam a se soltar. Gosto da recente introdução da terapeuta como um recurso narrativo que levará a trama a diminuir a distância de Deb para o descobrimento do passageiro sombrio de Dexter. E o roteiro sabe como brincar com o perigo, deixando tudo mais interessante.
Porém, é difícil dizer que a coadjuvante mais importante da trama vá descobrir o segredo do irmão antes da temporada final. Afinal, Dexter - a série - é como uma cadeira, teremos temporadas que continuarão sendo histórias quase isoladas e que terminarão sempre com a morte do antagonista e um novo passo na vida do protagonista. Não podemos pedir para que Dexter vire uma mesa, inverta o plano geral da série e entregue a revelação agora. Mas é pedir demais que algo mude nossa perspectiva? E, principalmente, que mude a previsibilidade de que ano após ano, tudo acabará bem? Ou alguém duvida de que Dexter matará Travis?
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