Inspirado, J.J. Abrams ajudou James Bond a escapulir das telinhas do cinema e pular para a grade de séries da CBS. Agora é a hora de muito chute, soco, pontapé e tiro ter seu lugar na televisão.

Milhares de personagens do cinema e da TV têm sua cota "Jamesboniana". No fundo, no fundo, (às vezes nem tão no fundo assim), de Jason Bourne a Jack Bauer, as referências ao famoso agente britânico sempre acabam aparecendo.

O mesmo acontece com Person of Interest, uma série onde os protagonistas usam as habilidades, que ora pertenciam a M. e James Bond, para encontrar possíveis vítimas ou criminosos antes que o crime aconteça. Mais especificamente, uma máquina criada, (a pedido do governo), por Harold Finch (Michael Emerson), detecta o CPF de pessoas que podem estar em, ou causar, perigo. Harold, que tinha a intenção de fazer sua máquina pesquisar apenas atos terroristas, fica, inicialmente, sem saber o que fazer com os "crimes irrelevantes". Depois de procurar alguém com capacidade para impedir que o pior acontecesse, ele encontra John Reese (Jim Caviezel), um ex-soldado.

O relacionamento entre Finch e Reese é uma das melhores coisas na série. Obviamente que Reese reluta, no início, em aceitar a proposta de emprego que o bilionário Finch oferece. Mas depois acaba convencido e os dois formam uma excelente dupla. Eles também possuem dois fatos em comum: ambos estão 'oficialmente mortos' e ambos perderam alguém muito importante.

Enquanto trabalham juntos, uma amizade, meio que sem querer, se desenvolve entre eles. Finch sempre repete que é muito reservado e que Reese deve parar de pesquisar sobre ele. Mas o funcionário sempre teima com o patrão, e usa até perguntas inocentes para descobrir mais sobre o chefe. Isso, sem dúvida, é uma ferramenta que o roteiro usa para dar um alívio cômico para a série. E, claro, dá muito certo. A química entre os atores é excelente, e a cara de espertinho de Reese diante de Finch é impagável. Um dos melhores momentos nesse plot acontece quando John "aconselha" Harold a fazer exercícios para manter o pique. Harold, óbvio, finge que não escuta, mas assim que fica sozinho vai para o chão fazer flexão.

Ao ler críticas sobre a atuação de Caviezel, encontrei adjetivos como "fodão" e "exagerado". É preciso que fique claro que, numa série Jamesboniana, tudo gira em torno da absoluta certeza de que o protagonista sempre sairá ileso. Logo, dizer que ele 'só sabe fazer cara de fodão' não faz o menor sentido. É claro que também há espaço para sua humanidade, o que Person of Interest vem fazendo ao mostrar a presença - e a ausência - de Jessica na sua vida.



Carter é a personagem que entra para representar a lei indo atrás da dupla Finch-Reese. Ela já mostrou que é (bastante) teimosa e que não vai parar de investigar o "homem de terno", mesmo que ele seja um assunto federal - assunto bem além de sua alçada. Outro coadjuvante importante é Fusco, o policial corrupto que se tornou os 'olhos e ouvidos' de Reese dentro da polícia. Como Finch avisou para seu empregado (ou parceiro?), Fusco é como um animal de estimação que vive esperando o melhor momento para morder. Ele pode até tentar... e já tentou. Mas assim como Carter não vai chegar a John tão cedo, Fusco não vai conseguir se livrar da coleira apertada que está marcando seu pescoço. John já tratou de domá-lo muito bem.

A série segue o formato de caso semanal, mas não abre mão do típico vilão da temporada. Isso, no entanto, passa longe de ser clichê. Os casos apresentados são sempre muito interessantes, e às vezes servem para mostrar uma trama relativa a algum dos protagonistas.

Falando na trama dos principais, vale destacar alguns pontos. No 1x02, Ghosts, foi mostrado o sócio que Harold tinha em 2002, quando estava construindo a máquina, e que ela previu a morte de Jessica. No 1x03, Mission Creep, vimos que Jessica e John provavelmente estavam separados quando ela morreu. O vilão-mor, Elias (que deve ter sido inspirado no Gus de Breaking Bad), foi introduzido no 1x07, Witness. Já o 1x08, Foe, revelou que "John Reese" é um pseudônimo e que, muito provavelmente, o assassinato de Jessica está ligado à antiga patroa dele.

Todos esse plots devem ser explorados nesta temporada, que já tem 22 episódios garantidos. Como já deu para perceber, Person of Interest não é uma série de "inovação", mas, para quem gosta de boa atuação, bom roteiro, boa trama e pitacos de James Bond na tela, ela é um prato cheio. Ela é também mais um grande exemplo da maestria de J.J. Abrams. Prometeu tudo o que cumpriu e não decepcionou em nenhum episódio exibido.

Definitivamente, uma das melhores estréias desta Fall Season.


Vale lembrar que...

- A série se passa em New York.

- O nome "Person of Interest" pode ser traduzido em algo como "procurado". Ele foi usado para se referir a John no piloto da série, por uma repórter, depois da surra que ele deu em uns meninos num metrô.

- John descobriu que o patrão trabalhava na própria empresa como mero empregado, e ainda tinha que aguentar desaforo de seu "superior" (1x02 Ghosts). Mais que apressado, Harold pediu "demissão".

- Acredito que o juiz Samuel Gates, (1x05 Judgment), ainda deve dar as caras na série.

- Carter já encurralou Finch (1x04 Cura Te Ipsum), interrogando-o sobre o "homem de terno". Ótima cena entre os dois, com Finch se fazendo de desentendido...

- As referências a Elias começaram no 1x03, Mission Creep, quando a faca que matou sua mãe, Marlene Elias, foi roubada do depósito de evidências da polícia. A mesma faca foi usada para matar o assassino dela, no 1x06, The Fix.

- No 1x07, Witness, houve uma referência a um trabalho recente de Jim Caviezel. Quando John e Elias estão na casa do aluno deste, o jovem fala que está lendo "O Conde de Monte Cristo", e que Edmond (personagem do livro) é um sobrevivente e uma pessoa "legal". Nisso John olha para ele e ri. O ator Jim Caviezel interpretou Edmond no filme "O Conde de Monte Cristo" de 2002.

- Person of Interest volta dia 8 de dezembro com o episódio 1x09, Get Carter.

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